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Dia 71

Conversamos com Pietro alguns dias atras sobre as cartas de Donna e hoje a noite ele voltaria para Vernazza com Michael e Kristin, para que Frank e eu voássemos para Jersey.

Donna pagou pelas nossas passagens e todos os dias eu assistia Frank conversar com ela ao telefone, mas quando chegava minha vez de falar, todas as palavras pareciam sumir e minha garganta secava. Ela não parecia num um pouco chateada com isso, afinal, eu disse que a visitaria antes dela oferecer pagar pelas passagens.

Agora Frank e eu estávamos feito duas baratas tontas no aeroporto lotado sem saber exatamente onde deveríamos ir. As instruções foram nada úteis. Esquerda. Direita. Segunda direita. Esquerda. Terceira esquerda. Então penúltimo guichê. Chegamos. Chegamos? Não, não chegamos. Mais uma vez perdidos.

Minhas mãos suavam e a mochila no meu ombro escorregava por causa do peso, Frank ria da minha situação vez ou outra, mas eu tenho absoluta certeza que no fundo também está nervoso. O aperto de sua mão na minha era tão forte que fazia seus músculos terem leves espasmos, suando tanto quanto a minha.

Quando finalmente o logo da empresa aérea apareceu em meio ao mundo de outras empresas de todo o mundo eu quase me ajoelhei no meio da multidão para agradecer. Corremos um pouco, talvez bastante, antes de nos atrasarmos para o voo e só consegui respirar propriamente quando as bagagens foram despachadas e me sentei no acento ao lado de Frank.

Frank dividia os fones de ouvido comigo e cantava baixinho, folheando um livrinho sobre alguma causa social que tinha por ali, parecendo muito mais interessado do que qualquer outra pessoa que tentava fazer o mesmo. E eu só pensava em poder dormir um pouco, me poupar de sentir todo aquele nervosismo e parar de pensar no pior.

Chegaríamos em New Jersey pela manhã e não tenho certeza se deveria agradecer pelas longas horas de vôo, antes de rever minha mãe, ou ficar irritado por não conseguir pregar os olhos em momento nenhum por causa da ansiedade.

"Hey, Frankie" Sussurrei em seu ouvido, tentando fazer com que despertasse, falhando miseravelmente "Frankie"

"Que foi?" Ele nem se deu trabalho de abrir os olhos.

"Eu não consigo dormir"

"E?" Bufei, finalmente conseguindo chamar a sua atenção e o fazendo abrir os olhos "Tudo bem. Você só ta nervoso"

"Lógico que eu to nervoso" Disse, um pouco alto demais, ganhando um 'shhhh' de um dos passageiros "Shhh você"

Frank riu, com os olhos ainda sonolentos e destravou os nossos cintos, puxando minha mão e me guiando pelos corredores apertados do avião. A aeromoça fez uma cara não muito contente quando entramos no banheiro juntos. A mesma aeromoça que serviu o jantar mais cedo e acariciou minha mão com a sua tentando ser discreta, mas não o suficiente.

Me apoiei em uma das paredes e Frank molhava o rosto para despertar. Conversamos um pouco sobre o que fazer ao chegar, onde eu levaria Frank pra conhecer e onde ele queria ir. Falamos sobre mamãe e Helena, como Linda e Anthony surtaram, de forma positiva, quando anunciamos a viagem, Pietro e Michael, Michael e eu, aventuras heterossexuais de Frank no ensino médio e como a garota que dizia ser apaixonada por ele surtou quando o viu beijar um garoto. Basicamente, conversamos sobre tudo.

Ao sair da cabine, quase duas horas depois, a aeromoça ainda estava parada no mesmo lugar, agora com os braços cruzados e uma expressão de raiva. Escorreguei minha mão para dentro do bolso traseiro da jeans de Frank, ganhando não só um dos seus melhores sorrisos como também um revirar de olhos da mulher.

O vôo foi bem mais tranquilo depois da minha conversa com Frankie, ele voltou a dormir, dessa vez com uma mão apoiada na minha coxa, fazendo um carinho quase automático e resolvi assistir um filme qualquer em italiano. Meu italiano já havia se tornado impecável e eu adorava me gabar por causa disso.

le forme dell'amoreOnde histórias criam vida. Descubra agora