CAPÍTULO 7

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— Asmodeus! – exclamou a doce voz feminina.

Eu estava tão perdido em pensamentos que não a tinha  visto  chegar.

A noviça fechou os portões atrás de si, juntou as mãos e caminhou para perto silenciosamente. Estávamos um ao lado do outro, observando a estátua que agora recebia nome. Eu a olhei por um momento, mas ela não pareceu se dar conta, pois admirava cada centímetro da estranha coisa imóvel entre dois pilares.

Sabia que não era uma freira por causa das roupas que vestia, basicamente uma saia longa que pendia  abaixo dos joelhos e a simples camisa da mesma cor branca. O restante  compunha um  amarrador qualquer, um sútil crucifixo  e sapatos sendo a única parte escura que usava. Significava que ainda não havia feito seus votos sagrados ou estaria vestida no  hábito comum das demais do convento, talvez porque ainda fosse jovem ou porque estivesse em negação.

— Por que alguém construiria algo assim num lugar como esse? – eu perguntei, sem tirar os olhos dela.

A noviça me ignorou por alguns segundos, apenas pensou enquanto observava, foi então que disse:

— Muitos acreditam que Asmodeus foi o imperador do inferno pois ele se alimentava e se fortalecia da avareza. – explicou ela. — É o demônio que trouxe a luxúria para o mundo não espiritual, o tentador e seguidor das falsas profecias. Segundo Enoque seria um dos sete anjos caídos que traíram o  criador.

Assim que acabou de falar eu suspirei me voltando para estátua de Asmodeus. Com três cabeças deformadas ele parecia estar em agonia, como se estivesse prestes a mover seus braços e pernas atrofiadas, diria que se ficassemos por mais tempo alí ele sairia do lugar.

— A madre superiora contava que ele tinha que ser mantido aqui para que não tentasse as pessoas...“Então disse o espírito claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e suas doutrinas de demônios.” Ela pegava esse verso para si e dava algum sentido a ele.

Parei um segundo ao ouvir àquelas palavras. Ela olhou para mim e eu olhei para ela curioso.

— 1° Timóteo capítulo 4 versículo 1. – murmuro.

Nossos olhos se encontraram e ela inocentemente sorriu. As pessoas daqui adotavam filosofias e pareciam querer que os outros soubessem delas. Eu mais do que qualquer um entendia o que ela queria dizer com àquilo. Mas eu ainda não sabia seu nome, não é mesmo?

— Perdão, não fomos apresentados. Henry e você é...?

— Hope! – ela sorriu mais uma vez.

— Hope! – eu repeti sorrindo de volta.

— O que acha de me mostrar o jardim? – sugeri. — Aquele chafariz lá fora me trouxe velhas recordações.

— Seria um prazer, padre. – concordou. — Por aqui!

Me despedi do altar de Asmodeu e segui Hope pelo saguão. Cruzamos alguns corredores mal iluminados, a área de recreação e um tempo depois já estávamos lá fora, andando em passos lentos e ouvindo o barulho da água encher a piscina do chafariz enquanto trocavamos duas ou três palavras.

Hope não era muito de conversar, com certeza jamais se atreveria a puxar assunto por causa da educação  perfeitamente correta que recebe no convento. E o que uma noviça conversaria com um padre se não sobre passagens bíblicas? Eu conhecia muito bem esse tipo de confinamento e sabia no que ele nos transformava. Em pessoas que diziam somente o necessário, quando necessário e quando o motivo era tirar a dúvida de alguém.

Mas não a chamei até aqui para ficarmos a maior parte do tempo juntos em silêncio. Eu precisava saber um pouco sobre ela, de alguma forma  ele me causou esse interesse. Além do quê não havia muitas alternativas para mim, eu não conhecia ninguém em Sevilha que pudesse visitar. Tudo que eu tinha era a noção de que o arcebispo me obrigaria a falar no enterro da morta daqui duas horas. Se eu não me distrair agora depois vou ficar maluco.

— O que a motivou a entrar para o convento? – pergunto, apertando as mãos no bolso da calça.

Ela me analisou um tanto confuso e falou:

— Meus pais. Eles acham que é o melhor para mim.

É claro! “Os pais sempre sabem o que de fato é melhor para os filhos”. A questão é que nunca perguntam antes o que achamos, o que queremos e geralmente nos obrigam a viver vidas que não escolhemos para nós. Seria raro encontrar uma pessoa que não teve o pais envolvidos demais na sua vida.

— É o que quer? – pergunto, esperando que seja sincera e diga que não.

Mas não foi o que Hope respondeu, na verdade ela nem ao menos respondeu, simplesmente se encolheu abraçando a si mesma sem parar de andar, de certa forma o silêncio foi sua resposta.

Eu deixei que ela seguisse em frente. Não era alí que Hope queria estar, igualmente a mim quando  tinha sua idade. Me lembro da sensação que era estar em um lugar que você não queria estar. Eu me sentia preso, como um garoto que foi acometido pela decisão dos pais. As vezes era como se a liberdade inalcançável me observasse de longe, mas com o tempo isso mudou, tudo se tornou mais suportável até eu estar pronto para voltar pra casa.

Por que Hope não pode simplesmente sair por aquele portão e nunca mais voltar? Por que eu não o fiz na época? Se sugerisse isso para ela me acharia um louco. Nenhum padre tenta afastar uma servidora de Deus dele mesmo. Talvez ela seja uma daquelas pessoas que acreditam demais nos planos dele.

— Se não quer estar aqui, por que estar? – eu perguntei alto para que ouvisse.

Hope já tinha ultrapassado o salgueiro quando me ouviu falar. Ela parou, o tempo parou junto e levou minutos para ela se dar conta de que eu estava seriamente perguntando àquilo. Era fácil fazer alguém contestar a si próprio ainda que eu conhecesse muito bem a dificuldade de dar uma resposta que valesse a pena.

— Não nos conhecemos, mas eu garanto que passei por isso e admito que estou onde estou hoje por falta de escolhas mas... – respirei fundo me aproximando.

— O senhor está certo, padre. Não nos conhecemos. Eu nem deveria estar aqui. Com licença.

Hope se despediu deixando-me só perto daquela enorme árvore solitária.

— Que porra aconteceu aqui? – eu me perguntei em um sussurro.

Acho que dessa vez passei dos limites. Que autoridade eu tenho de interrogar uma das noviças do convento? E se ela contar para alguém? Merda, se fizer isso posso fica em uma saia justo diante do arcebispo. O que ele pensará de mim?

Talvez eu esteja exagerando. Hope entende que fiz apenas perguntas. Reflexões! É isso. Não a mal algum em conversar, se a madre superiora não estivesse morta eu estaria com problemas. O que me lembra que tenho que me preparar para o enterro da defunta, depois eu procuro Hope e resolvo o pequeno mal entendido, se é que posso chamar assim.

Eu voltei para o meu quarto no terceiro andar. Quando passei novamente pelo saguão as freiras já organizavam as noviças e o clima não era dos melhores. Eu já estava de saco cheio disso  tudo, de suas caras tristes. Não aguentava mais ouvir a mesma frase de sempre. Deus, eu ficaria louco se não soubesse que amanhã eu iria embora.

ψψψψ

Oi, tudo bem com vocês? Queria dizer que eu estou mas infelizmente não ando muito bem ultimamente.

Bom, mas não vamos falar sobre isso. O capítulo foi bem mais curto hoje,  prometo compensar vocês na próxima postagem. E preciso já que deixei de cumprir com as datas certas.

Espero que tenham gostado da Hope. Qual a primeira impressão dela? Quero que lembrem da Hope, não a esqueçam por favor hehehe. Ela será uma personagem muito importante no final dessa história. 

Se gostaram deixe seus comentários e votos, vale lembrar que é importante pra mim.

Bjs amo vocês<3

O Padre:(+18) COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora