Capítulo 9

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Tenho roupas para costurar, e é como estar no paraíso.

Gabriel me trouxe tecidos e pedidos de Florencia, a moça que trabalha com ele. Ou para ele. Enfim, trabalho para distrair meus miolos esquecidos. Estou nisso a tarde toda.

Achei uma velha caixa de som em um dos armários, e creio que seja minha, porque há várias bandas que gosto. Aquelas desconhecidas.

Será que fazem sucesso agora?

Eu sempre formo uma lista mental de coisas para perguntar a Gabe, mas acabo me esquecendo quando ele chega, porque temos tanto a falar.

Ontem mesmo discutimos sobre nossas comidas favoritas. O paladar dele é extremamente amargo, até para bebidas. Ele gosta de café forte sem açúcar, gin e água tônica. Eu me arrepiei só de pensar. Sou uma formiga para doces.

Você é a única coisa doce que gosto na minha vida, Sarah.

Foi o que ele me disse.

Mas realmente quero saber mais do mundo atual, das notícias. Será que já tivemos contatos com extraterrestres?

Lifehouse ecoa pela minha sala, no último volume e partindo corações. O bom de não ter vizinhos é que ninguém pode reclamar de uma louca cantando a plenos pulmões como se tivesse sido traída.

Meu Deus, e se eu já fui traída? Essa é uma coisa que não sei se Gabriel me contaria. Ele seria capaz disso? Odeio não me lembrar.

Procuro por uma fita métrica e desenrolo o tecido florido em cima de uma grande mesa. Este lugar é um sonho para costureiras, tem tudo. Eva piraria. Será que ela já veio aqui? Outra coisa que preciso perguntar.

Estou tão concentrada na medida, que só percebo a presença do meu marido quando o som diminui. Ele olha para mim de um jeito meigo. Está escorado no batente, com os braços cruzados, usando apenas uma regata branca e jeans escuro.

— Não te ouvi chegar.

Ganho um sorriso de derreter qualquer iceberg. Ele estava aí há muito tempo? Não faço ideia.

— Vejo que achou sua caixinha de som — diz, entrando na sala. — Terapia musical, como você costumava dizer.

— Tem ótimas músicas aí.

— Completamente questionável essa afirmação. — Ri, discordando.

— Hey! — Semicerro meus olhos. — Como foi seu dia?

Gabriel ignora minha pergunta e estende a mão para mim, porque Hoobastank começa a tocar os primeiros acordes de The Reason.

— Eu amo essa música — comento, olhando ao redor, como se fosse possível enxergar o som.

A expressão dele me diz que sabe muito bem dessa informação. Mas o que ele não sabe sobre mim?

Assim que nossas palmas se tocam, sou atraída para perto dele e passo meus braços ao redor de seu pescoço. Relaxo e me aconchego em seu peito. Nunca poderia me cansar do seu cheiro. Não sei nem como pude esquecer, porque é maravilhoso, traz a sensação de força e segurança. Gabriel me segura como se sua vida dependesse disso, me embalando de um lado para o outro e sussurrando no meu ouvido.

Eu encontrei uma razão para mim. Para mudar quem eu costumava ser. Uma razão para começar de novo. E a razão é você.

Esse pedaço, de certa forma, nos define, porque somos a razão de recomeçarmos. E Gabe pensa o mesmo, porque afasta seu tronco e me encara. Por um segundo, acho que vai beijar minha boca, mas seus lábios pousam na minha testa e depois retornamos ao abraço.

[DEGUSTAÇÃO] Todas as Noites que Nunca AconteceramOnde histórias criam vida. Descubra agora