Capítulo 27

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Eduardo narrando:

Desci para tomar café, meus pais estavam na mesa e muito quietos, estranhei aquela situação, na verdade essa semana toda, tudo e todos estavam estranhos, havia algo que estava acontecendo, só não sabia o que era. 

— Agora chega! — bati na mesa e chamei atenção deles.

— O que houve? — perguntou minha mãe confusa.

— Essa semana todos estão agindo diferente comigo, eu queria saber o porquê. A última vez que isso aconteceu foi há pouco mais de seis meses, quando esconderam aquele jantar de mim. O que foi agora?

Eles se entreolharam e meu pai falou:

— Está tudo normal, você 'tá' se sentindo bem? Não quer falar com um terapeuta ou um amigo?

Respirei fundo, meus pais estão achando que sou louco, não consigo acreditar. Fechei os olhos e falei com uma voz calma.

— Eu estou bem, se me dão licença vou me retirar.

Saí dali devagar e subi para meu quarto, aquele lugar era como meu refúgio, eu aguentei o quanto pude, fingi pra todos que tudo estava bem, mas aquela garota mexeu comigo, sim! Eu estava sentindo sua falta. Não sou de chorar, porém estava doendo muito, ao contrário do que muitos pensam, os garotos também tem sentimentos, a gente só não demonstra, mas sentimos tanto quanto as garotas. E naquele momento meu coração parecia estar na palma da mão de alguém e essa pessoa estava apertando com força o mesmo. Coloquei música e fiquei escutando enquanto encarava a parede de gesso cor de gelo à minha frente. Um tempo passou até que ouvi alguém bater na porta:

— Não quero ver ninguém, seja lá quem for, pode ir embora!

Novamente bateram na porta então falei alto com sarcasmo na voz:

— No momento Eduardo não pode atender, tente novamente mais tarde.

A pessoa era insistente, continuou a bater, percebi que ela não iria embora então finalmente levantei e atendi. Era Daniela:

— Eu sei que não sou quem você gostaria de ver no momento, mas não gosto de te ver triste.

— Eu não queria ver ninguém — abri a porta por completo e caminhei até a cama, apontei para a cadeira do computador fazendo sinal pra ela sentar  — mas já que você está aqui — dei de ombros.

— Ultimamente você está se irritando fácil, tá meio cabisbaixo e desconfiando de tudo, o que tá acontecendo?

— Nada, só estou irritado comigo mesmo por ter terminado tudo com Lorena, cabisbaixo porque estou triste e sentindo falta dela e desconfiado pois tenho a absoluta certeza que todos estão agindo diferente.

— Filho, talvez não seja as pessoas que estejam agindo diferente, você sofreu uma perda, sua vida mudou, não é mais a mesma, é normal achar tudo estranho, porque realmente está!

Baixei o olhar e refleti aquelas palavras, ela estava certa, tudo mudou na minha vida, agora era hora de seguir em frente e lembrar dos momentos felizes que passamos juntos, sabendo que eles nunca mais irão vir à tona novamente.

— Por que você me chama de filho? 

— Costume, você é como o filho que nunca tive, cuidei de te desde sempre e vou continuar cuidando.

— Obrigado Dani, você é espetacular!

— Espero ter ajudado em alguma coisa — Disse enquanto levantava da cadeira — Agora, a cozinha e o resto da casa estão a me esperar para serem limpos.

Ela saiu e fechou a porta, eu encarei a madeira branca com a maçaneta de ferro e caminhei até lá, abri e comecei a andar pelo pequeno corredor antes da escada, precisava espairecer e para isso fui buscando os mínimos detalhes daquela casa. Ainda no corredor, olhei para o teto e percebi a porta do sótão, me aproximei e em um salto puxei a escada, bati as mãos expulsando a poeira e comecei a subir.

Adentrando aquele antigo e empoeirado lugar consegui ver algumas lembranças, caixas e lençóis por ambos os lados. Encontrei um álbum de fotografias e comecei a folhear o mesmo, ver aqueles retratos me fizeram sorrir, pois eu lembrava exatamente quando haviam sido tirados.

Vi alguns troféus e medalhas ali, uns eram meus, outros de meus pais, notei cada detalhe, datas e refleti o quanto já conquistamos. Remexi as caixas que haviam ali, iniciei por uma cheia de papéis, creio que sejam documentos de trabalho da minha mãe ou casos antigos dos clientes do meu pai. Tudo ali dentro parecia papelada chata e normal para pessoas de negócios, até que eu encontrei algo.

Quando vi, não acreditei, meu queixo caiu e eu já não sabia mais o que sentir, tudo em minha cabeça virou uma completa confusão ao ler em letras arial quatorze e negrito ao alto de uma folha A4 a seguinte frase "documentos necessários para adoção", comecei a folhear aqueles papéis e encontrei o que parecia ser minha certidão de nascimento, só que havia algo de errado, o nome de meus pais e data de aniversário estavam completamente incorretos.

O seguinte questionamento surgiu em minha mente "será que sou adotado?". Ouvi o que parecia ser a voz da mulher que me criou chamar, desci do sótão com a pasta de documentos na mão. Quando cheguei na escada avistei ela na parte inferior, a mesma olhou para minha mão e já sabendo do que se tratava arregalou os olhos. Eu desci rápido, estava tomado pela raiva e em busca da verdade.

Lancei os papéis sobre a mesa de centro, eles se espalharam pelo chão. Me joguei no sofá e esperei ali alguém começar a se explicar. Ouvi os saltos de minha mãe tocarem o chão depressa, chamando por meu pai, ela veio até mim. 

— O que está acontecendo? — Perguntou o velho desnorteado.

— Ele sabe de tudo, precisamos contar a verdade, chegou a hora — sussurrou a mulher ao pé do ouvido dele.

Olhei para trás e em silêncio esperei os dois se acomodarem sobre os assentos ali postos.

— Então… quem fala primeiro? — forcei um sorriso.

— Eduardo meu filho… como você já viu, você foi sim adotado — Confirmou minha mãe.

— Então se vocês não são meus pais, quem são? — Minha voz tremia e meus olhos já ameaçavam marejar.

Meu pai se aproximou da mesa e pegou um dos papéis, verificou se estava certo o que procurava e estendeu a mão direcionando a mim.

— Como você pode ver, aqui estão os nomes, Daniela e Rodrigo Mendel, sua mãe biológica é conhecida nossa, agora seu pai nunca ouvi falar dele.

Dani entrou na sala, comecei a juntar as pessoas e finalmente montei o quebra-cabeças, agora tudo estava claro, por isso ela me chamava de filho e por isso eu sempre senti que podia confiar nela.

— Eduardo, meu menino, você não sabe o quanto eu esperei por esse momento — disse ela indo me abraçar.

Eu me afastei, ainda não sabia como reagir a tudo aquilo, precisava processar as informações. Balancei a cabeça de um lado para o outro, senti que iria acabar chorando e para isso não acontecer na sala de casa para todos verem, corri para meu quarto, bati a porta e lá fiquei. Procurei refúgio nas músicas, coloquei meu fone de ouvido e deitei, as imagens de todos os acontecimentos recentes vieram à tona e aos poucos tomaram conta de mim. Cerrei o punho direito e sem perceber soquei a parede que minha cama estava encostada, aquilo doeu e feriu minha mão ao mesmo tempo que aliviou o peso que estava no meu coração.

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Gente coitado do Edu, quase chorei escrevendo esse capítulo, ele merece o mundo não acham?

Próximo capítulo tem mais, vamos entender um pouquinho da vida e história dele, tudo o que aconteceu com ele antes do processo de adoção, a infância...

Alerta: cenas muito fofas, pessoas sensíveis segurem as lágrimas (ou não)

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