O Homem de branco

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Frio, entorpecido, nauseante, abalado e perdido. Sinto tudo ao mesmo tempo, estou na cama, há um pano úmido na minha cabeça, um ventilador sopra em minha direção então vejo que estou sem minha camisa. Ouço vinda do corredor a voz de um homem, uma voz familiar, que me traz paz e certo desconforto. A voz se aproxima, ele esta vindo para cá. Não quero que ele me veja assim, levanto rapidamente. Pego minha camisa que esta a meu lado e me visto. Ele entra. Madame Anne vem atrás. Maurício, com aquele olhar sereno. Sinto que terei de falar. Mas não tenho a mínima vontade de fazê-lo.

-Como está se sentindo, querido? - Anne pergunta. Meu coração pula, esperava que ele fosse o primeiro a dizer algo. Esse não é o trabalho dele, dizer palavras gentis e bonitas, mas sem fundamento algum?

É sufocante ser obrigado a responder, me esforço o máximo que posso. E enfim digo. "não sei".

­- Deixe comigo! - Fala O homem de branco ao ver os olhos marejados de Madame Anne. Ela leva à mão a boca. Estaria ela engolindo o choro? Talvez.

Essa é a primeira vez que ele vem aqui, entra aqui. Dentro de mim uma sensação de medo cresce sem parar, não confio nele a esse ponto de entrar tão fundo assim em minha vida. Ele está de pé, apenas e olhando, pavorosamente Mario vem a minha mente. Minha respiração se altera. Sinto-me sufocado, preso, enclausurado dentro de mim.

O homem de branco puxa uma cadeira e se senta ao lado da cama. Da minha cama!

-Gabriel... - Ele começa - este ataque de ansiedade, não acontecia há meses. Tem algo que você viu ou se recordou que pode ter causado isso? Desde nossos últimos encontros, você não está contando o que está sentido, isso é algo essencial para que eu poça ajuda-lo, Gabriel.

Até o jeito em que ele fala comigo parece ter mudado, minha mente revira em pensamentos nos quais não identifico. Levanto e pego de cima da mesa meu diário, folheio as últimas páginas escritas e enjôo, as palavras de morte não estavam mais lá. E em seu lugar se encontra minha letra e de alguma forma eu escrevi o que de fato aconteceu momentos antes do meu ataque. Caminho até o homem de branco e entrego o diário aberto na página certa para que ele possa ler.

Menos de cinco minutos depois vejo- fechar o livro, colocá-lo sobre a beirada da minha cama e sai porta a fora. Consigo ouvir a voz de Madame Anne do outro lado da porta, o Homem de Branco a contava algo, seu tom sério e direto entregava-o. Será que eu tenho salvação?
Talvez!

Ouço passos, a porta se abre e para minha surpresa, Anne que adentra o quarto. Trazia consigo uma jarra de água e um copo. Ela colocá-los ao meu lado no criado mudo. E senta-se na cama. Seu olhar maternal que tanto aquece minha alma me trás de volta o fôlego que a horas não sentia. 

Seu olhar dizia tantas palavras que um complexo livro não teria capacidade de dizer.
 

    - Maurício me contou o que está escrito no diário. - Meu coração salta - Disse que você o viu... Querido... Mario está morto... Há meses, ele e sua...- As palavras travam em sua garganta. Vejo seus olhos marejam. É evidente que Anne está aguentando toda a dor por minha causa. Ela quer parecer forte perante a mim. E eu também quero isso, ver sua força me deixa com vontade de continuar.
Continuar a viver.

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⏰ Última atualização: Dec 15, 2022 ⏰

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