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Dustin

— Se você não ficar quieta, vai borrar tudo.

Ela abre um olho e eu quase enfio a caneta no olho dela. Olho feio para ela, que olha ainda mais feio para mim.

— Se você for demorar tanto, não precisa fazer nada. Tempo é algo que não tenho.

São sete horas da manhã. Dormi por três, porque a minha noiva me ligou de Los Angeles para saber como estava o processo, e já era tarde aqui, e aí discutimos por quase duas horas e aqui estou eu agora, lidando com uma Julia sem cafeína. Ela é muito mais tranquila assim, ainda que deixe claro que não gosta de mim na expressão corporal.

— Não se mexa. Um trabalho bem-feito precisa de cautela, Julia. Não posso rabiscar sua cara e deixar você ir, como um juiz levaria a sério a sua mentira assim? — brinco, mas ela finge que vai me dar um chute na canela e eu quase enfio a caneta no ouvido dela desviando do suposto ataque.

Xingo entredentes, respirando pelo nariz para me controlar.

— Você tem que parar de fingir que vai me atacar quando brinco.

— Brincadeira é uma coisa, ofensa é outra. Guarda essa para a vida, isso gera processo. E de fato eu preciso estar apresentável na frente do juiz, o que me faz perguntar a mim mesma que merda você está fazendo na minha cara mexendo nela há tanto tempo.

— Faz só cinco minutos que estou te maquiando, mulher.

Ela bufa mais uma vez. Termino o trabalho e ela suspira.

— Até que valeu a pena perder minutos preciosos da minha vida, mas você acha mesmo que laranja é uma cor séria?

Aponto a blusa dela.

— É a única cor que não vai gritar com a blusa. Fiz moda, escute o que estou falando.

Um sorrisinho aparece no rosto dela. O máximo que consegue a essa hora da manhã, percebo.

— Eu até poderia ficar com você, mas é melhor não. Tenho muito mais o que fazer da vida.

Ergo as duas sobrancelhas, balançando a cabeça consternado comigo mesmo por ter me casado com ela. Dentre todas as pessoas maiores de vinte e um do mundo, tinha que ser justo ela.

— Você é como um coala, sabia?

— Ownt, obrigada. É estranho ser comparada a um ser que dorme tanto, mas eles são fofinhos.

— Não, você é como um coala no som que ele faz. Intolerável.

— Sim? Pois eu não consigo acreditar que coalas fazem qualquer coisa que não seja fofinha, então vou continuar levando como um elogio.

Pego meu celular no bolso e coloco num vídeo do som de um coala. Ela me xinga por colocar algo tão barulhento, e eu mostro que é o som de um coala. Ela sorri.

— Eles não são fofinhos? Me lisonjeia que você pense em mim o suficiente para saber me comparar a um Coala.

Eu não penso, é o que tenho vontade de dizer, mas ela saberia que estou mentindo. E para não ter que explicar como penso nela - me entregando o divórcio assinado, depois sumindo da minha vida - só termino a maquiagem. Ela sorri ao se encarar no espelho.

Quando em VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora