Capítulo 3

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Lorena narrando:

Abri meus olhos e parecia que o dia estava mais claro que o normal, minha cabeça ameaçava explodir a qualquer momento e meu estômago, por mais que eu sentisse fome, tive a sensação terrível de que a qualquer momento colocaria tudo para fora. Olhei para o relógio e arregalei os olhos ao ver que passava das dez da manhã. Senti novamente um nó no estômago, corri para o banheiro e coloquei para fora tudo que havia comido ontem. Preocupei-me, pois poderia ser algo um tanto sério, já que raramente eu ficava doente e nunca me senti tão mal na minha vida.

Suponho que seja só ressaca, eu nunca havia sentido isso porque nunca tinha ingerido álcool antes. Não lembro muito bem o que aconteceu na noite passada, não sei nem como vim parar aqui. AI MEU DEUS! Se estou em casa quer dizer que alguém me trouxe para cá, ou seja, minha mãe já deve saber que eu bebi e numa hora dessas ela deve estar vindo me dar uma bronca daquelas. Fui tomada pela culpa, eu não deveria ter me deixado levar, melhor eu me arrumar e fingir que está tudo bem antes que minha mãe chegue.

Levantei do chão, olhei no espelho do banheiro e vi que ainda tinha maquiagem da noite anterior em meu rosto, então limpei minha pele, fiz minhas higienes e coloquei um roupão fui até o quarto pegar uma roupa, escolhi algo mais confortável, já que eu iria passar o dia em casa, peguei um casaco largo e bem comprido, era vermelho e dava a parecer com um vestido curto, amarrei o cabelo formando um coque frouxo e tentei esconder meu rosto enfadado com maquiagem leve, dei uma última olhada no espelho e percebi minha vista embaçada, logo notei que havia deixado meus óculos no criado-mudo.

Caminhei até a cama e comecei a arrumá-la, depois de tudo pronto peguei um livro qualquer da estante branca acima de minha cama e sentei no colchão, escorada na cabeceira com um travesseiro nas costas, minhas pernas estavam esticadas e cruzadas no fim. Ouvi passos e reconheci que eram de minha mãe se aproximando da porta do meu quarto, ela entrou(sem bater, como sempre) e disse:

— Bom dia filha! Ouvi o barulho do chuveiro e vim ver se você estava bem — falou com uma voz entusiasmada se aproximando cada vez mais de mim.

— Bom dia, mãe! Mais uma vez invadiu minha privacidade entrando no meu quarto sem bater antes, não é? — lhe mostrei um sorriso ambíguo.

— Desculpa meu bem! Acordou com pé esquerdo foi? — cruzou os braços 

— Desculpa mãe, é que você sabe como eu fico quando você chega assim do nada — falei baixando a cabeça 

— Fica tranquila filha, não precisa pedir desculpas, só queria saber se estava tudo bem com você — sentou-se na cama

— Estou bem sim! Melhor impossível — forcei um sorriso.

— Tem certeza? Não minta para mim! Depois de como você chegou aqui ontem tinha que estar no mínimo com ressaca — Ela se mostrou severa e brava.

A encarei e coloquei a mão na cabeça entrelaçando os dedos no cabelo, ri de nervosa e comecei a falar a verdade.

— Talvez eu esteja… por favor, não briga comigo — falei rápido antes que ela começasse com o sermão.

— Não vou brigar, querida, eu já tive sua idade, nós não pensamos muito nas nossas ações, e quando começamos a beber é difícil parar.

— Desculpa por isso mãe, só me deixei levar — comentei triste.

— Dá próxima vez, tenta moderar mais, beba só o tanto que seu corpo aguenta, não se deixe ficar inconsciente, para se divertir não precisa se embebedar — pôs uma mecha do meu cabelo atrás da orelha

— Não vai ter próxima vez, não quero ter essa tal de ressaca de novo, é MUITO RUIM! — enfiei a cara no travesseiro

— Falando nisso, eu trouxe aqui um remédio para dor de cabeça, quanto ao vômito, só vai passar quando não tiver mais bebida no seu organismo, só aconteceu isso porque seu corpo não está acostumado com álcool e você exagerou muito mocinha!

— Obrigada mãe! — falei sorrindo — fico feliz em não receber sermão e por ter compreendido isso

— Vamos descer para tomar café?

— Vamos! Tô morrendo de fome.

Descemos juntas indo em direção a cozinha.

°•°•

— Hummm que delícia esse suco — falei ao saborear um pouco do suco de maracujá que estava a minha frente

— É seu preferido minha linda — olhou para mim e sorriu

— Obrigada por ser tão atenciosa mãe! — retribui o sorriso

— Que é isso, só cumpro com meu papel!

Percebi que minha mãe estava diferente, por mais gentil e bondosa que ela fosse, aquilo estava muito estranho. 

— Filha, enquanto você dormia eu fui caminhar no parque e encontrei uma amiga do trabalho — comentou

— Ah é? Que legal! O que tem ela? — tentei puxar assunto.

— Não do trabalho atual, o antigo, do tempo em que te coloquei no balé — explicou

— Nossa, e vocês ainda são amigas? Pensei que você não se dava muito bem com aquele pessoal. 

— Enfim, eu encontrei essa amiga e estávamos conversando…

Houve um minuto de silêncio. 

— Ai, mãe fala logo, deixa de “suspense”, o que tem essa mulher?

— Ela chamou a gente para jantar na casa dela, uma coisa bem formal

— Espera aí, nunca fomos convidados para um jantar formal antes, qual a comemoração?

— Nenhuma, é só um jantar. Afinal faz tempo que não converso com ela e só queremos atualizar nossos assuntos — Falou levantando a sobrancelha e tentando não sorrir.

— Mãe eu lhe conheço muito bem, e quando você faz isso com a sobrancelha quer dizer que tem algo a mais, e não quer me contar

— Admito que tem algo, mas você só saberá na hora! 

— Ah não mãe… você não vai me deixar curiosa né?

Balançou a cabeça afirmando que, sim eu ficaria curiosa.

— Vamos só nós duas? — perguntei — Não, seu pai também vai

— E meu irmão fica onde nessa história?

— Ele é muito pequeno ainda, só iria fazer bagunça, então vou deixá-lo com sua avó 

— Sortudo — murmurei — E quando é esse jantar?

— Será sábado! Como é formal e você sabe de que família ela vem, com certeza não vai ser somente um jantarzinho, vai ser O jantar! Então trate de se arrumar para tal ocasião.

— Pode deixar mãe, já sei até com que roupa irei.

O que será que minha mãe está aprontando dessa vez? Espero que não me arrependa de ir, não que eu tenha a opção de ficar em casa, mas espero que seja legal.

Passei o resto do dia em meu quarto, quando percebi já estava anoitecendo. Ouvi o barulho da porta principal e desci rapidamente indo ao encontro de meu pai que acabava de chegar do trabalho.

— Oi pai, como foi seu dia hoje? — Falei enquanto o abraçava

— Foi ótimo, minha filha! Acima de tudo estou cansado e com fome, o jantar está pronto?

— Está sim — disse minha mãe lá da cozinha

Seguimos em direção a cozinha e ao chegar lá encontrei meu irmão já a mesa, com minha mãe pondo uma colher cheia de sopa na boca do garotinho.

— Querida, você contou a ela — Falou meu pai olhando para minha mãe enquanto colocava o guardanapo

— Contei que vamos para um jantar na casa de uma amiga

— Disse o motivo? — os dois se entreolharam ignorando minha presença

— Isso não, ela vai saber no dia

— Gente eu ainda estou aqui! Quero saber o motivo do tal jantar.

— Infelizmente só vai saber no dia — disse minha mãe — e não insista mais nesse assunto!

Fiz cara de tédio e voltei a comer.

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