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Dia 15

O restaurante ficava cada vez mais cheio aos finais de semana, Pietro disse ser época de lua de mel, o que eu não entendi muito bem. As pessoas se casam em uma época específica todos os anos? Os casais eram sempre muito frequentes, com italiano carregado de sotaque de diversos lugares do mundo. A cena de Pietro falando sobre amor para duas pessoas apaixonadas era mágica.

Por sorte, Frank me ajudava na cozinha enquanto eu sorria para cada um dos casais que entravam ou saiam da cantina. Frank não parecia se incomodar de trabalhar enquanto eu fazia basicamente nada, mas talvez a conversa mais cedo com Pietro tenha tido uma pequena influência. Vovô ainda não sabia sobre eu e Frank, seja lá o que tenha entre nós dois, mas ele sabia da nossa amizade e pediu para que o baixinho me levasse pra caminhar um pouco mais pela cidade e conhecer novos lugares.

Óbvio que Frank chegou na cozinha com um enorme sorriso no rosto e só depois de muitos pequenos beijos ele me contou a novidade. O período da noite seria só nosso e não haveria horário pra abrir amanhã.

Mas eu ainda queria poder ser com Frank como os casais na cantina eram. Andar de mãos dadas, o polegar brincando sobre a bochecha suja de comida, abraços espontâneos, quando nós dois éramos mais do tipo rir de besteiras e beijos simples que terminam em sexo. E eu nem mesmo sabia se Frank estava comigo para perder sua virgindade ou ele sentia algo como eu, e essa dúvida me matava cada vez mais em silêncio.

As 17:30 Pietro nos dispensaria e eu encarava o relógio, com seus 'tic tac' irritantes, enquanto Frank terminava a louça hora ou outra me olhando para rir quando eu bufava pro relógio na parede e olhava o do celular para conferir se realmente passou só um minuto quando parecia ter passado duas horas.

"Não vai passar mais rápido porque você tá olhando, Gee"

"Me conte algo novo. Isso eu já percebi"

"Para de olhar que passa mais rápido"

"E o que eu faço então?"

"Me olha lavar a louça" Ele riu, sua risada me contagiando e me fazendo rir junto e morrer de vontade de juntar nossos corpos, mas me limitei em um abraço "Não é tão ruim, é"

"Você é ótimo, babe" Eu disse, antes de beijar seu ombro e então sua nuca "Você fica lindo até com as mãos cheias de sabão"

Sua gargalhada preencheu a cozinha e eu definitivamente estava orgulhoso de conseguir fazer ele rir daquele jeito, mas se o restaurante não estivesse vazio era muito provável que nós dois ganharíamos um esporro. Acabei por me distrair arrumando a cozinha e olhando como Frank era habilidoso com as mãos enquanto lavava a louça, pensando em como aqueles dedos podiam estar me tocando entre as pernas em menos de uma hora.

Eu nunca fui do tipo de pessoa que vive pelo sexo ou um cara romântico mas Frank conseguia despertar os dois extremos em mim. Talvez vovó estive certa sobre a forma mágica que a Italia tinha junto a suas formas estranhas de fazer as pessoas se apaixonarem.

A cada sorriso e risada de Frank enquanto caminhávamos, em direção a onde ele chamava de 'seu lugar especial', meu coração errava uma batida e minhas mãos coçavam para segurar as suas pequenas e tatuadas que ele tanto movimentava enquanto falava sobre como a vista de onde estávamos indo era ainda mais bonita do que onde fomos dias atras. Nenhuma vista podia ser mais bonita do que seu sorriso.

"Feche os olhos" Ele disse, e e logo senti seus dedos cobrirem meus olhos e me guiarem ate um lugar aparentemente alto, como da outra vez, e então paramos "Pode abrir agora, Gee"

Frank estava certo. Aquele, com a maior certeza, era o lugar mais lindo que eu ja estive. Mas eu estava mais certo em dizer que não se comparava ao sorriso do garoto baixinho ao meu lado. Não havia mais nenhuma duvida dentro de mim. Eu estava fodidamente apaixonado por Frank.

"Gee, eu quero te mostrar uma coisa" Ele disse, com um sorriso tímido no rosto. Simplesmente lindo "Eu nunca fiz isso antes na frente de alguém então, por favor, não ri"

Acenei concordando e então ele limpou a garganta nervoso e começou a cantarolar uma melodia. Nos sentamos em um banquinho de madeira em um local mais afastado do Castello Doria, mesmo que pelo horário, estivesse quase totalmente vazio e as poucas pessoas que estavam ali pareciam nem perceber nossa presença. E então Frank começou a cantar.


Remembering you standing quiet in the rain

As I ran to your heart to be near

And we kissed as the sky fell in

Holding you close

How I always held close in your fear


Deus. Frank estava mesmo se declarando pra mim? No mesmo dia que eu percebi que o que eu mais queria era me declarar pra ele. Andar de mãos dadas e gritar para todos poderem ouvir que aquele baixinho ao meu lado era meu namorado.


Remembering you running soft through the night

You were bigger and brighter and wider than snow

And screamed at the make-believe

Screamed at the sky

And you finally found all your courage

To let it all go


É agora. Eu preciso falar. Ele me quer também. É só falar. Eu consigo. Respira, Gerard. 1. 2 . 3. E eu o beijei.

"Frank, eu quero te falar uma coisa" Disse, sorrindo com meus lábios próximos a sua orelha depois de deitar a cabeça em seu ombro e sentir o carinho que seu polegar fazia nas costas da minha mão "Antes de eu vir pra Italia, vovó me disse coisas incríveis sobre Vernazza e como eu iria me apaixonar quando chegasse de todas as formas e eu não entendi muito bem. Logicamente eu me encantei com toda a beleza da marina e esse lindo por do sol e o nascer do sol e-"

"Gerard, respira" Ele sorria. Deus, seu sorriso não me deixava respirar propriamente "Ta tudo bem? Parece que descobriu a resposta para um prêmio de um milhão de dólares"

"Não, eu to bem é só que... agora eu entendi. Eu entendi o que vovó quis dizer com se apaixonar de todas as formas e o que o vovô disse sobre o amor ser inesperado e inevitável e eu acho que-"

"Não ouça essas besteiras que Pietro fala, Gee"

"O que?"

"Ele acha que todos vão viver um dia a historia que ele viveu com Helena. É bobeira"

"Você não acredita?" Meu coração que antes batia tão forte, agora não batia mais.

"É como acreditar em conto de fadas" E ele completou, fazendo eu me sentir um grande idiota "Isso é coisa de criancinhas"

Eu não conseguiria olhar nos olhos dele sem me encontrar prestes a chorar então preferi pedir para que ele me contasse a historia do Castello Doria e o restante da noite foi basicamente Frank falando. Sobre o lugar. Sobre seus sonhos de sair de Vernazza na primeira oportunidade que tivesse. Dessa vez não fui capaz de me incluir nesses planos porque ele já havia deixado obvio que não me incluía. Mas não deixei de sorrir e elogiar sua voz. Doeu ter que me despedir de Frank e recusar passar a noite em sua casa mas algo me dizia ser o certo.

Eu estava apaixonado.

Mas eu me apaixonei sozinho.

le forme dell'amoreOnde histórias criam vida. Descubra agora