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Dez minutos depois eu encontrava-me a estacionar o carro em frente à casa de Rosalie, quando sai dele e entrei no pequeno portão verde Rosalie abriu a porta e sorriu entusiasmada, eu sorri de volta.
-No teu carro ou no meu? -Eu perguntei e ela deu-me um encolher de ombros que me fez olhar para o horizonte eu e Harry é que costumávamos ter estes tipos de indecisões.
-Está tudo bem querida? -Rosalie perguntou.
Eu suspirei sentindo o meu queixo a tremelicar e uma espécie de picadas nas minhas pálpebras, como um choque electrizante corri pelos pequenos metros que me separavam de Rosalie e ela acolheu-me nos seus braços.
-Eu sinto-me tão sozinha, eu estou farta de estar sozinha Rosie.
-Oh querida! -Ela disse e beijou-me o topo da cabeça. -Tu não estás sozinha, eu estou aqui querida...
-O Harry foi-se. -Eu lamentei e Rosalie olhou-me ternamente.
-Já sabias que seres amiga do Harry tinha destas coisas...
Eu não queria explicar a Rosalie que a minha relação com Harry era muito mais do que só amigos, porém o facto de não ter ninguém começa-me a incomodar...
-E se fóssemos ao MacDonalds em vez do "La place" e afogássemos as nossas mágoas em gordura? -Ela sugeriu enquanto passava as suas mãos lentamente pelo meu rosto.
Eu acenei afirmativamente e com as mangas da camisola sequei as lágrimas que caíram por momentos.
Separei-me dos braços de Rosalie e dei de costas dirigindo-me para o carro dela, um pouco antes de atravessar o portão girei sobre os meus pés e abracei-a novamente com imensa força.
Senti o tecido do seu casaco a roçar no meu rosto e inspirei fundo enquanto absorvia a fragância do perfume de Rosalie.
-Obrigado. -Eu murmurei sem intenção que Rosalie ouvisse.
-Não agradeças querida. -Rosalie retribui o abraço e eu sorri.

***

-A sério, a felicidade não são dias, são pequenos momentos! -Eu gritei o meu ponto de vista por cima da música super alta enquanto ria.
Rosalie sorriu enquanto conduzia e comia uma fatia de tarte de maçã ao mesmo tempo.
-Pode ser, é possível. -Ela alegou.
-Não é! -Eu sorri e trinquei a minha tarte de maçã deixando um pouco do recheio cair em cheio nas minhas calças.
-Não me sujes os estofos Melanie! -Rosalie guinchou.
Eu ri e Rosalie prosseguiu com o seu ponto de vista:
-Imagina, no dia em que casei com Glenn senti-me feliz no dia inteiro.
-Plenamente feliz? -Questionei.
-Plenamente feliz! -Rosalie replicou.
-Mas não havia momentos em que o vestido te magoava nas maminhas? Ou que tinhas de ir à casa de banho? -Eu questionei.
-Havia. -Ela assentiu.
-Então não estavas plenamente feliz, alguma coisa te incomodava!
Rosalie olhou-me.
-É Bom saber que andas atenta nas aulas que tens na universidade...
Eu sorri e diminuí um pouco o volume do rádio.
Rosalie conduzia pelo meio de um caminho um pouco suspeito e depois estacionou perto ao rio.
Mal saímos do carro eu tornei a apertar o casaco até ao pescoço e coloquei imediatamente as mãos nos bolsos, o tempo ameaçava chuva e o frio fazia-se sentir mais do que algumas horas antes.
Eu encostei-me no capô do carro ao lado de Rosalie e ela sorriu e fechou os olhos enquanto aproveitava os poucos e fracos raios de sol que atravessavam as nuvens.
-Estás nervosa por ter assumido a empresa? -Ela questionou e eu suspirei.
-Eu não faço a menor ideia do que fazer com a empresa, não faço mesmo.
-Sabes o que é que eu acho? -Rosalie sussurrou.
-O quê?
-Amanha devias ligar a antiga assistente da tua mãe, tiravas um dia de folga da faculdade e ias para a empresa, ela iria dar-te todas as dicas que precisas.
-Ela está lá na empresa? -Eu perguntei.
-Não, já está reformada, mas penso que se lhe ligasses ela perdia uma semana para te ensinar tudo o que necessitas.
-Posso faltar à faculdade? -Eu questionei incerta.
-Apenas na próxima semana, se sei que faltaste mais do que isso em função da empresa vou-me chatear contigo.
-Está bem.
-Além disso vê se depois actualizas todos os apontamentos.
-Claro.
-E amanhã não entres na empresa como um cachorro perdido, entra com garra, a empresa é tua mas mesmo assim muitos deles lá conseguem ser rudes.
-Claro.
-Tu tens um piso só para ti, o último do prédio, lá só tens alguns gabinetes, e uma pequena receção onde está a Alice.
-Alice na recepção. -Eu repeti numa tentativa de me lembrar.
-O teu escritório é minimalista, porém enorme e todo em vidro, logo os empregados daquele piso conseguem ver tudo o que fazes dentro dele, a tua mãe fez isso numa tentativa de transmitir confiança e segurança aos clientes e empregados.
-Segurança. -Eu voltei a repetir.
-Tens uma única secretária que é enorme, o único lugar escondido no teu escritório é debaixo dela, só para se precisares de falar ao telemóvel ou assim, a empresa é tua porém sem trabalho não existe ganho.
-Sem trabalho não existe ganho. -Eu repeti numa tentativa de assimilar tudo.
-Não repitas tudo o que eu digo Melanie.
-Oh desculpa! -Eu pedi e Rosalie abraçou-me.
Rosalie foi dentro do carro e regressou com uma pequena chave.
-Esta chave pertence ao teu escritório, tens uma gaveta dentro da gaveta da tua secretária, sei que parece complicado, quando a abrires tens lá a agenda da tua mãe, liga para Miss Karplin, ela vai-te valer de muito Melanie. -Ela disse passando-me a chave.
-É a assistente? -Questionei.
-É. - Rosalie confirmou e eu sorri fraco guardando a chave no bolso das calças.
-Obrigado, por tudo... -Agradeci e Rosalie pousou a sua mão sobre a minha apertando-a.
-Já sabes...
Eu olhei-a e um silêncio reconfortante caiu sobre nós.
O rio passava lentamente, o único som que se ouvia era o de folhas nas árvores que eram remexidas bruscamente pelo vento.
A paisagem era imóvel à excepção das folhas e do rio a única coisa móvel ali era os carros que passavam a quilómetros dali, na ponte.
Rosalie tinha os braços cruzados perto do peito e respirava pausadamente, eu fazia o mesmo.
Distrai-me com o chão.
Não propriamente o chão, mas fiz um jogo mental para chegar à conclusão de quantas pedras e pedrinhas se encontravam por lá, perdi no meu próprio jogo.
Quando olhei para Rosalie algumas lágrimas dela caiam intensamente por terra, porém nenhum barulho se fazia ouvir, ela chorava silenciosamente como eu fazia, o que não me fez sentir assim tão fraca.
Eu cheguei-me para mais perto dela e descansei a minha cabeça no seu ombro, nenhuma palavra foi dita, ela simplesmente me beijou o topo da cabeça e passou o seu braço em minha volta.
Passados alguns segundos a cabeça dela pousou também sobre a minha, a sua respiração estava irregular.
-Eu também tenho saudades dela Melanie... -Rosalie confessou.
-Eu sei. -Era a única coisa que eu conseguia dizer naquele momento.
Lágrimas começaram também a correr pela minha face, eu não era a única a sentir-me assim, não era a única que estava fraca e de certo modo isso era reconfortante.

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