26. Memórias

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Guinski só conseguia ouvir gritos e conversas aleatórias, todas de uma só vez, dentro de sua mente. Ele implorava para que parassem de falar, a dor era excruciante e parecia como se estivessem atochando coisas em um lugar outrora cheio.

Sua cabeça não conseguia mais discernir quem ele era de fato, suas lembranças já não eram mais suas e sim dos outros, a conexão foi tão forte que Rëina contorceu-se de dor numa parte reclusa da floresta onde conversava com Glaërd cujo destino também fora o mesmo. Os gritos e uivos dos familiares podiam ser ouvidos à quilômetros de distância.

Sentiu-se sufocado e tentava, inutilmente, respirar, seus pulmões não pareciam estar recebendo oxigênio suficiente para mantê-lo acordado. De uma hora para a outra viu-se debaixo d'água, nadando para cima, num lugar de repleta escuridão.

A força mágica invadiu-o sem pedir permissão, penetrando em sua pele e pensamentos. E de repente... parou. Sons de pássaros e trovões preencheram o vazio, Guinski recobrou os sentidos embora estivesse em um local completamente diferente do Carvalho.


Criador


Guinski viu uma enorme mansão, seus tons variavam muito entre bege e branco, seus jardins eram muito bem cuidados e sua calçada era composta por pequenas pedras entalhadas com símbolos rúnicos. O grupo de Bill reuniu-se em frente aos maciços portões de ferro, o líder estava com um livro em mãos.

Este era branco com manchas vermelhas na capa, Guinski esforçou-se para ver o título e o autor: "A Correnteza Negra" por Harold Beauregard. Bill tomou coragem para tocar o interfone, o objeto tocou por vários minutos antes de ser propriamente atendido.

Pois não? ― Disse o interfone, uma voz masculina os atendeu.

Viemos falar... ― Bill encarou os amigos e Ricky disse, mexendo os lábios "Mente" ― sobre os seus livros, somos alunos da Universidade de Beauclaini, precisamos fazer uma pesquisa sobre as pessoas ilustres da cidade para um projeto cultural...

Ah sim, sim... Podem entrar. ― Interrompeu o dono da casa, o portão de ferro abriu imediatamente.

O grupo seguiu em frente, desconfiados. Guinski os acompanhou, sem pestanejar, seus passos eram guiados pelos do grupo, se tratando de uma memória, ele concluiu não ter liberdade nenhuma sobre onde olhar e andar, afinal esta lembrança não o pertencia.

Adentraram o local, uma Ana jovem apoiou-se no que deveria ser o caubói mais novo. Guinski notou a fisionomia de Bill, ele estava determinado e não carregava o mesmo fardo do velho. James não estava dentre eles.

A sala era espaçosa, os móveis muito caros, parecia que Harold Beauregard gostava de ostentar o luxo. Ouviu passos vindos do andar de cima, o autor desceu a escada em espiral de mármore e foi à sala, com uma caneca de café na mão e manuscritos na outra. Ele não prestou atenção nos convidados, o grupo ficou desnorteado e não sabia como reagir.

Nosso Criador... ― murmurou Ricky animado para Bill, este não compartilhava da mesma emoção.

Guinski conseguiu sentir a euforia mista no grupo, eles estavam encarando o seu Criador com respeito, admiração e medo. Guinski, no entanto, não entendia o motivo para tanto alarde embora o nome "Beauregard" não lhe soasse estranho, já o tinha ouvido em outro lugar.

O escritor, após deixar os manuscritos sobre a mesa de centro marrom escuro, finalmente os encarou. Empurrou os óculos para cima e analisou o grupo. Guinski viu o semblante de um homem cansado e judiado pela vida.

Livro Negro: Antes da TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora