Capítulo 19

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Lorena narrando

Estava sentada no tapete peludo, escorada na cama de pernas cruzadas quando comecei a imaginar como seria a viagem, eu ainda não acredito que amanhã estarei pegando um avião para Nova Iorque!!! Ainda mais ao lado de Eduardo, não tem como ficar mais perfeito que isso. Iremos passar o resto das férias juntos e com certeza vai ser uma experiência incrível. Ouço um barulho na porta, o que me faz voltar para o mundo real, viro-me rapidamente e vejo minha mãe adentrando o local.

— Lorena! Não acredito que você não arrumou essa mala ainda garota — Esbravejou.

Levantei do chão e pude olhá-la na altura dos olhos, pensei em falar algo, mas logo hesitei. Direcionei-me ao guarda-roupa e comecei a abrir as portas e gavetas, minha mãe fez cara de tédio e se propôs a ajudar para garantir que eu não esquecesse de nada.

Aceitei a ajuda e para visualizar melhor nossas opções, decidimos tirar as gavetas e colocá-las em nossa volta, meu quarto não era grande e por esse motivo algumas foram parar em cima da cama.

Retirei a última gaveta, aquela lá embaixo que era paralela à madeira do guarda-roupa, olhei para o lado de dentro, e notei que lá atrás bem escondido e cheio de poeira estava um papel, fiquei curiosa e algo me dizia que aquilo era familiar.

Quando eu era criança, tinha a mania de esconder coisas importantes em lugares peculiares, se eu havia colocado aquilo ali, é porque era valioso para o meu eu de anos atrás. Peguei o papel e o escondi debaixo do tapete.

— Mãe, estou ficando com fome, o que acha de continuarmos depois de um lanchinho? — Comentei.

— Também estou ficando com fome, então eu concordo, mas olha não deixa pra arrumar isso na última hora em mocinha, ai de você se esquecer alguma coisa — alertou ela.

Esperei até que minha mãe saísse do quarto, tranquei a porta e peguei o papel, passei a mão com intenção de tirar o pó e foi quando eu vi… Reconheci aquele papel, era uma carta de uma pessoa que há muito tempo havia partido. Nas costas daquele envelope verde e desgastado pelo tempo havia escrito no canto da folha.

"Somente Lorena Santino 
poderá abrir ao completar 
seus 16 anos"

Naquele momento uma lágrima que não pude conter acabou escorrendo pelo meu rosto. Tomei coragem e abri o tal envelope, eu reconheci as letras logo de cara, era dele... Em um flash veio se passando as lembranças com ele, os bons e maus momentos, lembrei de sua risada e lembrei também do motivo de ter escondido aquele envelope ao invés de jogá-lo fora. Tinha a intenção de esquecer daquele envelope.

Eram as letras do meu amigo, talvez um melhor amigo, crescemos juntos e um sentimento nasceu, além de amizade, ele foi meu primeiro amor... O garoto que eu achava que ia ser o único amado por mim, até ele me magoar muito me abandonando. Ele me deu aquela carta dias antes de completar quatorze anos e eu guardei pra abrir no meu décimo sexto aniversário se ele tivesse junto de mim, mas um mês depois de meu aniversário de quatorze anos ele partiu, foi embora pra alguma outra cidade ou país, ele não se despediu, não me preparou para sua partida e muito menos mandou notícias depois disso, eu com raiva e chorando muito resolvi esconder a carta para nunca mais encontrá-la, ou quando encontrasse ele teria voltado e estaria comigo. Por que não joguei fora? Acho que porque tinha esperança que um dia ele voltaria para mim.

Comecei a ler a tal carta e nela havia escrito:

"Olá minha querida Lorena, talvez quando abrir isso eu deva estar longe e você brava por ter ido sem me despedir, mas tem muitas coisas que você não sabe... Primeiramente quero te desejar parabéns por esses aniversários que passaram e eu não pude estar contigo, peço-lhes também desculpas por isso e espero que me perdoe, pois a culpa de eu ter saído do país não foi minha, e sim decisão de minha mãe. Como você sabe, após a separação de meus pais eu fiquei perdido, ter de escolher com qual morar e essas coisas chatas, minha mãe precisava de dinheiro para sustentar a casa sem meu pai. Ela conseguiu uma proposta de emprego em outro país e tivemos que partir, eu sabia que não iria conseguir me despedir, pois eu te amo e não ia suportar dizer adeus, decidi não manter contato, quero que viva sua vida sem se preocupar comigo, viva como se nunca tivesse me conhecido.

Obrigada por tudo!

Com carinho de seu amigo,
Vizinho, parceiro, irmão
e amor, Erik!"

Inevitavelmente minhas lágrimas caíram borrando aquele papel, eu não sabia o que sentir naquele momento, não sei se raiva ou tristeza eram os sentimentos certos, mas de uma coisa eu sei, com certeza eu estava arrependida por ter encontrado aquilo, ou melhor, por ter aberto. Eu poderia simplesmente ter ignorado aquele papel, maldita curiosidade...

Aquela carta não tinha nada que ter aparecido logo agora quando tudo ficou bem, pela primeira vez, depois de muito tempo segui em frente e me sinto feliz com Eduardo.

— Lorena, você não vem comer? — Gritou minha mãe à beira da escada.

— Já tô indo, mãe — gritei em resposta.

Com tudo aquilo acontecendo eu havia esquecido completamente que minha mãe estava a me esperar na cozinha para comer. Levantei de onde estava ainda com a carta na mão, encarei o papel por alguns segundos pensando no que fazer com ele, não dava pra pensar muito naquele momento, então coloquei debaixo do meu travesseiro.

Enxuguei minhas lágrimas olhando para meu reflexo no espelho, joguei meu cabelo para frente e fiz um coque frouxo, voltei a olhar para mim, dessa vez coloquei um sorriso no rosto, não queria que minha família percebesse que eu havia chorado.

Depois de comer, subi acompanhada por minha mãe, naquele momento deixei tudo aquilo de lado e foquei em terminar de fazer as malas, essa viagem seria incrível e não era meu passado que iria estragar meu momento com Eduardo!

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