Capítulo 6

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Lorena narrando:

Era aula de matemática, última aula do dia. Eu estava distraída observando o céu através da grande janela de vidro que ocupava metade da parede da sala, a mesma se encontrava a minha esquerda e meus olhos estavam voltados para aquelas pequenas gotículas de água que escorriam pelo vidro, uma mais rápida que a outra, como se estivessem apostando corrida. Fui tirada daquele mundinho que criei após me assustar ao ouvir o sinal tocar. Finalmente a aula havia acabado, eu não queria me molhar ao ir embora, portanto, permaneci frente ao portão do colégio junto a Laura, debaixo de uma sacada. Ambas não levamos guarda-chuva então ficamos ali conversando.

- O que pretende fazer no fim de semana - perguntou Laura

- Bom... no sábado eu vou a um jantar na casa de uma amiga da minha mãe. Já no domingo eu não sei.

- Me conta mais sobre esse jantar - pediu Laura voltando seu olhar para mim

- Minha mãe estava andando na rua, essa amiga conversou com ela e por algum motivo que não sei elas marcaram um jantar, a casa dela fica naquele bairro chique sabe.

- St Bartolomeu? - arregalou os olhos surpresa.

- Esse mesmo, eu não entendi ainda o intuído disso tudo, mas tenho certeza que não vai ser só um simples jantarzinho.

- Claro que não vai, olha o bairro que essa mulher mora! As casas de lá são as mais caras de toda região. Imagino que você já tem em mente o que vai vestir.

Olhei para o horizonte por um segundo e me silenciei, eu não tinha pensado nesse detalhe ainda, para mim, existem coisas mais importantes do que roupa. Laura balançou seu braço em minha frente, eu pude ver a palma de sua mão e acabei por voltar ao mundo real.

- Você não faz a menor ideia do que vestir, não é? - alegou ela.

Fiz que não ao balançar a cabeça de um lado para o outro.

- Se quiser nós podemos escolher juntas, qualquer tarde dessa semana, após a escola eu estou livre e posso ir à sua casa, o que acha?

- É uma ótima ideia, você é sempre bem-vinda! - abri meus braços, chamando-a para um abraço. Ela me envolveu em um caloroso e aconchegante abraço, eu sabia que sempre podia contar com ela.

°•°•°•

Alguns dias se passaram e o jantar se aproximava cada vez mais, Laura chegou em minha casa por volta das quatro da tarde e a primeira coisa que fez foi abrir meu guarda-roupa:

- Todas as suas roupas estão aqui?

- Não, tem algumas para lavar e outras na secadora.

- Me traga todas, se preciso peça ajuda a sua mãe - ordenou ela como se soubesse exatamente o que estava fazendo. - Creio que você tem muitas opções, vamos achar algo rapidinho.

- Você pode até acreditar que tenho muitas opções, mas nenhuma se encaixa com a ocasião.

Isso daria muito trabalho, talvez Laura estivesse ficando maluca pensando que vai ser fácil. Juntei todas as roupas do meu armário em um monte e carreguei até a cama. Começamos a separar as peças, de acordo com ela, eu já poderia descartar qualquer tipo de shortinho, foi o que fiz, comecei a guardar as roupas que ela descartava e não sobrou muita coisa.

- Poxa Loh, pensei que você tivesse roupas melhores - reclamou ela. A pessoa que a minutos atrás chegou a dizer que eu estava lotada de opções, agora percebeu que nada seria a altura.

- O que tem de errado com meu estilo?

- Nada amiga, mas essas suas combinações de roupas te faz parecer uma bibliotecária com mais de... - me encarou por um segundo reformulando sua fala - Uma bibliotecária "sexy", não me leve a mal, eu gosto das suas roupas, mas suas combinações para elas não são as melhores.

- Por isso te chamei, as pessoas costumam te copiar quanto às vestimentas, ou pode ser o contrário também.

- Eu apenas observo as coisas ao meu redor, é tanto que percebi que aquela gaveta não foi aberta, o que há nela?

- Nada de interessante, apenas roupas que não serve em mim, ou que eu não gosto.

Laura levantou-se e caminhou até a gaveta, a abriu e lá avistou as roupas, que de acordo com ela, eram as melhores que ela tinha visto desde o momento que chegou em minha casa. A maioria não servia em mim nem com esforço, era da época de minha infância. Laura achou uma caixa decorada com flores, no mesmo instante a tomei para mim, lembrei então que se tratava do meu "tutu" de quando fazia balé e outras coisas de bailarina.

Abri cuidadosamente e devagar enquanto eu caminhava até a cama e Laura continuou a vasculhar a gaveta. Vi uma foto lá dentro, metade da mesma estava rasgada como se quisesse esquecer alguém do passado. Éramos três pessoas, eu estava no meio abraçando Sara, uma ex amiga que acabou por se mudar para outro lugar, nunca mais recebi notícia dela, eu era bem próxima da garota e foi muito bom enquanto durou nossa amizade, tenho certeza que se a visse hoje, iríamos agir como se nunca houvesse se separado. Do outro lado da foto, não havia ninguém, era a parte rasgada, apenas um braço em meu ombro. Não quis recordar ou remoer a história, a memória daquela pessoa estava vindo à tona, então logo me livrei daquilo voltando-me para história de escolher uma roupa.

Laura estava prestes a desistir de me ajudar, quando avistou um tecido preto no fundo da gaveta, ela viu que se tratava de uma renda preta, puxou cuidadosamente o tecido e o abriu, me deu conta de um lindo vestido preto que ganhei de uma tia-avó no meu aniversário de 13 anos, na época era bem grande, tanto em largura como em comprimento, talvez por isso eu o abandonei no fundo da gaveta e não lembrava mais dele.

- É um belo modelo, mas creio que não sirva em mim, antes era bem comprido agora deve estar curto - falei

- Penso que não, só saberemos quando você experimentar.

Fui até o banheiro e me troquei, realmente ele estava fabuloso em mim, um pouco apertado na cintura eu diria e marcando meu corpo, mas eu gostei. A saia de tule deixava o vestido com um ar mais descontraído e a parte do braço sem mangas, cobrindo somente os ombros, deixando-o com um ar mais casual.

Saí do banheiro e desfilei até a garota que me esperava curiosa sentada na cama, ao me ver, seu queixo caiu, segundos depois esboçou um grande sorriso amarelo e cheio de alegria.

- Com certeza é esse - Falou animada pulando e batendo palmas.

Me olhei no espelho e estava magnífica, combinou perfeitamente com o All Star cano médio tradicional que eu estava usando. Laura percebeu meu pequeno sorriso amarelo ao olhar para o tênis e disse:

- Você não tá pensando de ir com isso no pé, não é?

- Por que não? Tem algo errado?

- Tudo errado, é um jantar chique e não uma balada ou rolê com amigos. Talvez até que para uma balada você iria pensar duas vezes e acabar colocando um salto - refletiu por uns segundos e continuou - É disso que você vai, de salto!

Eu não gostava desse tipo de calçado, era desconfortável e eu não conseguia andar direito. Agora fico a imaginar se realmente foi uma boa ideia pedir ajuda de Laura.

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