Capítulo 1

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O céu estava sem nuvens, num azul claro e imaculado que os pintores usam para retratar o verão em suas telas. A brisa suave agitava as flores. As montanhas apareciam enevoadas pela distância. Um cheiro de mar, flores e grama no ar. Com um suspiro, S/N debruçou-se na sacada e ficou olhando a paisagem magnífica.

Fora realmente na véspera, de manhã, que ela acordara no cenário de aço e concreto de Seoul? Que saíra correndo para apanhar um táxi para o aeroporto? Um dia. Parecia impossível ir de um mundo para outro em apenas um dia.

No entanto, ela estava ali, admirando, da sacada daquela bela vila, a vista da ilha de Lesbos. Não mais vento gelado da Coréia nesta época do ano, e sim o sol esplendoroso da Grécia. Aquela quietude, todo aquele sossego formava um vívido contraste com a verdadeira loucura das ruas intransitáveis de Seul. "Se eu soubesse pintar", S/N disse para si mesma, "retrataria esta vista e a chamaria Silêncio".

S/N: Entre - respondeu, quando bateram na porta.

Mais um longo suspiro e voltou-se, relutante.

Lisa: Muito bem! De pé e já vestida.

Era sua amiga Tailandesa que entrava impetuosamente, seguida por uma empregada com uma bandeja nas mãos.

S/N: Serviço de quarto? - ela sorriu, enquanto a mulher descansava a bandeja sobre a mesa de vidro. - Vou começar a nadar em luxo, a partir deste momento. - Aspirou com prazer o aroma vindo das travessas que a moça acabava de destampar. - Não quer me fazer com­panhia, Lisa?

Lisa: Apenas num cafezinho. - ela instalou-se numa ca­deira, ajeitando o robe de seda, e então contemplou lon­gamente a mulher sentada à sua frente.

Soltos e de um tom que mesclava o Castanho bem escuro e o castanho-claro, os cabelos desciam em leves ondas até o fim das costas de S/N. Os olhos, grandes e de um lindo tom avelã, ressaltavam no rosto delicado, que era ainda mais chamativo devido à boca carnuda. Um rosto digno de figurar em capa de revista; isto é, se algum dia S/N tivesse paciência para se deixar fotografar. O que ela precisava agora, Lisa pensou, fitan­do a amiga com olhar clínico, era de um pouco de cor. Nada que não pudesse ser resolvido com alguns dias sob o sol da Grécia.

Lisa: Até que enfim, S/N. Mal posso acreditar que você esteja aqui.

S/N: E agora que cheguei não posso compreender por que custei tanto a aceitar o seu convite. Efxaristo - acres­centou, quando a empregada despejou café na sua xi­cara.

Lisa: Exibida - ela retrucou, com pouco-caso. - Sabe quanto tempo demorei a aprender um simples "olá, como vai?". Era tudo grego para mim. - Riram-se do trocadilho e ela então prosseguiu: - Três anos casada com Yoongi, vivendo em Lesbos e Atenas, e ainda titubeio para falar nessa língua complicada. Ele é como você, aprendeu rápido... mas eu... aish! Gomawo, Zena. - acrescentou em coreano, despedindo a empregada com um sorriso.

Lisa: O seu problema é que você simplesmente se recusa a aprender. – S/N deu uma dentada na torrada. Desco­briu que não estava apenas com fome, mas com um ape­tite voraz. - Relaxe e deixe a língua grega entrar na sua cabeça. Ficar falando coreano o tempo todo não ajuda, mi­nha cara.

Lisa: Isso é fácil para você, que sabe uma dúzia de línguas.

S/N: Cinco. - corrigiu ela.

Lisa: Cinco línguas são quatro a mais do que uma pessoa normal necessita. Eu agradeço por ter conseguido aprender coreano depois dos meus pais se mudarem pra coreia quando eu tinha 12 anos!

S/N: Não são muitas para uma intérprete. - ela lembrou-lhe, enquanto dava uma garfada nos ovos mexidos. - E, se eu não falas­se grego, você não teria conhecido o Yoongi, pois fui contratada por ele pra fechar o contrato que o trouxe até aqui, quando ele ainda não falava a língua. O destino é um fenômeno estranho e maravilhoso.

Paixão na GréciaOnde histórias criam vida. Descubra agora