CAPÍTULO DEZ - ARBOGAST

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Ao som da música Algo Parecido - Skank

Eu estaria mentindo se dissesse que não estava com frio na barriga. Lembrei de um filme, que não me lembro o nome, mas que era sobre um cara que tinha um controle remoto parecido com aqueles da televisão, no entanto esse possuía uma habilidade diferente, podia pular as cenas da sua vida. Pois bem, eu estava ali, em frente a porta do apartamento da Angelina, tinha tocado a campainha, e naquela altura, ela sabia que era eu. Primeiro porque avisei que passaria lá a noite para conversar e segundo porque o porteiro avisou.

Ela abriu a porta com uma expressão que eu não sabia descrever. Eu entrei, com as mãos nos bolsos da minha calça jeans, meio sem graça. Está bem, muito sem graça.

Angelina sentou no sofá pequeno, cruzou as pernas e me olhou com uma cara que dizia "sim, comece a falar!".

Sentei no sofá grande, em uma posição que me permitia ficar de frente pra ela. Dei uma breve olhada a minha volta, procurando as palavras certas para começar a dizer. Aquele lugar era muito familiar, nos últimos meses eu estive ali inúmeras vezes. Angelina morava sozinha há 03 anos, no entanto, seus pais moravam no prédio do lado.

A decoração da casa transmitia perfeitamente a pessoa que estava sentada na minha frente. Havia fotos dela espalhadas pela parede e em cima das escrivaninhas. O estilo era elegante e fino. Eu sabia que ela havia planejado cada detalhe.

O silêncio era constrangedor. Como eu desejava ter aquele controle remoto...

- Então...- Comecei.

- Só um momento. - Seu celular vibrou e ela começou a responder uma mensagem. Isso me irritava.

- Desculpa, era um patrocinador. O que você dizia?

- Eu não havia dito nada ainda. Mas gostaria de te pedir uma coisa.

- Quer água?

- Não. Quero que você deixe seu celular por um momento, até concluirmos a nossa conversa. Ok?

- Leandro, fala sério, velho! Você está fazendo todo esse chilique por causa de ciúmes?

- Não é ciúmes...

- Então é o quê? Porque você fica todo irritadinho quando mexo no celular.

- Essa é uma das questões, Angelina, a gente não tem um diálogo decente, você não escuta o que eu digo, só quer falar de você...

- Está me chamando de egocêntrica?

Sim, eu estava, mas não poderia dizer isso.

- Não é isso, Angelina. O que estou querendo dizer é que para um relacionamento sobreviver precisa de diálogo, mas diálogo de verdade, conversa significativa, e isso nós não temos. Você só se preocupa com roupa, viagens, instagram, seus patrocinadores...

- Ué, você faz a mesma coisa que eu, não estou entendendo.

- Quando estou com você, não fico mexendo no celular, não fico só falando de redes sociais ou de dinheiro. Gosto de saber sobre seus sentimentos, sobre você...

- Me poupe! - Cruzou os braços.

- Está vendo, essa sua atitude...

- Sinto muito, Leandro, não posso mudar quem eu sou. Eu sou assim, gosto de redes sociais, amo falar de roupas, de dinheiro, de pessoas, essa sou eu.

- Eu sei disso. E não quero que você mude sua essência por causa de mim.

- Então pronto, pare de besteira e vamos ficar de boa - ela foi até mim - gosto de estar com você - tentou me beijar, mas virei o rosto.

Um Certo ArbogastOnde histórias criam vida. Descubra agora