Capítulo 20

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Eduardo narrando

Nova Iorque… eu ainda estou sem acreditar que estarei indo para lá daqui algumas horas. Peguei a chave do carro de meu pai que estava na bancada ao lado do sofá, joguei-a para cima e apanhei-a ao cair com um sorriso confiante imaginando a tão sonhada viagem.

— Mãe, Pai, estou indo para casa de Lorena — Aumentei o tom de voz, para que eles pudessem escutar de qualquer lugar da casa.

Não esperei resposta deles, apenas saí rumo ao meu destino. Ao chegar lá, fui atendido pelo senhor Zimmer, ele me acolheu com um sorriso de orelha a orelha seguido por um aperto de mão. Por incrível que pareça eu estava com saudades de Lorena, havia visto ela no dia anterior, mas parecia que havia sido há um século atrás. Perguntei por ela enquanto adentrava a casa, sua mãe, que vinha da cozinha, respondeu que estava em seu quarto se preparando para ir.

Sem pensar duas vezes, fui em direção a escada e quando menos esperava fui barrado pelo Senhor Zimmer abaixo dela.

— Aonde você pensa que vai? — Perguntou ele — Lá em cima é área restrita a você. 

O homem de meia idade falou com expressão séria. Eu entendo o lado dele, mas eu só ia ver Lorena, nada além disso aconteceria. Respeitei o que ele falou e aos poucos fui me distanciando da escada. Esperei no sofá e minutos depois o homem e a mulher desceram trazendo grandes malas pretas, ofereci ajuda para guardá-las no carro e eles balançaram a cabeça concordando.

Estava pondo a última mala preta no carro quando vi Lorena abrindo a porta para sair, ela trazia consigo mais malas, dessa vez coloridas, uma tinha cor esverdeada e a menor era rosa magenta. Fui cumprimentá-la, ela me abraçou e desviou quando tentei beijá-la, não entendo o motivo, mas aceitei. 

Não pensei muito nisso, pois logo a senhora Zimmer chamou minha atenção ao perguntar a que horas pretendemos partir rumo ao aeroporto. Eu então, logo disse para todos entrarem no carro, comecei a conduzir o veículo, isso me deu tempo para pensar sobre Lorena não parecer muito bem e me perguntar se ela queria realmente fazer essa viagem.

Depois de esperar duas horas no aeroporto, finalmente conseguimos embarcar. No avião, Lorena foi na janela e eu fui na poltrona ao seu lado, ela encarava o horizonte pensativa, como se somente seu corpo estivesse ali. Vi a mão dela descansando sobre o braço da cadeira e devagar a minha foi ao seu encontro, quando ela sentiu um leve toque, logo se assustou como se voltasse para terra.

— Está tudo bem? — Perguntei.

Em resposta, ela fez que sim ao balançar a cabeça acompanhado de um sorriso forçado. Percebi que a mesma não queria conversar, então coloquei meus fones e escolhi uma música. Ao tocar Snow crystal 185 bpm, comecei a lembrar do tempo em que eu saia com meus amigos para festas, de quando a gente virava a noite em barzinho, até mesmo do carnaval, a época do ano em que passávamos quase uma semana farreando.

Fiquei me perguntando porquê eu havia deixado tudo isso por uma garota, comecei a refletir se valeu mesmo a pena. Lorena se aninhou em meu peito, puxou o lado esquerdo do fone e pediu pra ouvir algo junto comigo. Ao colocar um lado do fone em seu ouvido, a garota me olhou sorrindo, pegou em meu queixo e o conduziu até seus lábios, voltou ao meu peito e ali tive a certeza de que, sim, valeu muito a pena ter escolhido ela e eu faria tudo de novo se fosse necessário.

A viagem foi tranquila e ao chegarmos no hotel fomos até a recepção buscar as chaves das suítes reservadas, as mesmas estavam localizadas no 22° andar e uma ao lado da outra. Queria ter pego um quarto junto de Lorena, mas os adultos não concordaram, eu já esperava essa reação deles.

Cada família foi para uma suíte, eu escolhi o quarto onde levava à uma varanda, entrei para conhecer o local. Deixei minhas malas em um canto do quarto e fui até a varanda admirar a vista, o sol estava se pondo entre os enormes prédios, respirei fundo de olhos fechados, sorri, mas ao olhar para o lado avistei Lorena do outro lado da sacada com a cabeça baixa meio abatida e uma expressão surpresa tomou conta de mim.

Lorena narrando: 

A viagem tinha tudo pra ser incrível, passamos por lugares que eu nunca tive a oportunidade de conhecer e compartilhar momentos como esse com pessoas que amamos é ótimo, confesso que ao embarcar no avião fiquei um pouco tensa por nunca ter voado antes, porém gostei muito.

Eu estava feliz com tudo aquilo, mas algo em mim não deixava transparecer minha alegria, eu mal consegui sorrir direito e me entreter com todas aquelas maravilhas, me sentia presa em meus pensamentos, ou melhor, presa em um pensamento específico: aquela carta, toda informação que por muito tempo eu interpretei de uma forma diferente, tudo se resumia a uma pessoa em que eu gostaria de saber como estava.

Eu não sabia onde aquele menino estava, nem se algum dia tornaria a vê-lo de novo, passei o voo todo imaginando que há algum tempo atrás Erik entrou num avião e foi pra longe, sem dar satisfação, sem olhar pra trás. Se eu soubesse que naquele dia seria a última vez que o veria teria sido diferente, com certeza teria uma despedida melhor, ou eu com a mentalidade que tinha, ia entrar escondida no porta malas e viajar junto com ele, assim pelo menos eu saberia onde ele estaria.

Levei todos esses pensamentos comigo, tanto no vôo, quanto no hotel enquanto admirava aquela vista maravilhosa de pôr do sol, com o céu meio rosa e aqueles grandes prédios, talvez se estivesse um andar abaixo não conseguiria ter o privilégio de viver aquele momento, ao pensar nisso me deixei levar pela emoção e meus olhos desabaram em lágrimas sem minha percepção.

De cabeça baixa e olhos fechados, ouvi uma voz chamando por meu nome, estranhei pois havia trancado a porta logo após entrar, olhei para o lado direito e lá estava Eduardo, numa outra sacada:

— O que aconteceu? Está tudo bem? — perguntou preocupado — quer que eu vá ai te fazer companhia? ou a gente pode dar uma volta pra conhecer melhor o lugar, se quiser.

— Eu estou bem, não se preocupe com isso, só fiquei emocionada com essa vista — preciso ficar um pouco sozinha para organizar as ideias, ainda não caiu a ficha que estamos em "New York" juntos… Isso é tão...

— Perfeito? — Completou ele — Também não acredito ainda… é assim, eu vou te deixar só por um tempinho, mas só se me prometer que vamos dar uma volta à noite.

— Claro, afinal viemos pra cá pra curtir nosso tempo juntos — Forcei um sorriso convincente.

Me despedi dele, entrei no quarto e deitei, agarrei um travesseiro e chorei até adormecer.

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