XII - Em casa dos Zakhlebínin

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Os Zakhlebínin eram, de fato, "uma família muito decente", como se exprimira havia pouco Veltchanínov, e o senhor Zakhlebínin era um funcionário muito respeitável e bem visto. Também era verdade tudo o que dissera Pável Pávlovitch sobre os rendimentos da família: "Vivem bem, aparentemente, mas se o homem
morrer, ficam sem nada."

O velho Zakhlebínin recebeu Veltchanínov de maneira excelente, muito amigável, passando este de "adversário" a excelente amigo.

— Parabéns, foi melhor assim — disse logo de início, com um ar amável e solene — , eu próprio insisti nesse acordo amigável e, nesse sentido, o seu advogado Piotr Kárlovitch é uma jóia de pessoa. Portanto, vai receber cerca de sessenta mil, e sem problemas, sem demoras, sem conflitos! Se não fosse assim, o caso ainda se arrastaria por mais três anos!

Veltchanínov foi imediatamente apresentado também a Madame Zakhlebínina, senhora bastante obesa, com uma cara um tanto simplória e cansada. Foram também aparecendo as meninas, uma a uma ou aos pares. Eram em número excessivo: a pouco e pouco reuniram-se ali umas dez ou doze — Veltchanínov nem conseguia contá-las —, visto que também lá estavam muitas amigas, vizinhas das casas de campo. Na casa de campo dos Zakhlebínin — um grande prédio de madeira, de estilo indefinido, extravagante, com anexos construídos em períodos diferentes — constava também um grande jardim, aliás, um jardim comum a três ou quatro outras casas de campo limítrofes, o que contribuía, naturalmente, para a amizade das meninas com as jovens vizinhas. Veltchanínov percebeu, desde as primeiras palavras, que estavam à espera dele e que a sua visita, na qualidade de amigo de Pável Pávlovitch que ansiava travar conhecimento com os Zakhlebínin, tinha sido anunciada quase solenemente. O seu olhar penetrante e experiente depressa distinguiu, até, as facetas mais peculiares: a recepção demasiado amável por parte dos pais, o toque um tanto especial das meninas e dos seus vestidos (também era dia feriado) criaram nele a suspeita de que Pável Pávlovitch recorrera a uma manha qualquer, sendo muito possível que tivesse incutido aqui — por meios indiretos, claro — a conjectura de que ele, Veltchanínov, era um homem solteiro da "boa sociedade" que se aborrecia, com fortuna e muito, mas mesmo muito capaz de se decidir a "pôr ponto final" àquele modo de vida e assentar — "porque, ainda por cima, acabou de receber uma herança". Parecia que a Mademoiselle Zakhlebínina mais velha, Katerina Fedosséevna, a que tinha vinte e quatro anos e à qual Pável Pávlovitch se referira como sendo uma menina encantadora, estava disposta a manter este tom.

Distinguia-se das irmãs pelo traje e pelo penteado muito original do seu vasto cabelo. Quanto às suas irmãs e a todas as outras meninas, tinham aquele arzinho de quem já sabe que Veltchanínov se vinha apresentar especialmente "à Kátia", para "a ver". Os olhares delas, e até algumas palavras casuais, confirmaram a sua hipótese. Katerina Fedosséevna era uma loira alta, luxuriosamente rechonchuda, com um rosto muito simpático e, pelo visto, com um feitio meigo e pouco empreendedor, até sonolento. "É estranho que uma rapariga destas nunca mais se case — pensou involuntariamente Veltchanínov, observando-a com prazer —, embora sem dote, embora vá ficar demasiado gorda dentro em breve, existem bastante apreciadores deste tipo..." Também as outras irmãs, todas elas, não eram nada feias e, entre as amiguinhas, havia alguns rostos engraçados e até bonitos. A situação começava a diverti-lo. Aliás, entrara naquela casa com umas ideias...

Nadejda Fedosséevna, a sexta irmã, colegial e suposta noiva de Pável Pávlovitch, fez-se esperar. Veltchanínov aguardava com impaciência que ela aparecesse, do que o próprio se admirava, e sorria ironicamente para si. A menina apareceu por fim, com algum efeito, acompanhada por uma amiguinha viva e esperta, morena, com uma carinha engraçada, de quem, como ficou imediatamente claro, tinha muito medo de Pável Pávlovitch. Esta menina, Maria Nikítichna, dos seus vinte e três anos, zombeteira, espertalhona, era a preceptora das crianças pequenas de uns vizinhos, amigos da casa, sendo considerada desde havia muito como um membro da família Zakhlebínin; as outras meninas tinham-na em alto apreço. Era visível que, agora, a Nádia (9) precisava muito dela. Veltchanínov percebeu à primeira vista que tanto as irmãs como as amigas estavam todas contra Pável Pávlovitch e, dois minutos após a chegada de Nádia, chegou à conclusão de que a miúda o odiava. Reparou também que Pável Pávlovitch não se dava conta disso, ou não queria dar-se conta. Nádia, incontestavelmente, era a melhor de todas as irmãs: morena, com ar de pequena selvagem e com uma ousadia niilista; um diabrete manhoso com olhinhos flamejantes, um sorriso encantador, embora muitas vezes maldoso, uns dentinhos e uns lábios admiráveis, franzina, esbelta, com uma inteligência jovem a transparecer-lhe na expressão fogosa do rosto e, ao mesmo tempo, ainda infantil. Os seus quinze anos revelavam-se a cada passo, a cada palavra da garota. Pável Pávlovitch pode tê-la, de fato, visto a primeira vez com uma sacola de oleado na mão, mas agora já não a usava.

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