Quando em Vegas

23

Julia

Frio. Sinto tanto frio que meus ossos doem. E a dor que queima minhas entranhas me faz querer chorar. Não sei o que aconteceu, mas pelo tanto de dor que sinto sei que não foi bonito. Luto para conseguir abrir os olhos, e falho nas primeiras tentativas. Abro finalmente e a luz me cega imediatamente. Tento usar outro sentido para me localizar, mas a minha mão está presa a algo. Com a audição identifico um ronco baixinho, e o que está segurando a minha mão...

— Dustin. — chamo.

Ele não responde. Tento de novo e de novo. Aí percebo que minha voz está ridícula de tão falha. Faço uma força dolorosa pra apertar a mão dele, e ele não acorda. Tento puxar a outra mão pra fazer alguma coisa, mas grito alto de dor, porém o som sai esquisito. Ele acorda em um pulo.

— O que foi, Juzinha? O que você está... — ele para de tatear o meu corpo e olha para o meu rosto, me vendo acordada — Estou sonhando?

— Espero que sim, porque aí não estarei realmente sentindo essa dor.

A minha voz foi mesmo embora. Ele, no entanto, parece nem perceber isso, perdido no choque.

— Você está acordada. — murmura.

Talvez não perceba que está chorando, talvez não se importe. A mão trêmula toca meu rosto.

— Oi.

— Oi. Que lugar é este e o que aconteceu?

Ele demora um pouco a entender o que eu disse, mas suspira quando o faz.

— Este é o hospital, e cinco anos atrás você sofreu um acidente.

Cinco anos!? Que diabos?

— Eu sofri um acidente onde?

— Andando na rua. Você estava na calçada, quando... quando toda a sua beleza te atingiu. Era tão grande que quase foi fatal.

Se eu pudesse pensar em responder de outra forma, responderia. Como não consigo, opto por um peteleco na mão. Ele choraminga.

— É isso que recebo por tentar te manter longe do trauma?

— É o que recebe por me assustar. O que realmente aconteceu?

O olhar dele se perde, mas ele balança a cabeça.

— Você sabe onde estamos?

— Baltimore?

— Boston. Estamos em Boston. Há algumas semanas, você estava naquele julgamento que não estava certa sobre o seu cliente, lembra? Bem, você estava errada, não que isso importe agora. Ele foi declarado culpado, mas saindo do tribunal a réu de verdade atirou contra você várias vezes. O Oliver esteve com o juiz para o novo julgamento, mas você... Deus, eu odeio lembrar disso.

— O que houve comigo? Eu matei ela?

Ele ri um pouco, e não há diversão no som.

— Ela quase te matou, cariño. Você esteve quase morta muitas vezes desde então. Seus órgãos falharam várias vezes, e o seu coração parou duas. Uma ainda na cirurgia de emergência, e a outra logo que saiu da segunda para extração de uma bala. Você me deixou louco.