Slide up the faders when the cabinet slams

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Eu obviamente não tomei o conteúdo daquela taça, o brinde valeu e houveram vários outros como aquele durante a festa mas fiz questão de ter refrigerante ou água no copo quando ocorreram os outros. Tentei ao máximo não pensar naquele assunto, embora fosse difícil não ficar matutando possibilidades do que estaria rolando toda vez que via ele ali, às vezes bêbado, às vezes parecendo drogado, às vezes me notando nas proximidades e um vazio arrebatador tomando seus olhos – o mesmo vazio dolorido e confuso que vi no quarto – segundos antes de ser coberto por uma raiva e remorso que me fazia sentir minúsculo e culpado mesmo sem entender o que a merda estava acontecendo.

Houve um determinado momento onde uma equipe de algum site ou revista importante passou tirando fotos e acabei saindo em uma foto com Bert. Quando notei que a entrevistadora sabia meu nome fiquei preocupado, mas aparentemente eu fiquei conhecido ali somente como "amigo de infância de Bert McCracken", o que era uma distorção curiosa do que havia aparecido no Twitter e a realidade mas que definitivamente era menos pior do que ter meu nome associado aos Way de uma hora pra outra... Eu definitivamente não queria parecer mais um social-climber qualquer daquela festa, isso era a única coisa da qual tive certeza desde que tive tempo de prestar atenção nas pessoas.

Não muito tempo depois desse ocorrido a música parou e todas as caixas de som da casa começaram a reproduzir a voz de Mikey chamando quem pudesse e conseguisse para a área da piscina pois eles iriam fazer os anúncios prometidos.

Durante o discurso feito de uma varanda do primeiro andar com microfones, eu tive certeza de que Michael é perdidamente apaixonado por Kristin e ela por ele desde que eles se conheceram. Era lindo de se ver, e a energia positiva daquele público mostrava que todos ou os apoiavam ou ao menos os respeitavam pra caramba. Então ele desviou o assunto para Arthur e sua comic antes de dar os detalhes do casamento e ali tive certeza que se alguém segurou e apoiou alguém, foram aqueles irmãos. Arthur estava completamente louco do que quer que fosse dessa vez, mas sorria largo com as palavras do irmão e não o interrompeu ou fez merda alguma enquanto ele falava. Até que ele falou bem quando estava com o microfone na mão embora algumas palavras enroladas e gaguejos, mas a preferência dos convidados por ele se mostrou bem óbvia e até meio assustadora quando, com o anúncio da série feita com base em seu quadrinho – que descobri agora se chamar The Umbrella Academy, e filho da puta, eu realmente já havia ouvido falar sobre –, os gritos e assobios ficaram ensurdecedores.

Admito que naquele momento eu fiquei um tanto emocionado em ver onde eles dois chegaram. Onde antes ocupava aquela culpa de não saber direito o que houve nos últimos anos que estive distante, agora só existia o mais puro orgulho. Naquele momento, os assistindo receber gritos e sorrisos e tudo mais daquela multidão puramente feliz e compartilhando do brilho no olho que eu imagino que eu mesmo carregava, eu não me importei mais se estava preocupado com as migalhas de informação que havia recebido ou com as feridas em meu rosto, pois nada passava de consequências... Pareceu valer a pena, só por estar presente ali.

Mas as coisas não poderiam ser só rosas até o final, né?

Quando o barulho se acalmou e a atenção voltou-se a Michael e Kristin, anunciaram que o casamento seria em um cruzeiro em fevereiro e houveram algumas brincadeiras no meio da platéia, dizendo "Só não façam um escorpiano!" e "Desse casório eu quero ser padrinho!" que geraram risos e olhares curiosos ao redor. Inclusive um olhar curioso de Arthur para o irmão que pareceu acusador, mas talvez eu só tenha percebido por os conhecer bem. O ato seguinte de Michael só comprovou aquilo, pois ele resolveu anunciar que já tinham escolhido os padrinhos e madrinhas a dedo e todos já haviam confirmado presença, indagou se queriam conhecê-los e após uma resposta positiva do público, começou a chamar um por um para subir na varanda...

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