Julia

A viagem mal começou e já me estressou bastante. Primeiro, o Dustin me acordou as cinco da manhã. Cinco da manhã! E se recusou a fazer qualquer movimento para comprar café. Ora, é claro que meu humor foi para o ralo, então brigamos como nunca.

Talvez porque nunca havíamos ficado juntos e sozinhos em um carro numa viagem tão longa. Não sei o que me fez aceitar vir de carro, mas sei que voltarei de avião e ele que arranje um jeito de mandar o meu carro de volta para Atlanta. Em algum lugar entre a Carolina do Norte e a Virgínia, ele para pra comermos.

— Se eu soubesse que você era tão chata, nunca teria chegado nem perto de você.

— Seria um imenso favor que você me faria.

O restaurante escolhido é um tapa na minha cara. Nem sabia que tinha tantas opções de comida com milho fora do Nebraska, mas aparentemente eu não pesquisei o suficiente. Enquanto espero ele sair do banheiro, finjo não ter visto as opções de comida e me encosto à porta frontal, tentando não chorar.

— O que você está fazendo aí? As mesas são aqui dentro. — o Dustin chama.

Pressiono as mãos nos olhos, tentando empurrar as lágrimas para dentro antes de me virar, mas não funciona.

— Wow, você está chorando? Meu Deus, eu sou um monstro. Quer um abraço?

Antes que eu responda, ele me engole com o corpo em um abraço desconfortável. Empurro o peito dele até me soltar.

— Não estou chorando por causa de você, Dustin, credo. Não choro por homens... quero dizer, meu pai é um homem, mas não desse tipo. E você está cheirando a gasolina.

— Ele está bem? Alguma coisa aconteceu? Aquele garoto que você estava ajudando matou ele?

Me dá vontade de rir ao pensar no Peter sequer tentando machucar o Terry.

— Está bem, é que... ele fazia comidas com milho sempre. Era o mais barato que tinha no Nebraska. São só lembranças, nada demais.

— Ah. Entendo. Você quer ir para outro lugar? Acho que tem um restaurante em... alguns quilômetros. Talvez muitos, mas não importa.

— Está tudo bem, e você está com fome, eu ouvi o seu estômago no carro. Vamos comer.

Ele me olha durante toda a refeição. Nem preciso perguntar o que é.

— Você está falando mais sobre a sua vida.

— É o que acontece quando se convive com você. É tipo um desentupidor de pia, que puxa o pior pra fora.

— Uau, minha esposa é mesmo muito romântica. Um desentupidor de pia. Poderia ser como um ótimo ouvinte, mas não. Seu romantismo encanta minha alma.

— Você não casou comigo procurando romance. Eu era uma mulher bebendo o meu peso em álcool e você era um homem bêbado. Devo ter falado tanta merda que nem sei como se casou comigo.

Ele fica em silêncio por um tempo, e sei melhor que ninguém que o silêncio é o esconderijo das respostas não dadas.

— Sobre isso. Eu... eu meio que lembrei de tudo há algumas semanas. Antes de eu, você sabe, viajar e tudo mais.

— Ah? E como eu estava? Apresentável? Minha maquiagem estava acabada?

— Você estava linda, mas cansada. Eu pisei na sua mão, e te paguei uma bebida como desculpas por isso. Não lembro exatamente como fomos parar na capela, mas eu lembro um pouco do Elvis que nos casou, se for ajudar. O que lembro principalmente é... é a noite de núpcias, se é que posso chamar assim.

Quando em VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora