Anestesiada.
Anestesiada por novocaína.
Anestesiada por gelo. Não de uma maneira positiva – era mais o tipo de dormência que se sente quando suas extremidades ficam queimadas, um pouco antes de você começar a perder os dedos.
Sentados em total silêncio pelo que pareceram horas, Gonzalo e eu tentávamos assimilar o que era tão torturante e horrível que estava quase além da aceitação. Betty, a pessoa mais vibrante e cheia de vida que eu já conhecera, levara a cabo sua filosofia de viver cada dia como se fosse o último. A notícia abalou até mesmo a equipe médica, pois eu juro que passamos a ser tratados de modo diferente. Quando a enfermeira que veio aferir minha pressão ficou segurando minha mão depois de tirar o aparelho do meu braço. Até o funcionário administrativo que levou a minha alta deu tapinhas no meu ombro, de uma forma desajeitada e constrangida, com uma expressão de simpatia e condolência no rosto. Tive a impressão de que veria bastante disso nos dias seguintes. Depois que a equipe médica deixou meu quarto, Gonzi me ajudou a trocar de roupa. Encolhi-me quando senti o tecido raspar no sangue coagulado em minha pele. Eu só não sabia de quem seria o sangue.
Meu?
De Macarena?
Ou seria de Betty?
Que diferença fazia?
Para poupar tempo, Gonzalo se ofereceu para ir buscar na farmácia do hospital os analgésicos que me receitaram. – Não vou demorar – prometeu e me deu um beijo rápido logo abaixo da grande atadura branca colocada em minha testa. – Você vai ficar bem enquanto vou lá?
Balancei a cabeça com tristeza, e tudo o que ele pôde fazer, em resposta, foi assentir.
A sensação era de que nada nem nenhum de nós jamais ficaria bem de novo, ambos sabíamos disso. E eu tinha a forte suspeita de que no momento em que deixássemos os limites do hospital, a situação ainda pioraria bastante, em vez de melhorar. Houve uma leve batida na porta, e uma jovem enfermeira a abriu o suficiente apenas para passar a cabeça pela abertura. Imaginei que ela estivesse ali para me dizer que o táxi que tínhamos pedido havia chegado, mas, em vez disso, ela me surpreendeu com as palavras: – Tem uma visita, Srta. López. Não estamos no nosso horário de visitas, mas... dadas as circunstâncias especiais...
Ali estava novamente: o tratamento VIP reservado a quem passava por uma tragédia.
Não havia nenhuma honra em ser membro desse clube.
A enfermeira se afastou a fim de permitir que minha visita entrasse no quarto.
Macarena ficou um breve momento sem dizer nada, então suas primeiras palavras me fizeram desmoronar.
– Bárbara, eu sinto muito, muito mesmo.
Eu me esforcei para não perder o controle. Assenti com a cabeça, reconhecendo as palavras de solidariedade, mas, como se fosse uma cantora de ópera que estivesse prestes a interpretar uma ária, já podia sentir meus lábios começarem a tremer. Com um ruído que se iniciou como um soluço e terminou como o latido de um cão, novamente me vi nos braços de Macarena , enquanto as lágrimas, que não tinham caído na presença de Gonzalo, finalmente encontraram a rachadura na represa. Na verdade, não sou de chorar, nunca fui. Portanto, era ainda mais impressionante aquela mulher, que eu conhecia havia menos de doze horas, ter me consolado enquanto eu chorava como uma criança, mais vezes do que meu noivo nos últimos doze anos. Não ouvi Gonzalo entrar no quarto, embora eu já começasse a recuperar o controle no momento em que percebi que Macarena e eu não estávamos sozinhas. O primeiro sinal disso foi a voz fria de Gonzalo: – Bárbara?
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A Nossa História
ФанфикBárbara está prestes a se casar com Gonzalo, seu namorado por muito tempo. Ela não poderia estar mais empolgada. De repente... tudo muda. Ela é salva por uma estranha. Abalada, decide adiar o casamento. Nesse meio-tempo, Bárbara descobre segredo...