Capítulo 13

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Eu poderia deixar de lado essa minha fascinação e curiosidade, realmente poderia, mas quando encontrei um molho de chaves em cima da escrivaninha, a primeira coisa que pensei foi no quartinho das fotos.

E aqui estou eu, testando uma por uma, até conseguir abrir o cadeado e, então, a porta.

Tenho tempo até Gabriel retornar. Esse é o bom de plantões.

Assim que a chave se encaixa, giro-a e abro a porta com cautela. Está escuro, e mesmo correndo o risco de estragar as fotografias, eu procuro pelo interruptor e acendo a luz.

A sala é maior do que pensei e bem mais organizada também. Não é nessa parte que ele revela as fotos, porque não tem nada daqueles recipientes ou varais para pendurar, igual já vi na televisão. No fundo, há outra porta. Com certeza, é nela que todos os produtos estão.

Ando livremente, tomando cuidado para não tirar nada do lugar. Meus olhos vasculham o lugar arrumado, tentando achar qualquer coisa, mas sem saber exatamente o que buscam.

Há alguns armários com câmeras e lentes. Passo o dedo em vários calhamaços de medicina e fotografia, revistas sobre motos e até costura. Analiso as mesas espalhadas e, em uma delas, encontro fotografias Polaroid ao lado de uma espécie de livro grande.

Todas Nossas Noites.

É o que está escrito na capa negra, suspeito que feita à mão. É um álbum. Gabriel sabe que gosto de estrelas, então desenhou várias, e até uns planetas, tudo ao redor da silhueta de um casal. Nós, obviamente, mesmo que não se assemelhe muito. É lindo.

Abro-o e dou de cara com as fotos que ainda não vi. São velhas, mas, de alguma maneira, parecem novas. Elas estão em ordem cronológica. A partir de um ponto, começam as que temos tirado desde que acordei sem memórias. Cada uma delas tem uma legenda especial e comentários engraçadinhos. Nem percebi quando ele fotografou algumas. Seria assustador se não morássemos na mesma casa, porque realmente não sabia que ele estava por perto em todos esses momentos.

São várias: Eu esquentando a água, fazendo palavras cruzadas do jornal, lendo na mesa do quintal, colocando comida para os pássaros...

Uau.

É muita coisa.

E tem as que são nossas, naquele dia da feira.

Sorrio, passando a mão em uma delas.

Está tudo organizado como grande livro de colagens, com direito a molduras pintadas e recadinhos. É decorado por recortes e dobraduras de corações.

Na última folha, em uma carta fofa, descubro o que é isto: Meu futuro presente de casamento.

Sinto-me mal por estar espiando, Gabe claramente está escondendo isso de mim por motivos óbvios, mas como eu poderia evitar?

Fico feliz por ter um marido como ele. É apaixonante em cada coisinha que faz. Tento retornar tudo exatamente como estava, então sigo minha inspeção para a próxima mesa, a que está cheia de papeis e... Bingo.

A pesquisa de Gabriel sobre minha memória. Ou a falta dela.

— Inferno, ele lê em francês? — resmungo alto, pegando os artigos que estão por cima. — E que língua é essa?

Eu fiz um cursinho vagabundo de inglês, mas isso não me ajuda com esse vocabulário estranho. O espanhol é mais fácil, porém os falsos cognatos podem acabar com o entendimento. Encontro algo em português.

Tem um caderno cheio de informações também, parece que um estudo de caso. Meu prontuário e os exames do dia que desmaiei não acusam qualquer anormalidade devido ao trauma, mas, a julgar pelo resto do estudo, com certeza tem algum problema.

[DEGUSTAÇÃO] Todas as Noites que Nunca AconteceramOnde histórias criam vida. Descubra agora