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Julia

Encaro a pasta do homem que me procurou hoje mais cedo com desgosto. Se ele queria ser declarado inocente, não deveria ter divulgado imagens do corpo morto na internet, porque pode até ser inocente da morte, mas não será da divulgação. E se tem uma coisa que eu odeio é gente que não entende que a justiça é uma via de mão única. Se você comete um acerto em um caso onde cometeu um erro, isso não faz você ir para o caminho da inocência.

Ver as imagens que ele fez questão de mostrar para mim, me fez perder a fome. Não como desde o café da manhã por isso. Olhei no fundo dos olhos dele e disse "não posso ajudar você", e ele se levantou tão irritado que achei que fosse me bater. O advogado do homem, que estava acompanhando ele, o segurou e me lançou um olhar de desculpas. Ele precisava apenas de uma criminalista, para indicar o caminho em uma acusação criminal, mas acabou se enrolando mais.

O Pierre entra na sala, e senta na cadeira à minha frente com curiosidade no olhar.

— Cadê o Dustin?

— Não sei, não vi ele hoje.

— Hm. Por isso você não foi almoçar, então. — ele escorrega um potinho de sopa para mim.

Não gosto de sopa, mas as do restaurante que o Pierre compra não são recusáveis. Abro e balanço a cabeça.

— Na verdade, foi um candidato a cliente. Fotos não autorizadas. O advogado parecia uma formiga tentando acalmar um elefante, eu nunca conseguiria lidar com ele. Jurava que estava certo por divulgar fotos e tudo mais, parece que esquecem que uma pessoa morta ainda é uma pessoa, com dignidade, família e outras pessoas que se importam, ao menos que seja autorizado para algum fim, o que não foi. Estou exausta.

— Percebe-se. Aproveite o fim de semana, descanse.

Minha exaustão não permite que eu lance um olhar irônico para ele. Nunca tenho descanso. Toda vez que eu chego em casa pronta para descansar, o universo manda algum caso de última hora, e lá vou eu trabalhar mais uma vez. E também tem o fator...

— Da última vez que tentei pelo menos relaxar, acabei casada com um homem que faz o pior café do mundo.

Ele sorri.

— Você não pode se casar duas vezes, e o fato dele colocar açúcar no café faz dele um ser humano, diferente de você que é um monstrinho.

Balanço a cabeça ultrajada.

— Açúcar se coloca em chás, que é literalmente água com aroma. Precisa do doce. Agora café? Já tem todo um sabor, para quê estragar com açúcar?

O sorriso vira uma risada, e ele deita no meu sofá de descanso, as pernas penduradas para fora. Ele me olha de lá.

— Você não sente falta de um descanso? Desde que te conheço, você nunca parou. Quero dizer, houveram situações que te obrigaram a parar, mas só então. Sei lá Juzinha, você tem um marido, pare pelo menos para conhecer ele.

Apoio a cabeça nas mãos, tentando entender o que ele quer com isso.

— Trabalhar é o meu descanso de tudo que não é trabalho. E você sabe o que esse tudo inclui. E Pierre, eu sei que você é um romântico inveterado e tudo mais, mas o Cupido simplesmente não gosta de mim, por isso me jogou um cara que tem outros interesses. Eu já aceitei isso, aceite também. — dou de ombros.

— Na verdade, Julia, eu acho que ele está gritando no seu ouvido, mas você não quer escutar. — é a vez dele dar de ombros.

— O que você quer dizer com isso?

— Que aquele meu cliente te chamou para sair mais uma vez.

Estreito os olhos, tentando lembrar dos clientes do Pierre. Arregalo eles quando lembro quem é.

Quando em VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora