Born To Die

dezoito

- Dias atrás -
Finalmente era o dia do enterro de Laila. Eren acabou indo junto com sua mãe já que conheciam a mulher e Eren era amigo de ambos os "filhos" dela, ele e sua mãe estavam vestindo de preto. A chuva de primavera caia contra o chão de terra do cemitério deixando-o molhado e com lama.
Mikasa estava longe do pai, mas ainda sim, próxima ao caixão da mãe, a seu lado ela tinha Annie, ambas de mãos dadas de forma escondida, apesar dela ter visto Eren ali, não se manifestou por um segundo se quer, estava tão presa dentro de si que não iria valer a pena uma briga naquele momento.
As cabeças baixas enquanto esperavam a hora do enterro, os amigos e outros familiares presentes ali, a chuva contra o chão de terra e de cimento era o único barulho alto e perceptível a todos.
Dois homens vestidos em uniformes azuis entraram na sala e fecharam o caixão de cor escura, trancaram o mesmo e o carregaram até um carrinho de vermelho sangue que possuía a tinta falha em vários pontos por conta do uso a longo prazo. Todos acompanharam os homens por baixo da chuva forte, enquanto ambos caminhavam de forma lenta, as rodinhas enferrujadas do carrinho faziam barulho enquanto o mesmo era guiado em direção a cova.
O carrinho para e Carla puxa o filho mais para perto de si, todos observam os homens tiraram o caixão do carrinho e abaixarem o mesmo com cordas para dentro da cova recém-escavada.
- Alguém gostar de dizer algumas palavras? - O padre perguntou enquanto a jovem freira segurava um guarda-chuva de cor acinzentada para ambos.
- Ela era mãe - Uma mulher começou enquanto chorava, Eren percebeu que provavelmente ela era alguma parente da parte do pai de Mikasa - Irmã, esposa.... E principalmente mulher.... - Eren voltou seu olhar para a amiga que estava acompanhada de Annie, a mesma permanecia com a cabeça baixa e não chorava, mas seus olhos permaneciam vermelhos e inchados pelo choro recente - Ela com certeza lutou até o último segundo, até o último suspiro.
- Isso é tudo uma merda - Uma voz nova soou em meio as pessoas presentes, todos se voltaram para o homem, que aparentava estar em seus quarenta e poucos anos de idade, o chapéu em sua cabeça, o sobretudo de couro preto e o cigarro em sua boca - Você nem se quer a conhecia Marta, deveria ficar quieta.
- E você? Quem é? - Perguntou a mulher que havia falado antes, as falsas lágrimas em seu rosto haviam secado.
- Kenny Ackerman - Disse em um tom de puro deboche e olhou em volta das pessoas ali presentes - Não vejo meu pirralho por aqui - Resmungou para ninguém em especial. Pirralho? Eren olhou para o homem.
- Está falando do Levi? - Perguntou o castanho em um tom baixo, sem desgrudar de sua mãe, ali, ela era seu escudo.
- Esse mesmo - Afirmou Kenny e pegou o cigarro entre os dedos e soltou a fumaça contra a chuva - Onde ele está?
- Ele desapareceu - Eren segurou um pouco mais forte o casaco da mãe, ele parecia uma criancinha assustada diante do homem - Desde.... - Olhou rapidamente para o caixão e voltou a olhar o homem - Ele simplesmente.... Desapareceu.
- Ah ótimo - O homem soltou um longo suspiro e tragou mais uma vez seu cigarro - Lá se vai mais um mês da minha vida atrás desse pirralho... - Kenny andou entre as pessoas e tirou uma rosa vermelha de dentro de seu sobretudo e a jogou dentro da cova da irmã, por cima do caixão - Adeus Laila.
- Ela nunca falou.... De você - O pai de Mikasa se aproximou de Kenny, o estado do homem era deplorável, a barba por fazer e as roupas de dois dias atrás ainda permaneciam em seu corpo, e o cheiro de cerveja era o pior. Por sorte, Mikasa estava ficando na casa de Annie durante todo aquele processo, já que o pai estava assustadoramente mais agressivo.
- Mas é claro que não - Kenny deu de ombros - Ela queria esconder a família de quem ela era descendente, mas que seja, ela morreu, ela era covarde isso sim.
- Como ousa dizer algo assim!? - O pai de Mikasa gritou e todos presentes observavam a cena absmados. Kenny revirou os olhos e deu as costas para o mesmo, já que para ele, o homem não era de grande ameaça. Pelo canto do olhou o moreno com alguns cabelos brancos olhou para Eren por alguns segundos e então saiu do lugar de vez.
Eren soltou um longo suspiro, mal tinha percebido que esteve prendendo a respiração durante toda aquela confusão.
- Eren - A mãe chamou seu nome em um tom baixo e ele a olhou. Ela estava preocupada com o bem estar físico do filho, ele havia parado de comer e ela sabia disso, as poucas palavras que eram traçadas entre ambos estava ficando cada vez mais raras e ela sabia que se isso continuasse iria perder o filho - Por que ainda não foi atrás dele?
- Por que ele quer ficar sozinho - Respondeu o menor se abraçando a mãe, o cheiro dela definitivamente o lembrava de morangos frescos, tais como os quais eles costumavam comer no jardim enorme de sua antiga casa durante a primavera.
- ... - A mulher nada respondeu e abraçou o filho. Aos poucos, os familiares de Laila iam jogando rosas brancas dentro do caixão. 
O cheiro de cigarro após o som de pneus no asfalto molhado foi sentido pelo jovem, seu coração disparou de forma descontrolada dentro de seu peito e seus olhos procuraram o dono de tal cheiro e som. Era ele. Bem ali a sua frente, carregando uma rosa vermelha assim como seu tio Kenny. 
Levi não olhou para ninguém, apenas jogou a rosa vermelha e começou a se afastar com o cigarro em sua boca. Pelo pouco que suas roupas mostravam, Levi havia tatuagens novas ao longo do pescoço e mais algumas nas mãos, os olhos estavam cobertos por um óculos escuro e Eren sabia que era por conta do choro.
- Por que vermelhas? - Mikasa perguntou ao primo quando o mesmo passou a seu lado para ir embora, apesar de pergunta, ela nem ao menos o olhou.
- Por que eram as favoritas dela - Respondeu com uma voz embargada e silenciosa - Ela odiava as brancas, deveria ter percebido isso quando ela estava viva - Soltou mais uma vez no mesmo tom de voz e se afastou.
Eren se soltou no mesmo segundo da mãe e correu em direção ao moreno que já estava próximo a seu mustang.
- Levi! - Chamou o castanho, o moreno parou de andar e largou o cigarro próximo a roda do mustang, que se apagou de forma rápida já que o asfalto estava molhado, e soltou a fumaça uma última vez. Os cabelos negros molhados grudavam em sua face pálida.
- O que você quer Eren? - Perguntou ríspido. Queria sair logo dali e não ter que passar por um drama com o jovem que tanto amava.
- O que eu... O que eu quero? - Esbravejou Eren e chegou ainda mais perto de Levi, ficando cara a cara com o mesmo - Eu quero respostas.... - Fez uma pausa e suas mãos de levantaram até as bordas do óculos do moreno e os tirou de forma lenta - Mas se.... Se você não puder, eu quero você.
- Isso é pedir demais - Revirou os olhos acinzentados e opacos, era algo que Eren não sabia que poderia acontecer.
- Não - Afirmou - Não é pedir demais....
- Ah pirralho.... - Um pequeno sorriso entristecido surge de forma rápida no rosto de Levi e o mesmo puxa Eren para um beijo. Talvez o último beijo que daria no garoto enquanto estivesse dentro da Flórida - Isso... - Fez uma rápida pausa e deu um longo selinho no castanho - Entre nós dois.... Acabou.
Se afastou de Eren e deixou que o mesmo ficasse com seu óculos, entrou no mustang que rugiu ao ser ligado e acelerou. Eren ficou estático, em completo choque, não sabia o que fazer ou o que falar, não sabia se deveria voltar para o enterro e fingir que nada havia acontecido ou se correria para o carro da mãe e esperaria sentado no asfalto molhando enquanto a chuva o molhava ainda mais. Optou pela segunda opção e correu enquanto chorava de forma desesperada para o carro de sua mãe, não poderia ser verdade, não estava tudo acabado entre os dois.... Não poderia. Poderia?