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Março 2012

Eu tinha passado cerca de uma hora às voltas na cama a pensar em Harry, somente quando cheguei à conclusão que vivia numa realidade um pouco assustadora é que forcei o meu cérebro a parar e as minhas pálpebras a cederem.

Eu mantenho-me viva.

Mas somente ontem confrontei a realidade que não o fazia por mim, fazia-o pelas pessoas que me rodeavam e agora, principalmente fazia-o por Harry.

Eu mantenho-me viva por causa dele, mantenho-me viva no desejo de me poder encontrar nos braços dele, de sentir o conforto destes.

Mesmo que eu saiba que inevitavelmente este sentimento vá acabar e que tudo se irá desmoronar eu ainda me deito na esperança de no dia seguinte poder vê-lo, ver o seu sorriso e ouvir a sua voz.

Tenho a necessidade de viver, só para poder estar com ele e talvez este sentimento seja mais forte do que o sentimento de querer morrer.

Eu vivia por ele embora eu não fosse dele , embora ele não fosse meu...

Eu encontrava-me no balcão da cozinha enquanto ingeria sem muito apetite os cereais.

Ainda nem sequer amanhecera embora não faltasse muito para isso acontecer, mal acabei de comer peguei na taça e coloquei-a no lava loiça e em seguida peguei nas chaves do carro e sai fazendo o mínimo barulho.

***

Eu já conduzia por cerca de vinte minutos e já amanhecera, o rádio transmitia uma música e embora o volume estivesse baixo ainda me fazia confusão ouvir uma música tão agitada pela manhã.

"-Bom dia! São sete horas da manhã e está a começar um lindo dia em Londres, preparem-se para a chuva e não se esqueçam dos gorros, pois o frio vai fazer-se sentir..."

O Locutor de rádio gritou mal a música acabou, eu sorri ironicamente e desliguei o rádio rapidamente.

-Lindo dia... -Eu repeti para mim mesma.

Quando segundos depois o meu telemovel começou a vibrar no banco do pendura eu olhei para lá rapidamente não tentando tirar muito os olhos da estrada, peguei no telemovel segurando-o e atendi a chamada.

-Sim? -Eu falei enquanto verificava se o sinal estava efetivamente verde.

-Melanie, fala a doutora Saroyan... -Uma voz feminina disse.

-Bom dia doutora. -Eu disse ignorando completamente o facto de ela me ter ligado tão cedo.

-Bom dia Melanie, como está? -Ela perguntou.

-Bem obrigado. -Respondi não querendo saber como ela se encontrava.

-Melanie, era para confirmar se vem à reunião... -A mulher falou firmemente.

-Sim claro, dirijo-me para aí neste preciso momento, embora ache a reunião uma coisa prescindível...

-Melanie, a menina já sabe que a sua avó quer que esta reunião aconteça e como advogada da sua mãe e agora sua, eu não poderia recusar nem você...

-Está certo... -Eu confirmei começando a estacionar o carro perto de uma cafetaria.

-Bem até já menina Melanie. -Ela despediu-se e eu assenti esquecendo-me do facto de que ela não me poderia ver.

-E Parabéns Melanie, desejo-lhe as maiores felicidades. -Doutora Saroyan falou e desligou a chamada não me dando oportunidade de resposta.

-Pois claro. -Eu ironizei enquanto saia do carro e construia novamente uma armadura de sentimentos à minha volta.

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