Quando em Vegas

20

Em outra vida, eu te faria ficar,
Então eu não teria que dizer que você é aquela que se foi.
(The One That Got Away - Katy Perry)

Dustin

Se eu me arrependo de ter escutado o meu medo e o meu coração? Todos os dias. Estes dois juntos, com uma pitada de adrenalina, formaram o maior arrependimento da minha vida. Se eu tivesse apenas aprendido com ela a ser racional... mas não. O que aprendi foi que, quando você fere alguém ferido, esse alguém nem sente a dor.

A Julia definitivamente não sentiu, então ficou para mim o encargo. A Nara... ela me chamou de volta porque a menstruação não descia havia quatro meses e estava com medo de estar grávida. Ela disse que não teria o bebê sozinha e chorou bastante, me disse que eu teria que me responsabilizar no desespero do momento... ainda que nós dois soubéssemos que não havia como eu ser o pai. Quando cheguei, havia um pacote gigante de absorventes na cama, e ela estava vomitando no banheiro.

Síndrome do ovário policístico, foi o diagnóstico que o médico deu. Quando parou de vomitar, ela sorriu pra mim grogue e desmaiou. No consultório, o médico disse que a resistência à insulina provocada pela síndrome provocou o diabetes tipo 2 nela. Eu fiquei a noite toda tentando entender aquilo, mas a única coisa que estava na minha cabeça era uma sensação ruim, como se eu não devesse estar ali.

Como se algo estivesse fora do lugar. Eu. Só que não consegui dizer isso a ela. O irmão dela nos levou para a casa dela - que, tecnicamente, era nossa, e eu fiquei sufocado por aquele lugar. Feliz por me ter ali, ela foi fazer um café para mim, e, claro, café me lembrou da Julia e eu saí correndo. Literalmente. Só fui parar quando estava no meu quarto, em um hotel, chorando sozinho. Eu precisava ficar sozinho, só que não há muito disso quando se é famoso. E definitivamente não há muito disso quando se acabou de sair do palco para um descanso de poucos minutos, que é onde estou agora.

No início da semana, ela me ligou. Perguntou o que aconteceu, e eu disse que precisava de espaço. Ela disse "você ama ela, não é?", e eu soube de quem estava falando e não consegui negar. Quando disse que sim, desligou na minha cara. Não nos falamos desde então, e eu considerei este o nosso fim. Me restou a música.

Nos descansos dos shows, comumente, escuto alguma coisa para me inspirar a voltar para o palco, e hoje eu preciso de muita inspiração. Aperto o aleatório e deixo o destino me falar o que devo ouvir.

Só não esperava que o destino me mandasse uma surra de Bruno Mars toda vez que passo para a próxima, que me faz encolher até querer sumir dentro de mim mesmo. Já sinto falta dela o tempo todo, desejo ela aqui por mais tempo ainda, ser lembrado disso dói. Saber que eu fui o único a escolher o medo de arriscar tudo no lugar dela, é uma dor enorme.

E o único jeito que sei de aplacar a dor é afogar dentro dela, só que estou trabalhando, não posso chorar como quero, então preciso segurar um pouco mais. Provando o ponto que chorar agora não é boa ideia, sou chamado. Volto para o palco e espero que a plateia não note que quero estar aqui menos a cada minuto.

Preciso dar um jeito de falar com a Julia antes que perca a sanidade. Só ouvir a voz dela, vê-la. Qualquer coisa que faça isso ser mais suportável. Olho para a plateia e me pergunto se eles sabem. Se não sabem, é hora de saber, porque eu não vou fazer isso ser mais difícil pra mim fingindo sorrisos.

— Não sei se vocês conhecem essa música, mas ela chama The One That Got Away. — Os gritos são ensurdecedores. Acho que essas pessoas gostam tanto da Katy Perry quanto eu. — Num programa de televisão, a Katy disse que a música foi escrita para um ex dela, e que, na verdade, eles são bons amigos. Incrível, não? É, eu sei, este é o mundo da música. Mas hoje essa música tem um significado grande para mim, e eu gostaria de encerrar essa parte sentimental do show com ela. Para a minha garota que se foi; espero te encontrar novamente, em um bar qualquer de um hotel de uma Vegas barulhenta um dia.