Nada seria menos inesperado do que a pessoa ideal pra contar toda minha história dramática de filme adolescente com os Way estar colocando uma garrafa de cerveja trincando de gelada em minhas mãos, me olhando com muito menos curiosidade e mais preocupação nos olhos como uma mãe colocando o filho no berço.
Ok, talvez eu esteja realmente afetado com isso tudo. Não é pra tanto.
– Bebe esse negócio e desembucha, anão.
Fiz uma careta proposital ao meu amigo pelo contraste do que rolava na minha cabeça com a real reação dele mas estava rindo quando levei o líquido aos meus lábios, parando só pra fazer um grunhido de satisfação quando senti o gelado descendo garganta abaixo. Porém parei enquanto refletia sobre o quê contar e como… Mas era óbvio. Começar do começo.
– Bem… – Cruzei uma perna sobre a outra e apoiei a mão que segurava a garrafa sobre elas. – Sim, conheço. Eu estudava com ele na… A gente estudou junto a vida toda, basicamente.
– Ele quem?
– Uhm, Michael… Éramos da mesma sala, até.
– Certo, continua.– A gente era muito próximo, nós três. O Gee acabava se metendo em briga na escola por minha causa várias vezes, porque eu ia defender o Mikes de uns caras mais velhos e não conseguia aguentar a porrada depois, aí ele chegava e via o irmão chorando e eu apanhando e… Essas merdas.
Bert estava com uma única sobrancelha levantada e manteve a mesma expressão enquanto dobrava uma das pernas em cima do sofá, numa posição inversa a minha pra que ele pudesse ficar com o tronco virado em minha direção enquanto eu falava. Aproveitei sua movimentação pra tomar outro gole de cerveja.
– Foi assim a vida toda. Não lembro bem quando foi que nos conhecemos, a gente morava perto… Quer dizer, minha mãe ainda mora há umas cinco, seis quadras daqui, não sei se sabe dessa parte. – Ele arregalou os olhos e levantou as duas sobrancelhas, fazendo que não com a cabeça com um deboche específico que ele tinha quando se sentia ofendido de não saber de algo importante. – É… Inclusive era aqui que estava enfiado nos últimos anos. Voltei pra casa dela. Não consegui o trampo em Nova York e não me dei bem lá, enfim, esse não é o ponto.
– Você vai ter muito o que me atualizar pelo visto.
– É, eu... Tô me sentindo um merda desde que pisei aqui. To vendo que sou uma bosta de amigo pra todo mundo.
– Você não é um merda, mas deixa seu draminha tradicional de lado e conta mais dessa novela aí, anda.
Revirei os olhos e tomei outro gole de cerveja antes de prosseguir. Sabia que Bert fazia questão dos detalhes então não adiantava resumir demais a história.
– Então… A gente voltava andando da escola junto todo dia, às vezes eles iam lá em casa, às vezes eu ficava aqui pro almoço e acabava ficando o dia todo… Quer dizer, na época era só uma casa normal, né… É o mesmo endereço mas acho que não tem nada da antiga casa nesse terreno.
– Dizem que tem, mas isso não interessa agora Frank boneca. – Bert me chamou daquele jeito de propósito e eu soube na hora que era mais uma provocação pra me fazer contar logo as "partes interessantes".
– Qual é? Quer que eu conte a história toda ou não? Deixa eu seguir uma linha de raciocínio! – Precisei ignorar um “Aham” e umas risadas pra não me perder e continuar. – A gente ficava muito tempo jogando RPG, videogames, inclusive fazendo música…
– Os três? – Robert pareceu surpreso de repente e eu me perdi mesmo assim.
– Sim… Os três.
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Party Poison
FanfictionAlguns anos após ter terminado a faculdade de música Frank recebeu um convite de um amigo de infância, um amigo querido do qual não tinha notícia já há algum tempo, porém ao chegar na festa se deparou com uma lista interminável de coisas inesperadas...