- Fico muito feliz que tenha se curado, Gabriel! – A entonação de Anne sempre a mesma, cuidadosa e calma. Sempre que pode ela vem me visitar, mas no fundo sei que ela quer mesmo ver como estou, se estou indo a escola e me alimentando bem. Essa manifestação de afeto aumentou depois que fui diagnosticado com a LLA.
- E sua mãe esta em casa?- Pergunta mudando o semblante.
-Saiu com o Mario de novo. – não precisei dizer nada a mais, Anne entendia completamente minha situação ali naquela casa. Ao ouvir a palavra "saiu", ela atravessa rapidamente a soleira da porta.
Em suas visitas ocorrentes na ausência de minha mãe, Anne me ajudava a cuidar da casa. Claro que não tinha obrigação nenhuma com isso, no entanto ela sempre fazia questão.
Meu tratamento foi rápido, três meses de cansativos exames, quimioterapias e transfusões de sangue. O Doutor Carlos Fontes que acompanhou essa jornada inesperada disse na ultima consulta, a qual deu o resultado final, que era raro um tratamento curar algo como a LLA tão rapidamente. O motivo para estar feliz eu possuía, mas não faria a menor diferença. No fundo eu não queria a cura, apenas queria partir.
Estou na cozinha com Anne, que está assando um bolo. Ouço a porta bater. Ela chegou, e pelas risadas não está sozinha. Mario.
- O que faz na minha casa? - Monica esganiçou, pelo seu andar cambaleante, está evidente algo que já é rotineiro aqui. Está bêbada. Mario observa tudo com aquele sorriso nojento.
-Vim ver o Gabriel. E ajudar a arrumar esta casa. Monica, isso não pode continuar assim! – Anne cruza os braços e olha nos olhos de Monica.
-Já disse que do meu filho e casa cuido eu. Pensei que fosse clara desde que mamãe morreu que não queria ter contato com nenhuma de vocês, só sabem me dizer o que fazer e como viver!- Monica vacila e se apoia numa cadeira a sua frente.
-Olha só seu estado, Monica... - Anne se interrompe, provavelmente lembrou que eu ainda estava ali. – Eu volto outra hora, Gabriel – ela então sai da cozinha sem olhar para Anne, antes de chegar a porta encara seriamente o rosto desprezível de Mario.
- essa porcaria esta queimando!- Ela diz olhando em direção ao forno, no qual acabara de ser ligado. Nem ao menos se da o trabalho de olhar-me. Monica se vira para Mario e com um sinal de mão o chama para o quarto no andar de cima. Ele a acompanha e ao passar pela porta da cozinha par por segundos e fica me encarando, sustentando aquele sorriso nojento no rosto. "Vem logo!" ela o chamou da escada. Nada podia fazer a não ser ficar encarando-o.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Memórias de um ESQUECIDO
Teen FictionQuerido diário, me chamo Gabriel. Vim lhe contar o motivo que me trouxe aqui até você. SINTO que as pessoas não são dignas de palavras de desabafo e ressentimento, não por não serem especiais ao ponto de ouvir tais dizeres, mas pelo motivo de...