1

195 29 25
                                    


Dia 2

Pietro pediu para que eu não o chamasse de 'Sr. Bianchi' e disse que eu poderia chamá-lo apenas de 'vovô' como eu fazia quando me referia a minha avó, mas nunca ao meu verdadeiro avô.

Imaginei que vovó ficaria muito feliz se eu fizesse, mas ainda era um pouco rápido demais pra mim sendo meu segundo dia na Itália. Mas quando ele me pediu para que eu ficasse em sua casa não pude recusar.

À noite ele me contou sobre ter um filho adotivo, poucos anos mais novo que eu, que vivia na cidade vizinha com a esposa e a filha pequena. E era em seu quarto que eu ficaria até me estabilizar e arrumar um lugar definitivo para ficar.

Vernazza era um lugar extremamente tranquilo, bem diferente de New Jersey ou New York. Todos na pequena cidade pareciam se conhecer e logo notaram um rosto novo entre ruas de as casinhas coloridas que cercavam a pequena marina.

Antes de chegarmos à tradicional cantina, onde Pietro era o proprietário, percebi um dos pescadores que estavam na marina vindo falar com Pietro, que sorria animado colocando uma mão no meu ombro acenando com a outra para o homem.

Quando este se aproximou percebi ser bons anos mais novo que Pietro mas o sorriso era igualmente cativante e eu me perguntava mentalmente por que os italianos eram todos tão encantadores.

"Anthony, esse é meu neto. Ele se chama Gerard" O tal Anthony estendeu sua mão para apertar a minha depois de guardar no bolso da calça pesada as luvas que tinham algumas escamas de peixe.

"Como vai, meu jovem?" Seu inglês era bonito mesmo carregado de sotaque "É neto de Helena?"

"Sim" Pietro me olhou sorrindo como se suas histórias com vovó fossem famosas naquela cidadezinha " E eu vou bem, Senhor"

"Por favor, não me chame de Senhor. Eu e seu avô somos como família. De onde vem?"

"New Jersey. Mas eu morei os últimos anos em New York" Os olhos do pescador se arregalaram e ele logo sorriu animado.

"Acho que ele se daria bem com Frankie. Não acha Anthony?"

Eu não sabia quem era o tal de Frankie mas os dois pareciam concordar que eu me daria bem com ele. Se ele tivesse um daqueles sorrisos simpáticos e agradável não seria tão difícil.

Não demorou para que os dois se despedissem e Pietro voltasse a me mostrar a cidade pelo caminho até o nosso destino. Tudo naquele lugar parecia trazer um calor agradável e acolhedor.

Assim que chegamos à cantina, Pietro me apresentou a cozinha onde eu trabalharia a partir do próximo dia e o grande livro de receitas escrito à mão, onde pude perceber a letra da minha avó aparecer vez ou outra nas folhas mais antigas.

Muitas das receitas eram vegetarianas ou veganas mas a maior parte eram com peixes, o que eu já esperava de um lugar com tantas tradições mantidas ao longo dos séculos, como a pescaria e os vinhos.

Voltamos pra casa depois de deixar o restaurante pronto para o próximo dia de trabalho, limpando todas as mesas e cadeiras, e Pietro decidir qual das centenas de receitas daquele livro ele me mostraria como preparar naquela noite.

Era bem mais divertido voltar pra casa andando e sentindo a brisa fresca fazendo meus fios balançarem do que em um táxi no trânsito caótico de New York. Eu poderia fazer isso pelo resto da minha vida.

Vovó tinha toda razão em dizer todas aquelas coisas maravilhosas sobre Vernazza. Eu me apaixonei de imediato por aquele lugar e me encontrava cada momento mais apaixonado por tudo que havia ali.

Quando chegamos em casa, Pietro me informou que eu teria que chegar no restaurante ao amanhecer por ser o dia de repor o estoque de peixes e Anthony costumava entregá-los o mais fresco possível e o agradeci mentalmente por já conhecer o responsável pela entrega.

Tudo estava indo perfeitamente bem e aquela noite sonhei que vovó andava pelas ruas estreitas e antigas de Vernazza comigo e Pietro.  

le forme dell'amoreOnde histórias criam vida. Descubra agora