CAPÍTULO ONZE - DRIKA

42 7 44
                                    

Ao som da música Say You Won't Let Go - James Arthur

Expliquei brevemente onde eu morava e o Rafael disse saber como chegar. Meu celular havia descarregado o que significava que não daria para eu me entreter no aparelho para disfarçar o meu nervosismo. Ao mesmo tempo em que eu desejava conversar com ele, eu não queria. Meu Deus! Ele ia perceber como eu era desajeitada e qualquer esperança de ter algo, digo, qualquer esperança de me achar uma professora séria, iria por água abaixo. Se bem que depois do mico que passei na esteira a minha seriedade já estava na lama.

Ele ligou o som do carro, o que achei desnecessário, pois logo chegaria na minha casa. Se bem que ele poderia continuar a escutar música na volta. No fundo eu tinha medo de ficar um clima diferente no carro. Sabe quando uma música marca um momento e quando você a ouve séculos depois consegue se lembrar da pessoa? Era esse meu medo. Para a minha tristeza a música do James Arthur começou a rolar.

- Amo essa música! - Eu disse, olhando para ele.

- Eu também! - Ele manteve os olhos fixos na estrada.

Ficamos em silêncio, mas não daqueles constrangedores. O que eu temia havia acontecido. Nunca mais conseguiria escutar aquela música sem lembrar dele. O olhei de canto de olho e contemplei a sua beleza. Os bíceps bem definidos se contraindo a medida que ele girava o volante. Aqueles olhos negros concentrados no percurso. Seu rosto mantinha uma expressão segura e divertida. E aquela barba? Vontade de...

- "I'm so in love with you, and I hope you know" - Rafael cantarolou essa parte da música em inglês. Meu coração quis sair pela boca. Será que foi para mim? pensei imediatamente.

- Você mora sozinha? - Ele perguntou, me olhando brevemente.

- Não, moro com meus pais e meu irmão caçula. - Respondi, olhando para a paisagem pela janela. Baixei um pouco o vidro do carro para ventilar, pois estava muito quente.

- Seus pais se importam de você chegar tarde?

- Não - sorri - eu não sou mais uma adolescente. Eles são preocupados, mas não são aquele tipo de pais que ficam no pé dos filhos. Se bem que minha mãe é um pouco exagerada nas preocupações. - Revirei os olhos. - Mas ainda nem são 22h, acho que está cedo...

- É que você vai chegar um pouco depois das 22h.

No começo eu não havia entendido o que ele queria dizer, mas depois percebi que a rota não era a mesma da minha casa.

- Hoje é uma boa oportunidade para te pagar aquele açaí.

- Rafael, eu não esperava isso...

- Eu sei, se eu te chamasse você poderia inventar algumas desculpas, então tomei a liberdade de te surpreender.

O danadinho estava certo. Se tivesse sugerido tomar açaí eu não teria aceitado. Eu só estava ali com ele porque precisava da carona e visto que ele havia insistido não poderia fazer uma desfeita. Não queria, de forma alguma, confundir as coisas. Afinal, eu era ótima para idealizar romances que nunca se tornariam realidade, por isso eu geralmente escrevia, era mil vezes melhor do que criar expectativas e ser decepcionada.

- Espero que não fique chateada comigo. - Ele continuou.

- Você tem sorte que eu gosto de açaí, caso contrário, você estaria frito. - Sorrimos.

Chegamos na lanchonete Açaí Artesanal, descemos do carro e fomos caminhando lado a lado até escolhermos um lugar próximos a um jardim, do lado de fora. O atendente veio e nos entregou o cardápio. Lembrei de ter visto vários outdoors espalhados pela cidade fazendo propaganda desse lugar, pois tinham um novo conceito de açaí, sem adição de açúcares, leite condensado ou outra coisa que o deixasse muito calórico. Em vez disso, colocavam 3% de xarope de guaraná e o cliente podia escolher castanha do Pará, castanha de caju, morangos, bananas, hortelã e outras combinações exóticas e naturebas.

Um Certo ArbogastOnde histórias criam vida. Descubra agora