vinte e dois

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Ele era estranho. Talvez ele fosse um alienígena que foi abandonado na terra por seus companheiros de seu planeta natal. Era o que Armin pensava toda vez que ficava na casa de seus pais.
O jovem loiro de olhos azuis com certeza não se encaixava nada em sua família, a irmã mais velha era uma patricinha de primeira e mesmo com apenas vinte anos, estava grávida do segundo filho. A mãe era uma louca por dinheiro assim como o marido, pai de Armin, que era dono de uma revendedora de carros usados.
Armin era o único "normal" ali, e por isso passava a maior parte do tempo vivendo com o avô que morava na rua de trás a sua, já que os pais não se importavam muito e a irmã só ia atrás dele quando era para cuidar da filha que a garota já tinha.
- Armin - O velho homem chamou pelo neto enquanto caminhava pela casa apoiado a sua fiel bengala de madeira - Armin!?
- O-Oi? - O garoto correu escadas a baixo, e quase tropeçou em alguns dos degraus. O mesmo respirou aliviado quando percebeu que chegou ao andar debaixo vivo e sem nenhum tipo de arranhão.
- Por que não sai com algum amigo? - O homem perguntou e tossiu de forma rouca, os cigarros que fumou durante longos anos não havia sido piedosos na hora que estavam sendo usados e agora o resultado era claro - Estamos no verão e você não pode ficar naquele maldito quarto as férias inteiras.
- Claro que posso - O loiro deu de ombros - Mas o senhor tem razão - Fez uma breve pausa olhando para o velho a sua frente - O problema é que a maioria dos meus amigos viajou.
- E aquele garoto.... - Coçou a nuca tentando se lembrar do nome do amigo de seu neto - Eren?
- Eren está viajando com o namorado - Respondeu o jovem de forma séria e o avô pareceu pensar um pouco no que iria fazer com o jovem neto, já que o mesmo não poderia ficar trancado dentro daquele quarto que mais parecia uma biblioteca.
- Chame alguém para sair - Com a mão livre, mexeu nos bolsos tirando de um deles, uma nota de cem dólares e outra de cinquenta. Entregou ambas ao neto - Não quero ver você dentro daquele quarto quando eu voltar!
- Onde vai? - O loiro perguntou enquanto guardava as notas no bolso de sua bermuda.
- Ao médico - Novamente soltou longas e roucas tossidas - Onde mais um velho como eu iria? - Gargalhou enquanto saia pela porta.
Observou o velho homem sair e se sentou no primeiro degrau da escadaria que havia acabado de descer, olhou para o velho relógio de cucu a sua frente e observou o ponteiro girar enquanto pensava em quem poderia chamar para sair. Uma pessoa se iluminou em sua cabeça.
Está livre? " Enviou a mensagem de forma rápida para o amigo.
Para o meu companheiro nos crimes? Sempre " Jean respondeu rápido, era como se ele estivesse com o celular em mãos no momento.
Meu avô me deu uma grana e ele não quer que eu fique em casa, quer sair para tomar um milk-shake? " Por um motivo desconhecido para si mesmo, Armin estava com seu coração disparado enquanto esperava ansioso a resposta do amigo, que com certeza poderia ser um não.
Te encontro na frente da escola em vinte minutos! " Armin recebeu a mensagem e um enorme sorriso de pura alegria se formou em seu rosto, mal conseguia acreditar no que acabará de fazer!
Ele precisava manter o foco, aquilo não seria um encontro, era só uma saída com um amigo e nada além disso. Seu cérebro sabia que era apenas isso, mas seu coração claramente pensava o contrário.
O loiro finalmente havia chegado em frente a sua escola para esperar pelo amigo. No caminho, havia pensado em como as coisas eram loucas em sua vida. Nunca havia imaginado que algum dia iria se encontrar tão próximo de Jean, já que seus melhores amigos no grupo sempre foram Eren e Mikasa, mas ambos os amigos pareciam mais para lembranças do passado naquele momento, sempre passavam os finais de semana juntos e agora mal olhavam um para o outro, e isso piorava quando o assunto era Mikasa e Eren, definitivamente ambos estavam como cão e gato. Não olhavam um para o outro, não conversavam e se um estava perto o outro resolvia se afastar, e isso estava dando nos nervos do pobre loiro que havia convivido desde a pré escola com ambos.
Olhou para os lados enquanto esperava o amigo, nada. Seu celular vibrou em seu bolso, ele o pegou e olhou o visor, era uma chamada de sua irmã.
O que foi? - O loiro perguntou de forma preocupada, e mesmo que fosse para pedir um favor ele ficava preocupado, afinal, é irmã dele.
Onde você está? - Perguntou de uma forma estranha, aparentemente, ela estava mascando um chiclete - Preciso que cuida de Mia.
Eu não posso agora - Ele soltou um longo suspiro e olhou mais uma vez para os lados, ainda nada do amigo - Eu estou no meio de uma coisa importante.
Importante? Armin o que é mais importante do que sua sobrinha? - A garota perguntou aumentando o tom de voz.
Eu não posso agora - O garoto rapidamente desligou o celular antes que levasse um soco pelo telefone, os hormônios da irmã estavam a flor da pele e ele agradecia todos os dias por estar mora do com o avô e não com um bando de loucos que era sua família.
- Armin! - A voz do amigo soou alta, Armin olhou para os lado e viu o garoto correndo até ele de forma cansada. 
- Você se atrasou - Disse o loiro.
- Desculpa - Disse o garoto enquanto recuperava o fôlego perdido na corrida que havia feito - Minha mãe tentou me fazer escolher entre rosas e margaridas e acredite em mim se eu tivesse ficado mais tempo ia saber até mesmo qual a composição química do pólen das flores - Balançou a cabeça negativamente ao se lembrar do pesadelo que foi tentar sair de sua casa.
- Tudo bem - O loiro sorriu para o amigo - Eu não esperei tanto assim - Era uma meia verdade e uma meia mentira, havia esperado, mas a ligação da irmã ajudou a passar o tempo.
- Então loirinho - Ambos começaram a andar - Onde vamos tomar esse tal milk-shake?
- Hm... - Armin pensou por alguns segundos - Vamos no bom e velho McDonald's, o que acha?
- Pra mim tudo bem - Deu de ombros. Jean estava nervoso por estar saindo com o loiro, sua mente pensava a cada segundo sobre a boca do mesmo e em como seria beija-la ali no meio da rua mesmo, mas seu lado controlado e conservador o controlava de fazer isso, e ele dizia a si mesmo que ainda gostava de Mikasa, mesmo sabendo que isso era uma mentira.
O silêncio entre ambos se instalou de forma nada confortável, ambos queriam falar coisas um para o outro, mas simplesmente não sabiam o que falar, então Jean escolheu o pior assunto que poderia falar naquele momento.
- Então... O Eren realmente foi não é? - Perguntou o moreno já se amaldiçoando por ter tocado no assunto.
- Sim - Armin respondeu e deu de ombros, o loiro realmente estava preocupado com o melhor amigo, afinal, uma viajem com alguém que se ama pode ser algo bem perturbador - Mas acho que com certeza eles vai voltar brigados.
- Certeza? Pensei que vocês dois fossem amigos - Jean estava surpreso com a maldade que a frase soou ao sair da boca de Armin - Armin, você está parecendo comigo, jogando praga para as coisas darem errado.
- Ah não... - Riu de forma nervosa, não queria ter dito desta forma - Eu quero dizer que.... Eu já viajei com a minha família algumas vezes no passado - Deu de ombros e viraram em uma esquina - E, bem, sempre voltávamos brigados, mas depois nos resolviamos e sempre continuamos uma " família feliz " - Fez aspas com as mãos.
- Pensei que seus pais estavam mortos - Jean disse tombando a cabeça levemente para um lado demonstrando confusão.
- Eu falo isso por que não gosto que os conheçam, não tenho vergonha já aviso - Alertou o amigo e empurrou a porta da entrada para o McDonald's - É que.... Eles não são exatamente normais.
- Nenhuma família é normal Armin - Explicou Jean - Minha mãe trabalha fazendo quadros que geralmente nunca vendem e não se esqueça que ela sempre ajuda as amigas grávidas que surgem do esgoto, e meu pai é dono de uma oficina temporariamente clandestina já que daqui a uma semana ele vende e muda de emprego de novo! Acha que isso é normal?
- Perto da minha família isso é completamente normal - Alegou o jovem loiro com um sorriso, não sabia que o amigo vivia em um clima tão aleatório quando aquele, ao ouvir aquilo até pensou que fosse divertido.
- Tá que seu - Deu de ombros enquanto olhava para o cardápio que passava em um telão atrás dos balconistas - Vou querer conhecer sua família então.
- O-O que? - O choque atingiu Armin em cheio. Nem mesmo seus dois melhores amigos haviam conhecido sua família, mesmo tendo noção da existência da mesma.
- Você ouviu senhor mini loiro - O garoto riu da cara que o loiro estava fazendo, mas no fundo sabia que era simplesmente fofa - Pede o seu primeiro.
- Hm? - Perguntou e olhou para a atendente a sua frente e voltou a realidade - Um milk-shake de morango.... - Seu cérebro ainda mal conseguia processar, Jean realmente estava querendo conhecer sua família, o problema começava aí e mesmo se falasse para que agissem o mais normal que pudessem, com toda a  certeza cabeças iriam rolar, como em todo tipo de encontro familiar que tinham. Mais uma vez o celular de Armin tocou, ele olhou rapidamente para o número e ao ver que era sua irmã mais uma vez, desligou o celular.

O veículo negro avançava em meio ao inicio da manhã já ensolarado do primeiro dia das férias de verão do jovem castanho, os vidros abertos deixavam a brisa fria e aconchegante entrar de forma leve, o rápido ligado ficando Roller Coaster da banda Bon Jovi, a letra da música a algum tempo já havia ficado na mente do jovem garoto já que sua mãe amava.

I see you thinking twice
Wish I could read your mind
Move up or out of line
Too late for praying

Olhou para o moreno a seu lado de dirigia de forma plena e completamente relaxada, segurava o volante apenas com uma mão enquanto a outra permanecia em seu colo, não havia motivos para mudar de macha já que estavam em uma estrada.

Hold on tight, slide a little closer
Up so high stars are on our shoulders
Time flies by, don't close your eyes
Kiss by kiss, love is like a thrill ride
What goes up might take us upside down
Life ain't a merry go round
It's a roller coaster 
It's a roller coaster

O garoto cantou um pouco da música junto com o vocalista da banda e olhou para o lado de fora, as casas e planícies iam passando de forma rápida, ao longe ele poderia jurar que via algumas montanhas.
- Vai querer ir hotel ou vamos morar no carro? - Levi perguntou quebrando o silêncio nada incômodo que ambos estavam mantendo.
- Contanto que a gente durma juntos - O castanho corou ao dizer a frase, não era algo de seu feitio dizer coisas do tipo, mas, admitia que estava começando a gostar.
- Quem diria - Levi brincou - Ele tem um lado clichê.
- Você sempre soube que eu tinha - Puxou o moreno para um rápido selinho.
- Você! - Olhou para o garoto e voltou a olhar a estrada, agradecendo aos céus por não ter acertado nenhum carro ou moto - Não tente nos matar!
- Me desculpe - Eren seu de ombros com um sorriso divertido no rosto, ele não se arrependia nada do que havia feito - É que você fica muito gato dirigindo.
- Fico? - Perguntou franzindo as sobrancelhas.
- Fica sim - Gargalhou Eren - Mas sobre sua pergunta, um hotel pode ser melhor.
- Ah sim claro, vou tirar dinheiro do seu.... Nem vou falar nada - Soltou um longo suspiro e se lembrou que, apesar de Nick ter caído ainda sim, haviam outras gangues na cidade e no estado. Trabalho era o que não iria faltar para ele - Que seja um hotel então....
- Levi.... - Eren tentou voltar atrás - Se não der a gente.....
- Pirralho, eu consigo a grana de um hotel em um único serviço - Disse de forma orgulhosa e acelerou um pouco mais, já que um babaca em um caminhão estava próximo demais do mustang.
- Ainda vai continuar com o trabalho mesmo depois de tudo o que aconteceu!? - Perguntou Eren incrédulo, como Levi ousava fazer algo do tipo, voltae a trabalhar com algo que quase matou ambos.
- Me desculpe pirralho, mas é o único serviço que eu consigo grana rápido e não fazem perguntas ou coisas do tipo - Deu de ombros, entendia o medo que o castanho ao seu lado sentia - E eu deixei um aviso claro para esses bastardos malditos.
- ... - Eren estremeceu, ele se lembrava muito bem do que o moreno havia feito com a cabeça de Nick. O garoto soltou um longo suspiro e desistiu de discutir sobre aquele assunto, Levi não iria parar e no fundo o castanho achava que seu aviso havia sido o suficiente para manter qualquer maluco longe do garoto.

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