01 - Purê de Batatas

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ㅡ Eu estou preocupada com o Eric. Ele está sempre sozinho, não faz amizade com ninguém...nunca aceita comer a comida daqui e, na semana passada, quando o perguntei o porque ele não queria comer, ele...bom... A professora puxou uma das mangas da blusa e mostrou uma mancha vermelha que parecia um pouco inchada.

ㅡ O que é isso? ㅡ Perguntou Helena.

ㅡ Sopa quente. ㅡ Afirmou a mulher sentada atrás do birô com uma expressão séria. ㅡ Não é o primeiro incidente com o filho de vocês, e os outros coleguinhas também vivem fazendo reclamações de comportamentos desagradáveis de seu filho.

ㅡ Mas, dona das Dores. A senhora entende a situação dele não é? Ele...

ㅡ Helena... não se trata do transtorno de seu filho. A questão é o descontrole que vocês têm sobre essa...condição. ㅡ Retrucou a mulher de óculos de forma rígida.

ㅡ Aonde quer chegar? ㅡ Perguntou Maurício.

ㅡ Infelizmente, as reclamações são muitas e eu não tenho a estrutura necessária para atender o filho de vocês.

ㅡ Você tá expulsando o Eric? ㅡ Questionou Helena.

ㅡ Senhora, nós não temos condições de lidar com os desvios de seu filho.

ㅡ Desvios? É assim que você chama? ㅡ Ergueu-se Helena da cadeira.

ㅡ Helena, calma! Não é culpa dela! ㅡ Maurício argumenta, tentando acalmá-la.

ㅡ Eu vou processar vocês! ㅡ Helena disse pegando a bolsa e saindo da sala.

ㅡ Isso é uma instituição pública, senhora.

A mulher rebateu e Maurício conteu Helena, levando-a para fora.

ㅡ Isso não é culpa dela, Helena. ㅡ Maurício falava, enquanto caminhavam no corredor em direção a sala de Eric.

ㅡ Também não é culpa dele.

ㅡ O Eric já tem idade de saber se comportar no meio das pessoas, eu já tô cansado de ouvir reclamações.

ㅡ As pessoas precisam entender que ele não é como todo mundo. ㅡ Helena rebateu frustrada, ainda caminhando, dessa vez com mais rapidez.

ㅡ Ninguém tem que entender nada, Helena. O mundo é assim e ele precisa se adaptar. ㅡ O homem disse e Helena o encarou por alguns segundos, até que ele entrasse na pequena sala de aula e chamasse pelo filho.

ㅡ Eric? ㅡ Chamou Maurício, depois de pedir licença.

A professora indicou o menino com os olhos e algumas crianças correram à sua frente, como se indicassem onde estava o menino e saíram rindo entre si.

E Eric era pequeno, magro e branco, e tinha olhos curiosos e concentrados que encaravam os pequenos ladrilhos das altas paredes da sala. Os ladrilhos eram pequenos e nada limpos, o que deixava os dedos do pequeno tremendo. E ele contava os quadradinhos na parede sem se dar conta da realidade ao seu redor.

ㅡ Eric? Vem, filho. Temos que ir pra casa! ㅡ Chamou Maurício, pela segunda vez sen obter resposta. ㅡ Eric? ㅡ Ele chamou novamente.

ㅡ 34, 35, 36...

ㅡ Eric? Vamos embora! ㅡ Maurício falou mais firme.

ㅡ 37, 38, 39...

ㅡ Eric!!! ㅡ Maurício segurou o braço do menino com força e o levou para fora da sala.

ㅡ Eu preciso saber quantos...

ㅡ Não precisa saber nada! ㅡ Maurício disse com raiva, colocando o menino nos braços.

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