CAPÍTULO 24

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Aquela tarde de sexta-feira, enquanto eu trocava as roupas de trabalho por algo mais adequado a uma visita ao lago, do lado de fora da minha janela o sol brilhava, e uma brisa agitava as árvores. Isso não é um encontro, disse a mim mesma, com firmeza, quando vestia uma calça preta e pegava a única peça de roupa que ainda não havia experimentado: um suéter de lã angorá com um profundo decote drapeado. Sua cor caía bem com os negros dos meus cabelos e destacava a minha pele. O calçado fora a única decisão fácil de tomar.

Decididamente, salto baixo.

Soltei o cabelo e ele caía em meus ombros. Havia acabado de aplicar uma camada de brilho nos lábios quando o carro parou na frente da casa. Meu coração começou a bater loucamente e minha boca de repente ficou seca. Era absurdo, mas eu me sentia como uma adolescente que se preparava para o primeiro encontro. Era estranho ver Maca no hall da casa dos meus pais, educadamente apertando a mão de papai. Ele ergueu os olhos e deu um sorriso caloroso ao ouvir que eu descia a escada – e quando seu olhar encontrou o meu, eu torci para que o ruído dos meus passos fosse alto o suficiente para mascarar o som da respiração presa na minha garganta.

Houve uma estranha sensação de colisão de mundos quando Macarena e meu pai se cumprimentaram. Aquele era um território novo e estranho para mim. Gonzalo fora como um membro da nossa família por tanto tempo que eu mal reconhecia a sensação de ansiedade e agitação por ver a minha vida familiar e a sentimental se cruzarem, e tudo o que eu podia fazer era torcer para que todos gostassem uns dos outros. No entanto, nem precisava ter me preocupado com isso. Maca foi charmosa, modesta e respeitosa quando meu pai, um tanto sem jeito, expressou sua gratidão já tardia a nossa visitante.

– Nós lhe devemos tudo – disse ele humildemente.

Todos nos viramos quando mamãe, que viera da cozinha, chegou em silêncio e parou ao lado de papai.

– Não há palavras que possam expressar adequadamente o nosso sentimento. Se não fosse por você, nós a teríamos perdido. Você salvou todos nós quando tirou Bárbara daquele carro.

– Foi um prazer.

O suave sotaque de Macarena fez sua resposta soar tanto calorosa quanto sincera.

– Ela significa o mundo para a mãe dela e para mim... – falou meu pai, engasgando de emoção.

– Pai – interrompi-o, achando sua franqueza com um completo estranho tanto comovente quanto inesperada. – Vai deixar Macarena constrangida se continuar assim.

– De jeito nenhum – interveio ela, com delicadeza, erguendo a mão e brevemente colocando-a sobre a minha, que estava apoiada no corrimão de madeira. – Entendo perfeitamente como vocês devem se sentir. Perder Bárbara seria inconcebível.

Fez-se silêncio.

Engoli em seco tão ruidosamente que tenho certeza de que os três ouviram.

– E esta é a minha mãe – falei, apressando-me a preencher o vazio com uma apresentação totalmente desnecessária.

Macarena lhe ofereceu a mão e, depois de um segundo ou dois de constrangedora hesitação, minha mãe estendeu a dela.

– É um prazer finalmente conhecê-la – disse Maca, dando um sorriso caloroso e genuíno. – Bárbara fala da senhora com tanto carinho que tenho a sensação de que já a conheço. Esperava mesmo pela oportunidade, antes de voltar para os Estados Unidos, de lhe dizer quanto admiro seu trabalho. Na casa que aluguei tem uma tela sua que é maravilhosa. Bárbara me disse que a senhora a pintou na França, e ela é, sem sombra de dúvida, uma das pinturas mais cativantes que já vi.

Aquelas palavras acertaram em cheio o coração de mamãe. Ela de repente pareceu relaxar na companhia de Maca – o que era algo particularmente incomum de acontecer com estranhos – e inflar de orgulho com o elogio.

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