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Dia 3

Acordei junto com o nascer do sol com um sorriso despreocupado no rosto enquanto me preparava para meu primeiro dia de trabalho.

Pietro e eu preparamos piadinas vegetarianas recheadas com tomates secos, espinafre e queijo caseiro temperado com alho e manjericão depois de jantar na noite anterior para Anthony e eu termos o que comer antes que a cozinha estivesse aberta.

O caminho parecia ainda mais agradável com o nascer do sol espelhado na água da marina, tornando possível ver somente o contorno dos pescadores perto dos pequenos barcos de pesca.

Ao chegar, coloquei o recipiente com a comida na cozinha, em seguida ouvindo alguém bater na porta dos fundos e gritar algo em italiano que eu não conseguia decifrar o que era. Meu italiano nunca foi perfeito e a dicção daquela pessoa também não era das melhores. 

Mesmo depois de destrancada com a chave, a porta ainda não abria e a pessoa do outro lado dela disse algo, mais uma vez em italiano, que me fez por puro instinto olhar para cima e ver ali uma trinca, por fim podendo ver o sorriso aliviado do garoto baixinho quando me viu enfim conseguir abrir a maldita porta. 

"Desculpe. Eu não sabia"

Ele passou por mim sorrindo tendo cuidado para não esbarrar em nada e derrubar a enorme caixa, com peixes transbordando, que parecia maior e mais pesada que o próprio garoto que carregava.

"Tudo bem"

Seu corpo pingava suor e sua respiração era pesada. Seus braços não pareciam fracos e eram preenchidos por tatuagens e percebi que também tinham algumas no pescoço e dedos, além de dois piercings, um na boca e um no nariz. Ele estava longe de ser parecido com as pessoas que conheci ate agora e eu estava hipnotizado.

"Você é novo aqui?" Ele perguntou, desta vez falando em inglês, me fazendo sair do meu transe.

"Sim. Vou tomar conta da cozinha a partir de hoje"

"Pietro mandou algo pra comer?"

Okay. Talvez ele não fosse tão fácil de conversar como as outras pessoas também.

Peguei uma piadina e entreguei ao garoto que imediatamente abriu para ver do que era o recheio antes de comer, sorrindo e revirando os olhos ao senti o sabor, ao menos ele parecia satisfeito com a comida.

"Isso é maravilhoso" Ele dizia com a boca cheia.

"Obrigado" Sorri, me sentindo orgulhoso de ter feito um bom trabalho seguindo o passo a passo de Pietro.

"Você que fez?"

Acenei positivamente e ele parecia chocado. Era um tanto engraçado ver sua cara espantada enquanto ele ainda falava e comia ao mesmo tempo.

Ele se despediu com um simples 'tchau' andando rápido e indo em direção a marina, sem me dar um aperto de mão ou um sorriso como todos pareciam fazer por ali. Definitivamente ele não era como os outros e aquilo me deixava ainda mais interessado naquele garoto pequeno e tatuado.

Pietro chegou assim que terminei de arrumar a última cadeira no lugar, algumas horas depois do garoto ter ido embora e eu ter organizado toda a cozinha. Ele parecia bem animado e eu não sabia se fazia parte do seu humor em dias normais ou uma coisa boa tinha acontecido, mas decidi que não perguntaria.

Ele me explicou algumas outras coisas sobre os passos de cada receita no cardápio e eu oficialmente comecei meu primeiro dia de trabalho quando a placa dizendo 'Fechado' foi substituída por um 'Aberto' e as pessoas começaram a entrar.

Era fato que nunca me senti em casa em New Jersey e muito menos em New York. Mas nunca achei que o lugar de todas as histórias de amor da minha avó fosse o lugar onde eu finalmente me sentiria bem e poderia chamar de lar.

le forme dell'amoreOnde histórias criam vida. Descubra agora