Caleb Lima
Corri atrás do garoto ruivo que há poucos minutos acendera um cigarro, quando a luz do sol iluminou parte do seu rosto eu me lembrei de exatamente de onde o conheço: Hot.
Ele e eu nunca conversamos muito (raramente nos víamos) porque nossos horários são diferentes, vagamente me lembro de tê-lo visto dirigindo uma moto perto do local onde trabalhava.
— Ei!
Meu grito o fez se assustar, não sei se me reconheceu ou não, mas ele correu. Ganhou um impulso antes mesmo que eu percebesse, os semáforos pareciam estar ao seu favor. Uma onda de adrenalina assumiu meu corpo e eu também comecei a correr, nos primeiros minutos ele estava a metros de mim, meus pulmões pediam arrego, estavam em chamas já que parei de caminhar. Ele parou em uma árvore por um instante quando viu que ainda o seguia voltou a correr, não tive tempo de parar eu queria agarrá-lo. Quando estava a alguns passos dele o vi tropeçar e cair na calçada fazendo com que seu supercilio arranhar e sair gotículas de sangue. O agarrei pela gola da camisa.
— O que você quer?! —Seu grito desperta ainda mais a atenção de todos ao nosso redor.
Percebi que estávamos chamando mais atenção que o necessário, o arrastei ignorando sua resistência para um beco sem saída que ficava perto de um dos restaurantes daquela rua, o cheiro de fritura misturado com peixe e leite azedo me fazia querer vomitar. Encostei-me a parede e falei em um tom calmo:
— O que estava fazendo com aquele homem?
Silêncio. Percebi que prendia meu braço no pescoço dele, seu rosto em segundos tomou uma coloração avermelhada e desesperada. O deixei respirar e tornei a perguntar.
— Não... Sei o que está falando... O que você quer?
— Olavo Cart... Por que... O que estava dando a ele?
— Uma... Peça de roupa.
— Por quê?
— Ele gosta disso, é uma coisa idiota porque quando transamos semana passada ele disse que quando eu desse uma gozada com ele em outro dia eu desse a cueca a ele...
Parei de escutar quando ele falou em transar na semana passada, acho que meu coração deu um solavanco muito forte porque minhas pernas me abandonaram naquele momento. Eu caí perto de uma caçamba de lixo e o garoto ficou imóvel na parede.
— Você não... Eu conheço você.
Deixei que ele falasse. Do Hot, ele disse e ficou falando e falando como se eu tivesse de fato prestando atenção. Ao me levantar do chão eu saí daquele beco sem falar nada e fui em direção a meu alvo. Acho que nunca senti essa raiva acumulada, todos nós temos um lado obscuro que mantemos trancado a sete chaves, mas às vezes é necessário soltá-lo e agora é esse momento. Entrei sem bater, ele estava tomado um vinho tinto lendo alguma coisa, a primeira coisa que fiz foi falar seu nome com o tom mais ácido que consegui.
Vê-lo me chamar de meu amor foi a coisa que mais me doeu, como pude deixar ele me ter tão facilmente? Como pude me entregar a alguém tão estúpido?
— O que está fazendo aqui?
— Eu vim acabar com algo que nunca devia ter começado. Essa coisa. —Apontei para mim e para ele em seguida — Que temos não pode continuar.
Seu olhar congelou em mim por segundos que pareceram uma eternidade, seus lábios estalando foi o único barulho que cortou aquele silêncio sufocante logo em seguida ele se levantou e veio até mim com calma, meus pensamentos me acalmaram, mas isso foi antes dele me dar um tapa. Sua mão esquerda foi diretamente na bochecha, minha cabeça virou com o impacto e ficou a ardência e um sentimento de impotência. Quando tornei a olhar seus olhos eles estavam nublados de raiva, ele estava possesso.
— Você. Não. Vai. Terminar. Nada.
Sua fala pausada foi ácida. Fez o medo passear pelo meu corpo em segundos, começo a pensar se foi uma boa ideia ter vindo aqui de cabeça quente. Não há nada mais assustador do que o medo e a raiva juntos, pode se ter resultados permanentes.
— Eu sei o que você faz... Com aquelas roupas que guarda. Você é louco.
Chamá-lo de louco o deixou ainda mais raivoso, se não tivesse se controlado quando levantara a mão eu teria recebido outra tapa. Sua respiração ficou irregular. Voltou a me olhar, um arrepio subiu minha nuca.
— Para você saber... Aquelas coisas são minhas e apenas minhas. Eu guardo aquilo porque gosto e você não tem nada haver com isso, sabe por quê? Eu não faço sexo só com você Caleb, existem dezenas... Centenas de outros.
— Então porque se deu o trabalho de me conquistar?— Perguntei com a voz embargada pelo choro que prendia. Me negava a chorar na frente dele.
— Às vezes precisamos de desafios nas nossas vidas e você foi o meu prêmio.
— Não sou o troféu de ninguém!
— É o meu troféu e nada, nem ninguém vai te tirar dessa posição.
— Você é louco.
Sua risada foi a coisa mais sinistra que ouvi. Foi agonizante, foi aterrorizante. Olhei para trás, a porta está a alguns passos de mim e ele também.
— Acabamos por aqui.
Falei por fim antes de sair. Ao sentir o vento do crepúsculo eu respirei aliviado, forcei meus dedos a pararem de tremer e minhas pernas a saírem de perto daquela casa que agora se tornara uma visão de medo para mim.
Abracei a mim mesmo enquanto andava pelas ruas, nunca braços me foram tão confortáveis até que me dei conta que... eu mesmo estou me abraçando, eu mesmo estou me consolando e isso é mais do que bom.Não ir para casa. Isso era o que eu pensava enquanto passeava pelas ruas já iluminada pelos postes, o número de pessoas ia diminuindo, eu pensava mais e mais em Olavo. Meu celular tocou duas vezes, o número era desconhecido então não atendi. Quando cheguei em um bairro estranho eu voltei o meu caminho, dobrei algumas ruas e então estava em uma praça. Ouvindo apenas os grilos e buzinas na rodovia.
O celular tornou a tocar, resolvi atender.
— Onde você está?
Meu coração gelou ao ouvir aquela voz que soou tão ríspida e cortante, achei que não ouviria novamente.
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Minha Perdição | Série Irmãos Laurent-(Livro 2) (Romance Gay)
RomanceKevin Laurent é dono da empresa K.L.C., para melhorar seus negócios ele aceita se casar com a filha de um dos empresários mais renomados do exterior. Caleb Lima é um jovem que sofre muito preconceito por ser garoto de programa e gay. Já fez sexo div...