Dustin
Sou músico há quatro anos, desde o meio da faculdade, e este foi o meu primeiro emprego. Foi uma situação estranha vir parar aqui. Eu não desejava, só fui visto cantarolando uma música que havia escrito para um professor que me incomodava e isso se tornou uma proposta, que virou o meu trabalho e que agora, ouvindo a Julia cantar uma música no banho, é um pesadelo.
Desafinada seria um eufemismo forte, ela não acerta nenhuma nota, mas como parece não se importar, tento fazer o mesmo.
Estou na casa dela por uma razão suja. Não, não é nada disso. Eu disse a ela que o hotel em que eu estava pediu para eu devolver o apartamento ao proprietário, que voltou de férias. Sei que ela não acreditou por um segundo sequer, mas, mesmo com os olhos cerrados da falta de crença, ela fez o que eu queria e me deixou ficar no apartamento dela. Olhar as fotos nas paredes me faz ver que eu não sou feliz com o meu trabalho, se ela é um exemplo a ser seguido.
Está na postura, no sorriso e no brilho dos olhos das imagens, o quanto ama tudo que faz. Eu só faço por parecer certo usar um talento para ganhar dinheiro, mas Deus sabe que não é minha coisa preferida no mundo.
— O que você está olhando aí? — ela pergunta, de pijama, atrás de mim.
Olho bem para ela fora dos terninhos e dos saltos. É estranho, quase uma outra pessoa.
— Você ama o que faz? Se sim, como soube que é a coisa certa?
Ela me observa de maneira tão diferente que me leva a crer que não esperava receber essa pergunta de mim.
— Amo. Não sei como eu soube, só... pareceu perfeito. Venho de uma família complicada, a advocacia foi um refúgio divertido no início, que virou uma paixão. Por quê?
— Ah, é que você parece amar muito tudo isso em todos os lugares que eu vejo, inclusive no seu blog.
Os olhos dela viram duas bolas.
— Como diabos você encontrou o meu blog? Não mexo nele há anos! E respondendo a primeira parte, sim, eu amo. E me ofende ser questionada sobre o que faço como advogada.
Levanto as mãos em - mais - um pedido de desculpas, e respondo a questão do blog com honestidade.
— Pesquisei seu nome na internet, e lá na página quatro ou cinco tinha este blog. Depois de todas as notícias e condecorações, claro.
A mulher é jovem pra caramba e tem mais prêmios que anos de vida, e isso até o momento em que o blog havia sido atualizado. Ela é realmente apaixonada pelo que faz, e eu nem sei se gosto de cantar. Talvez eu devesse procurar outras coisas um dia.
— Certo. Posso só... — ela aponta o quarto que não vi ainda — ligar pra polícia? Tenho um caso de stalker da quinta página do Google aqui. A terceira é o limite da normalidade, Dustin. A quarta é muito estranho, a quinta? Anotações para um crime.
Dou risada disso, e ela até ri um pouco também. É estranhamente confortável ouvir a risada dela.
— Eu ia até mais longe para os trabalhos da faculdade.
— Não tinha uma biblioteca onde você estudou?
— Sim, mas relações internacionais é necessário saber da atualidade. Como está o mundo agora? Qual país está em guerra com qual? Gosto dos livros, mas eles não eram atualizados com a frequência necessária.
Ela empina o nariz e cruza os braços.
— Um internacionalista. Gosto de você um pouco mais agora.
Não digo que acho difícil eu atingir o patamar zero para passar a ser possível gostar de mim, do ponto de vista dela. Entraríamos em uma conversa profunda sobre uma questão que não há necessidade de vir ao caso agora.
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Quando em Vegas
ChickLitJulia é uma das advogadas mais requisitadas do estado da Geórgia, e tem uma reputação a zelar pelo bem dos clientes. Mas uma viagem de trabalho a Las Vegas pode ter colocado tudo em risco, porque Dustin McReynolds, um dos cantores mais famosos do ro...