vinte e oito

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O quarto de hotel parecia muito maior do que realmente era e parecia muito mais sufocante do que quando era pelo início manhã. O que havia acontecido afinal de contas? Estavam afastado um do outro e isso havia acontecido após a pequena discussão que acabaram tendo no almoço, iniciada obviamente pelo jovem de cabelos castanhos.
Levi estava girando as chaves do carro em uma das mãos, enquanto na outra segurava o celular, seus olhos acinzentados pareciam não querer se distrairem com qualquer outra coisa que não fosse Eren. Já o jovem permanecia sentado em na cama forrada com lençóis limpos, aparentemente até em um feriado as camareiras do hotel trabalhavam, em suas mãos o jovem segurava o celular e lia sobre algo completamente desinteressante, mas que naquele momento era muito mais interessante do que ter que falar com Levi sobre o trabalho dele.
- Ok - O moreno jogou o celular em cima da mesa de madeira de forma grosseira e soltou um longo e pesaroso suspiro, olhou para o jovem na cama e segurou as chaves na mão com firmeza - Quer conversar? Ótimo vamos conversar então.
- Não temos nada para conversar - Eren se ajeitou na cama, o tom que Levi havia usado com certeza o assustou - Você não vai me ouvir e vai continuar.
- Eu vou continuar por que eu preciso de um dinheiro fácil Eren, e eu já disse várias vezes para você que ninguém vai me contratar - Girou as chaves na mão sem querer, havia se tornado uma mania terrível.
- Para ir para Los Angeles eu sei - Eren olhou para o moreno de forma acusadora - Mas o que vai fazer lá afinal de contas? Se aqui não consegue o que quer o que você vai encontrar lá?
- Você não entenderia Eren, é algo complexo - Deu de ombros e se forçou para não brigar com o jovem sobre o olhar em sua face.
- Explique, temos dias ainda - Cruzou os braços.
- Como quiser, mas não diga que não avisei - Colocou ambas as mãos em cima da mesa, e observou as chaves, não queria olhar para o jovem - Los Angeles é conhecida como a terra dos anjos, como já diz o nome, era um sonho da minha tia.... Mas acabou se tornando um meu no final das contas, e eu não vou exatamente para Los Angeles! Eu estou indo para Califórnia, claro que vou fazer uma visita a Los Angeles.... E ficar aqui? Deste lado do país? Me poupe Eren - Fez uma pausa e girou as chaves - Este lado só me deu decepção e tristeza.
- Isso não é verdade - Eren se levantou de seu lugar e se aproximou de Levi - Você tem a mim aqui, a mim e a minha mãe.
- Eu disse que não iria entender - Se levantou para manter certa distância do castanho - Eren... Eu a-... amo você, realmente e verdadeiramente - Deu de ombros - Mas infelizmente eu não vou ficar e não vou ser capaz de pedir para você ir comigo para a Califórnia, deixar tudo o que tem aqui.
- Você vai deixar tudo o que tem também, seus amigos, família.... - O jovem tentou mais uma aproximação e mais uma vez, Levi manteve distância - Tem a mim.
- Meus amigos entendem que eu tenha que ir, família? De que família está falando? Mikasa ou o pai dela que eu nem se quer sei quem realmente é? - O moreno se dirigiu para a porta e a abriu - Você seria a única pessoa que me prenderia naquele inferno Eren, mas sei que não vai pedir para que eu fique no final das contas.
- Por que eu não pediria? - O jovem perguntou temendo a resposta do moreno.
- Por que você me ama - Levi saiu pela porta sem dizer muitas informações de onde iria ou quando voltaria. O jovem observou a porta de madeira pintada de branco fechada por longos minutos e percebeu que, a única coisa que restou para ele era ficar ali e esperar, rezar para que Levi voltasse logo para esquecerem aquele assunto.
O castanho pensou sobre o que o moreno havia dito, e no fundo sabia era verdade, não teria coragem de pedir para que Levi ficasse quando o moreno queria apenas ir. Era egoísta de sua parte pedir, mas não era egoísta ir com ele.
E sobre o trabalho dele, Levi havia trabalhado naquilo durante anos e algo ruim só aconteceu quando o jovem entrou em sua vida. Eren soltou um longo suspiro e se deitou novamente na cama, o pensamento de que a vida do moreno havia piorado por conta dele rondou sua mente, mas tratou logo de afasta-lo.
Levi resolveu não sair de carro, queria beber alguma coisa forte, queria ficar bêbado. Seus passos quase não podiam ser ouvidos já que seus pensamentos estavam altos demais em sua mente, balançou a cabeça de forma negativa, as vezes achava que seus pensamentos poderia deixa-lo louco no final das contas.
Entrou em um dos bares próximo ao hotel, para falar a verdade, parecia mais um clube de stripers do que um bar, mas o que importava para o moreno era que tinha bebida. Se sentou em um dos bancos do balcão.
- O que vai querer? - Perguntou o garçom por cima da música clássica de striper club que tocava ao fundo.
- Whisky puro - Disse o moreno e tirou as chaves de dentro do bolso e começou a gira-las em uma das mãos. 
Enquanto o garçom ia pegar seu Whisky, o moreno pode relaxar sua mente por alguns poucos segundos e usou estes para prestar atenção no local em que havia entrado, era escuro e iluminado apenas pelas luzes de neon espalhadas para iluminar de forma fraca tudo o que não fosse perto dos dois pequenos palcos onde duas mulheres dançavam apenas de lingeries, uma de vermelho e a outra de preto, alguns homens estavam espalhados pelo local conversando e alguns deles observando as jovens e jogando notas de vinte no palco para elas dançarem ainda mais para eles. Levi revirou os olhos, não achava elas muito diferentes de prostitutas. O garçom deixou um copo a frente dele e de forma rápida o moreno o virou, o líquido escuro desceu como fogo por sua garganta e ele se perguntou como aquilo ainda pode incômoda-lo quando já se acostumou tanto com a clássica e pura vodka.
Após a quarta dose, Levi já estava bêbado, realmente o Whisky era muito mais forte do que a clássica e amada Vodka, pelo menos para o seu organismo. Ele deixou uma nota de cinquenta dólares em cima do balcão e se levantou e foi para a saída, encostou o corpo do lado de fora do lugar e acendeu um cigarro. 
O céu já estava escuro e ele mal conseguia ver os últimos raios de sol, horas haviam se passado desde que ele fugiu da conversa que precisava ter com o jovem no hotel, segurou o maço entre o dedo indicado e o do meio e soltou a fumaça, se abaixou ainda com as costas contra a parede de cimento azul.
- Me larga! - Uma voz feminina soou alto e Levi obviamente não a reconheceu de forma alguma.
- Ah qual é gostosa - Um homem disse, Levi levantou o olhar e tragou mais uma vez o cigarro.
- Saí daqui! - A jovem de cabelos negros e curtos empurrou o homem para longe, mas o mesmo a segurou pelo braço a puxando para perto - Socorro! - Os olhos da jovem encontraram os de Levi, o moreno apenas tragou mais uma vez seu cigarro.
- Qual é babaca? - O homem chamou por Levi, o moreno revirou os olhos e jogou seu cigarro no asfalto, estava desperdiçando tantos cigarros naqueles tempos.
- Babaca? Quem você pense que é verme? - A voz arrastada pela bebida de Levi fez o homem gargalhar.
- Você - Segurou a jovem com mais força - Você é um bêbado do caralho, um completo babac....
- Calado - O homem não conseguiu terminar sua frase já que Levi havia lhe dado um soco na boca, o homem soltou a garota que correu para Deus sabe onde - Eu não sou um babaca, você é.
- Me poupe - O home virou o rosto sangrando e soou Levi no rosto, infelizmente, o moreno não conseguiu desviar por conta da bebida em seu organismo - Um pirralho como você não sabe nem dar um soco.
- ... - Levi avançou contra o homem fazendo ambos caírem contra o chão, o moreno começou a dar socou raivosos contra o rosto do homem que após receber alguns golpes, empurrou o moreno de cima de si. Levi caiu de contas no chão e demorou um pouco para recuperar o fôlego e se levantar. O homem começou a chuta-lo tomado pelo ódio, mas então ele parou e caiu, o moreno observou o homem cair no chão a seu lado e soltou um longo suspiro de pura dor.
- O que seria de você sem mim - Levi levantou o olhar para seu amado salvador.
- Me pergunto o mesmo pirralho - Levi gargalhou ainda deitado no asfalto - Me ajuda a levantar.
- .... - Eren se aproximou dele e o ajudou a levantar do chão.
- Mas que merda - O moreno olhou para a própria roupa rasgada pela briga - Esse filho de uma puta rasgou minha camiseta! - Se afastou um pouco do jovem e chutou a barriga do homem no chão.
- Vamos embora - Eren começou a puxa-lo para longe do corpo do homem, havia sido difícil no começo, mas Levi acabou cedendo.
- ... - O moreno andava cambaleante pela rua com o castanho a seu lado tentando não deixa-lo cair no chão. Suas costelas doíam, sua boca e seu olho esquerdo doíam, suas mãos doíam, seu coração doia. O silêncio que ambos estavam mantendo estava incomodando Levi, mas ele não iria dizer uma só palavra.
- Está doendo? - Eren perguntou quando estavam próximos ao hotel.
- Sim - Disse apenas e deu de ombros, a dor se espalhou por seu corpo e ele soltou um gemido dolorido.
- Deveriamos ir a um hospital - O jovem alertou e começou a subir as escadas para o segundo andar - Isso parece bem feio.
- Isso não é nada pirralho - Disse Levi com um trisre sorriso em seu rosto - Eu já apanhei muito pior.
- Pior o quanto? - Eren parou em frente a porta do quarto deles e olhou para Levi.
- Pior... Do tipo.... - Pensou por alguns momentos - Ir parar no hospital inconsciente por uma semana.
- U-Uma semana!? 
- Não se surpreenda - Gargalhou ao ver que já era tarde demais para um aviso como aquele - Anda, vamos dormir logo, esse dia está uma merda.

Armin andava de forma alegre pela rua da casa de seu avô, as estrelas no céu já entregavam a noite do final daquele quatro de julho. Seu dia havia sido maravilhoso, havia passado longe de sua família e próximo a Jean, haviam passado o dia nas docas com alguns amigos novos que Jean havia feito naquele curto período de férias.

They say you're a freak when we're having fun
Say you must be high when we're spreading love
But we're just living life and we never stop
We got the world
We got the wo-wo-wo-wo-wo

Armin cantarolava enquanto chegava cada vez mais perto da casa de seu avô, um sorriso enorme continuava a dominar seus lábios e o coração dentro de seu peito batia de forma acelerada, era oficial, Armin estava completamente e loucamente apaixonado por Jean. Como ele podia? Jean com certeza era um grande babaca algumas vezes, mas no fundo, era o seu babaca.
Abriu a porta da velha casa e literalmente pulou para dentro da mesma e encontrou seu avô sentado no sofá da sala, assistindo a um filme de quatro de julho qualquer, as vezes, para Armin, o quatro de julho parecia um feriado religioso com direito a filmes e tudo mais.
- Boa Noite - O loiro disse ao avô que se virou para o mesmo.
- Armin... Pensei que não voltaria aqui hoje - O homem desligou a televisão e se levantou para observar o neto melhor - Não está machucado está?
- Por que eu estaria machucado? - Sorriu de forma boba - Eu tive o melhor dia e a melhor noite da minha vida!
- Fico feliz por isso - Sorriu de forma triste e desviou o olhar do neto.
- O que aconteceu vovô? - Armin se preocupou, algo havia acontecido com o avô?
- Eu não queria que soubesse.... - O homem soltou um longo suspiro pesaroso e se sentou novamente no sofá de couro vermelho - Houve.... Um incêndio na sua casa.... Sua irmã e seu pai estão no hospital, eu não estou lá por que sua mãe resolveu que melhor eu ficar longe.
- O que? Incêndio? Por que ninguém... - Rapidamente o loiro pegou o celular no bolso e viu que haviam trinta chamadas perdidas e várias mensagens da mãe.
- Me desculpe.... - O avô disse triste.
- Não.... Se preocupe - Fez uma breve pausa tentando absorver que aquilo realmente estava acontecendo - Eu.... Trago notícias.
Armin correu para a porta e a abriu, seu dia havia sido perfeito, desde o começo havia sido perfeito, mas havia acabado de forma caótica. O loiro correu rua abaixo até chegar em frente a sua casa, a área estava isolada com uma fita da polícia, as paredes pintadas de negro pelas chamas recentes, as janelas sem os vidros e a porta principal já não existia mais, seus olhos se encheram de lágrimas e ele se permitiu chorar.

Born To DieOnde histórias criam vida. Descubra agora