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Julia

A única parte realmente boa de visitar a Marnie é a comida de Washington. Não que em Atlanta a comida seja ruim, mas variar não faz mal. Como o Dustin me tirou daquele lugar logo após o café da manhã, depois que o Michael ameaçou me matar com os olhos se eu não parasse de falar da precariedade da saúde pública no país, viemos conhecer Washington. Quero dizer, ele veio conhecer.

— Você vai ficar com essa cara em todos os lugares que formos?

— Já vi todos estes lugares mil vezes, não tem mais emoção.

— Vamos lá, há limite para a emoção de ver estátuas de pessoas que são do mesmo grupo que a sua família? A sua feliz e acolhedora família?

Chuto uma pedrinha para a rua.

— Todas as minhas emoções são limitadas, e a raiva já esgotou o limite.

Ele segura os meus ombros e me faz olhar para cima.

— Você não é um robô. Não há limites para nada que vem do seu cérebro. Se você está com raiva, coloque para fora.

— Este é o problema, Dustin. Não estou. Não consigo ficar com raiva mais sobre eles, é só... um grande vazio. Nem decepção, nem desgosto. Não há nada mais aqui dentro.

Ele faz uma careta que exprime exatamente o que aquelas pessoas me fizeram sentir.

— O que eles fizeram pra você, hein?

Não há razão para esconder isso. Se ele não descobrir por mim, descobrirá pela verdade deturpada da Marnie.

— Tudo. Nada. Achei que estava recebendo amor, até descobrir que o amor não te faz desejar estar longe de tudo. A pior coisa que a Marnie fez, no entanto, não foi não me amar ou coisa do tipo. Foi me privar de estudar. No início, ela inventava desculpas para não me levar na escola, mas depois ela simplesmente dizia que não me levaria por várias outras razões sem fundamento. Quase tive que repetir o primeiro ano por causa das faltas.

— Não tinha um ônibus escolar? Não que ela esteja certa, e muito menos que você pudesse fazer muito. É só que um ônibus evitaria até o seu contato com ela.

Balanço a cabeça.

— Não, não tinha porque ela me fez ter medo de sair sozinha de casa. Algo que foi colocado na minha cabeça desde pequena. Essa é a coisa de um relacionamento abusivo, Dustin. Primeiro o abusador tira todas as suas defesas, todas as maneiras de você fugir, tudo. Só então ele ataca. Eu odiava ela, mas precisava dela. E sempre que ela me atacava, ela voltava como se estivesse me ajudando, só para dizer que eu era um fardo e se trancar no quarto porque eu era "cansativa demais". — faço as aspas com os dedos — Quando percebi o que estava me tornando por causa disso, consegui ir morar com um ex-namorado e focar no que eu queria, que era estudar. E só por isso consegui chegar até aqui.

Faço uma pausa e ele larga os meus ombros, esperando o resto.

— É horrível não poder contar com a pessoa que supostamente era a que deveria estar ali por mim. É ainda pior crescer tão entorpecida por isso que não consigo nem saber o que estou sentindo mais. Não é pessoal, é só que não é algo que eu tenha feito com frequência desde... desde sempre, acho. Dizer o que sinto seria fácil se eu soubesse o que sinto.

Quando em VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora