CAPÍTULO DOZE - ARBOGAST

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Ao som da música Zade - Banda OutroEu

Quem diria que depois de uma noite bem longa, revirando na cama de um lado para o outro sem conseguir dormir, eu me sentiria tão bem no início daquele dia. Encontrar a Andréa foi como retirar toda coisa ruim do meu coração por causa do término com a Angelina. Eu pensava em término, mesmo sabendo que não havia sido um namoro. Mas eu estaria mentindo se dissesse que não havia me apegado emocionalmente. Mesmo quando não amamos alguém a convivência nos faz sentir uma ligação e quando nos afastamos é como se cortasse esse algo que nos conectava. O que nem sempre é agradável.

O sol já estava mais forte e o parque de Águas Claras estava mais movimentado. Andréa e eu fomos até o seu Manoel que vendia água de coco. Eu era um cliente fiel, sempre comprava com ele quando passava por ali.

- Bom dia, dona Andréa! - Seu Manoel a cumprimentou.

- Bom dia! - Ela respondeu. - Mas tira esse "dona" porque me faz sentir tão velha, eu tenho só 30 anos. - Sorriu.

- Eu achando que era o único que conhecia o seu Manoel. - Brinquei.

- Como assim? - Ela se virou para mim, sorrindo - o seu Manoel trabalha aqui tanto tempo, muita gente o conhece. Eu sempre compro água de coco aqui quando corro.

- Verdade. Obrigado pela preferência, inclusive - O vendedor agradeceu, cortando a ponta do coco, entregando-o logo em seguida à Andréa com um canudo.

- Bah! Eu esqueci que você mora por aqui. Como a gente nunca se encontrou? - Cocei a minha cabeça, intrigado com a coincidência.

- Talvez tenhamos nos esbarrado, mas como não nos conhecíamos nem prestamos atenção um no outro.

- Impossível! - Rebati, pegando o coco pelas mãos do seu Manoel que me olhou engraçado.

- Por que impossível?

- Deixa para lá. - Peguei minha carteira para pagar.

- Eu pago o meu.

- Negativo. É por minha conta.

- Obrigada, cavalheiro!

Nos despedimos do seu Manoel e fomos sentar no banco de madeira próximo dali. Andamos lado a lado e em alguns momentos nossos braços se encostaram e eu senti vontade de acariciar seu braço...

- Você me deve duas respostas! - Ela disse assim que sentamos.

- Só duas? - Sorri.

- Por enquanto sim.

- Quais são elas? - Eu não me lembrava de verdade.

- Primeiramente, por que você disse ser impossível termos nos visto antes?

- Por que você é bonita demais para eu ter visto e não me lembrar.

Ela ficou visivelmente envergonhada e confesso que eu também. Não queria parecer um conquistador barato. Mas eu estava sendo sincero.

- Obrigada! - Ela umedeceu os lábios.

- E a segunda?

- A segunda era para ser a primeira, mas eu inverti. - Sorrimos e ela continuou - Você não me disse o porquê estava tão pensativo quando te encontrei. Não era apenas por causa da música.

Eu respirei fundo antes de responder, lembrando da noite anterior.

- Pensando bem, se você não quiser responder, não há problema...Não quero ser inconveniente...- Ela deve ter dito isto por causa do meu silêncio.

Um Certo ArbogastOnde histórias criam vida. Descubra agora