CAPÍTULO 28

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***

Eu estava nervosa quando retirei as sacolas de supermercado do carro e me encaminhei para a porta de Macarena. Aquela seria a primeira vez que a veria, desde a noite do nosso beijo – algo que ela parecia ter conseguido descartar por completo, mas que havia permanecido comigo durante todo o tempo em que eu estivera acordada a partir de então.

Ela abriu a porta com um sorriso franco e um pedido de desculpas.

– Oi, Bárbara – cumprimentou-me, e seus lábios se curvaram gentilmente quando ela disse meu nome.

Ela pegou as sacolas das minhas mãos e as colocou no chão do hall.

– Desculpe, estou falando com uma pessoa no Skype. Deixe essas sacolas e venha para a cozinha. Não vou demorar.

Fiz que sim com a cabeça, enquanto ela voltava para o quarto que fizera de escritório.

– Oi, querida, estou de volta. Desculpe a interrupção.

Senti como se uma lança me atravessasse, entrando pelas costas e penetrando direto até o coração, cortando vários outros órgãos vitais no caminho. Apoiei a mão na parede revestida de madeira, buscando me equilibrar. Não estava tentando bisbilhotar, não estava mesmo, mas como Macarena não fechara bem a porta, foi impossível não ouvir as palavras que se seguiram.

– Não, era apenas alguém chegando... não, só uma amiga. Bem, o que você estava dizendo?

Peguei as sacolas do supermercado e praticamente corri até a cozinha.

O que eu estou fazendo aqui? pensei, enquanto colocava as bolsas na mesa com tanta força que tive certeza de ter quebrado todos os ovos da caixa que comprara. Eu havia deduzido todo tipo de estúpidos significados ocultos no convite de Maca. Tive certeza de que ela inventara aquele artifício culinário maluco apenas como desculpa para passar mais um dia comigo. E agora, quando cheguei ali, ela estava na internet falando palavras doces com alguma mulher sem nome do outro lado do mundo. E era dolorosamente óbvio que, quem quer que fosse, ela gostava dela – estava claro no tom terno e amoroso que ela usara ao falar com ela.

Cheguei a ouvir algumas vezes traços dessa mesma voz quando ela falava comigo, lampejos fugazes de intimidade, o suficiente para reconhecê-la quando era dirigida a outra pessoa. Então por que eu ainda estava ali, parada em sua cozinha como uma idiota patética, usando minha calça jeans nova e a camisa branca (casual, não queria que ela pensasse que eu havia me produzido demais para a ocasião), esperando que ela se despedisse de uma mulher e então me desse alguma atenção?

Eu não merecia ser tratada daquela forma.

Não de novo, por ninguém, e certamente não por ela.

O conselho de Alajendra soou como um triste lembrete em minha cabeça. Bem, ela não precisava ter se preocupado, porque romance não era de jeito nenhum o que Macarena tinha em mente quando me convidou.

Parecia que a única razão de eu estar ali era preparar a porcaria do jantar.

Ela até me mandara direto para a cozinha!

Eu deveria simplesmente ir embora, pensei já voltando para o hall. Macarena ainda estava falando ao computador, e com sorte eu poderia abrir a porta da frente e correr para o meu carro antes que ela percebesse que eu tinha saído.

Dei mais um passo na penumbra do hall.

– Também estou com saudade, querida. Desta vez foi muito tempo longe, mas agora só faltam cinco dias.

A mulher que falava com ela da tela de seu laptop disse alguma coisa que eu não consegui entender, e Macarena respondeu com uma risada que ressoou baixinho.

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