Capítulo 6

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Estou me sentindo naquele filme com a Rachel McAdams e o Channing Tatum, que é baseado em uma história verdadeira e a moça perde a memória de quando conheceu o marido.

É tão desesperador quanto.

E eu xinguei mentalmente Rachel por não dar uma chance a Channing logo no início, estava torcendo para que ficassem juntos e felizes logo. Agora a entendo, não é como se tivesse sobrado qualquer vestígio de amor aqui por Gabriel. Eu o vejo como uma pessoa qualquer, não meu marido. Não dá para simplesmente amá-lo da noite para o dia, porém, se eu der uma chance, pode ser que consiga. Uma oportunidade de ver melhor o que ele é e como me faz bem.

Tipo me apaixonar de novo. Se funciona nos filmes e nos livros, ? E não é como se eu tivesse outro tipo de suporte ou um lugar para ir. O que eu faria da vida?

Acho que devo isso a mim mesma porque, no meu diário, apesar dos problemas, eu era bem apaixonada por Gabriel. O conflito estava em não termos um filho e no desgaste do relacionamento. E mesmo se quisermos uma criança, poderemos adotar. Há opções a serem consideradas, não preciso continuar neste limbo. Acho que as coisas se acumularam e acabei perdendo o controle.

Paulo falou que não costumamos sair muito, e é por minha causa. Estava escrito lá. Eu preferi me ausentar desses compromissos sociais, e meu marido respeitou essa decisão. Ele é companheiro. Assistimos a filmes e até lemos juntos. Isso é fofo.

E, sim, eu sou do tipo que acredita em príncipe encantado e amor para a vida, mas Gabriel superou todas minhas expectativas. Sério, pessoas tem defeitos irritantes, eu sabia que teria que conviver com manias de outro alguém, só que a coisa mais chata nele, até agora, é se preocupar em excesso. Deve mesmo ser sufocante em algumas horas, mas não parece que ele é possessivo ou qualquer coisa assim. Gabriel só está perto o tempo todo e, levando em conta o contexto, é sensato.

O que escrevi foi bem esclarecedor em vários sentidos. Fez com que eu me sentisse em contato comigo mesma novamente.

E é por isso que fiz um jantar especial para agradecer o que ele tem feito por mim. Sei que é o natural quando amamos, mas Gabriel cuidou de mim por todos esses dias e me respeitou de uma forma que me deixa grata.

Ao ouvir o carro dele sob as pedras, fico animada por ter companhia de novo. O portão da garagem abre e fecha. Alguns minutos depois, Gabriel entra pela porta, com o cabelo um pouco úmido e com cara de cansado.

Ele me vê parada, esperando-o, e sorri. É só isso o que faz todas as vezes que olha para mim: sorri.

— Você não fugiu. — Solta o ar, aliviado.

— Eu te prometi que estaria aqui. — Sua preocupação é boba.

E como eu poderia fugir se estou mole demais e está chovendo tanto que mal consigo sair de casa?

— Você não sabe como fico feliz com isso.

Gabriel tira o paletó e afrouxa o nó da gravata.

— Eu fiz o jantar — digo.

A surpresa em seu rosto não passa despercebida.

— Não precisava se esforçar. Eu poderia assar uma das pizzas...

— Eu fiz macarronada. — Ignoro. — E temos vinho...

— Que você não vai tomar por causa dos remédios. — Corta minha empolgação.

— Meu Deus, por que eu fui me casar com um médico? — Zombo.

— Com seu medo de hospital, acho que foi comodidade. Um médico em casa. — Brinca também.

[DEGUSTAÇÃO] Todas as Noites que Nunca AconteceramOnde histórias criam vida. Descubra agora