Pequena Fissura

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  O trajeto foi um tanto silencioso, o destino? O meu! As ruas coloridas horas antes, não passavam de grandes trechos cinzas e se vida. Madame Anne se depositou em um pensamento absoluto e reflexivo. Seria eu o alvo desse pontiagudos e mortais pensamentos? Talvez.
  Lá fora, ao lado do carro, passava as estradas que levavam à grande imensidão lar dos felizes, dos amados e dos intocados... As estradas da liberdade.
    O resto po percurso, não houve ruido algum, tirando as gotas suicidas de chuva que caiam sem do na janela do carro. De tempos em tempo madame Anne me espiava, certamente para ver se minha quietação seria perigosa. Me entrego a completos devaneios, saindo desses quando o breque do carro me trouxe de volta.
   Ao sair do carro me senti perfurado pelas gotas que vinham sem piedade. Mesmo a distância sendo pequena do carro a porta de entrada, minhas roupas ficaram encharcadas.
     Lembro que não poderia ficar molhado nem mais um segundo, trazia comigo meu simplório celular, ja sem utilidade para mim. Tiro-o rapidamente das vestes antes que molha-se. Subo pelas escadas de dois lances e entro no meu quarto. Deposito o meu celular descuidadamente na mesa ainda com as luzes apagadas.        Ouço então um "baque", o som ruidoso de algo caindo no chão. Ascendo as luzes apressadamente, não foi o celular que caíra, e sim algo que no momento eu achava muito mais valioso, meu diário.
    Ajoelho me para pega - lo e vejo uma pequena fissura em sua capa frontal a baixo da fivela que o prende. Uma mistura de raiva e dor me banham nesse momento. Meu único amigo agora ferido.  Bem a frente de mim, o reflexo do espelho parecia zombar da cena. Aquele olhar sórdido e sarcástico me contemplando através do vidro.
   Um fio gelado escorre pelo meu antebraço e vejo que a água estava molhando a finas paginas.
  Coloco ele na mesa e corro ao guarda roupa, abro-o, puxo minhas roupas, e me despido.

    -Escreva! Escreva!
 
  Me vestindo sou surpreendido por tais palavras, era uma voz quase semelhante a minha, no entanto suave e com tom etérea. Passo a camisa pelo pescoço e me viro. Porta, janela, ainda fechadas, seria minha imaginação ainda agitada pelas terríveis lembranças no consultório, me pregando uma peça? Talvez.
 
   Depois de me vestir, levanto para ir almoçar. E vejo um longo fio negro que descia ela minha mesa. A tinta na qual escrevo no diário estava virada, a caneta estava apontada para o diário, e esse no qual, estava com a fivela solta.
  Aproximo me lentamente para limpar, mas de repente a porta abre.
   - Gabriel querido o almoço esta pron... Madame Anne para de falar.-. O que houve?  
  Quando percebo minha mãos ainda se permaneceram no ar a cima do pode derramado, dando a ligueira impressão de que eu a derrubou.
   
   - A. A.. Tinta.. E. Ela. Virou.- Gaguejo ao falar. Meu rosto ferveu, sinto uma falsa impressão de estar tremendo.
  - Sem problemas querido. Venha comer, eu limpo isso.
 
Saio sem olha-la nos olhos, algo estava muito estranho, sentia medo de que o problema fosse a mim. Sera que eu estou ficando louco? Talvez.
    
     Durante a refeição, madame Anne não parava de me observar. Não era um olhar de julgo, mas sim um de completa compaixão.
   Nesse momento, uma pontada no peito me trouxe uma incontestável certeza. Ela me trata comi uma mãe de verdade trata seu filho. Um cuidado que nunca tive antes. Me sentia culpado de não responder esse afeto, pelo contrário apenas me mantive afastado dela. Como seria boa poder chama-la de...
  - MÃE!
  sem pensar essa palavra sai se minha boca, foi como uma bala perdida, que acabava de ser atingido. O silêncio se perpetuou pela mesa. Ela me olhou fixadamente, vi sem dúvida alguma, seus olhos se encherem de lágrimas.

  - Desculpas, eu não qu...

  - Gabriel que isso querido, não tem problema algum em me chamar de mãe. Realmente me sinto grata.
  
    Em anos, nunca ouvira palavras assim. Palavras que vieram acompanhadas com um lindo sorriso.
   

Memórias de um ESQUECIDOOnde histórias criam vida. Descubra agora