CAPÍTULO UM - DRIKA

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Ao som da música Say You Won't Let Go - James Arthur Cover by Tanner Patrick 

06 meses antes


ERA um domingo normal. Acordei por volta das 11h e fui direto ao banheiro tomar um longo banho para despertar. Na noite anterior resolvi fazer uma maratona na Netiflix vendo os episódios da série "Ponto Cego". Eu estava viciada nessa série. Na última semana eu havia finalizado a primeira temporada e agora já estava na metade da segunda temporada. Meu Deus! Eu sei que eu devia estar estudando para concurso público, mas eu estava tão cansada da rotina que para relaxar o melhor era ficar na cama comendo pipoca e desvendando os mistérios das benditas tatuagens da personagem central. Aquilo era tão interessante! Ficava me perguntando como que os roteiristas tinham tanta criatividade.

Desde pequena eu escrevo histórias, mas nada tão bem elaborada e mirabolante como as séries que vejo por aí. Na verdade, amo escrever histórias de amor. É tão bom! É como se fosse uma terapia para mim. Afinal, através das palavras posso viver várias vidas e viver vários romances de tirar o fôlego.

Diversas vezes, durante as aulas chatas do ensino médio e da faculdade, eu pegava o caderno e escrevia sem parar. Os professores, tadinhos, acreditavam piamente que eu estava prestando atenção e anotando para não esquecer. Ainda bem que nunca pediram para olhar meu caderno. As minhas amigas ficavam rindo, pois sabiam da verdade.

Escrever é uma grande oportunidade de sentir o poder de direcionar os acontecimentos do jeito que quero. O que é bem diferente da vida real. Seria tão bom se pudéssemos direcionar nossa vida para acontecer exatamente como planejado. Mas a vida não permite ensaios. Planejar é possível e bem-vindo, agora garantir que acontecerá conforme planejado é o grande desafio.

- Mana, vou almoçar no shopping com a Rebeca, que ir com a gente? – meu irmão Éric perguntou assim que eu sai do banheiro.

- Eita, a mãe não fez almoço?

- Fez...mas é bucho! – ele fez uma careta engraçada e eu também.

- Eco! Vou me vestir e a gente vai. – minha mãe nasceu no Piauí, então imagina, fui criada comendo coisas que não são tão comuns. Algumas eu gosto, outras, como é o caso de bucho e sarapatel, eu não sou fã. Nasci em Brasília e moramos em Taguatinga desde quando me entendo por gente. O Bairro em que fica nossa casa é bem tranquilo, no quesito violência. É perto do centro da região o que significa próximo das lojas, padarias, parada de ônibus e também os barulhos de buzinas e do comércio com seus carros de sons.

Meu irmão Éric tem 19 anos e namora a Rebeca que tem a mesma idade dele. Eu sou um pouquinho mais velha que ele, acho que a diferença é por volta de 8 anos. No meu quarto, coloquei uma música da banda Melim para tocar enquanto eu me vestia. Resolvi usar uma calça jeans e uma blusa de alça por causa do calor; em seguida amarrei o cabelo em um rabo de cavalo. Até pensei em passar uma maquiagem de leve, mas desisti. Eu estava gorda mesmo, ninguém ia reparar em mim e não seria hoje que eu encontraria o meu príncipe encantado. (Lá no fundo eu tinha uma esperança de estar errada e de ser surpreendida pela vida. Imaginei esbarrando em um deus grego que derrubaria minha bandeja de comida com seus bíceps bem definidos e a partir daí olharíamos intensamente um para o outro, ele, super envergonhado pelo ocorrido, pagaria meu almoço e depois de algumas conversas e várias trocas de olhares, o gatão pediria meu número).

- Já está pronta, Fiona? – Odeio quando o Éric me chama assim.

- Estou, seu chato! – Revirei os olhos – da próxima vez bata na porta antes de entrar, já imaginou se eu estivesse pelada?

- Seria a verdadeira visão do inferno, se ele existisse! – Gargalhou.

- Não achei graça! – Mentira, eu estava rindo por dentro. Essa tirada havia sido boa.

Um Certo ArbogastOnde histórias criam vida. Descubra agora