CAPÍTULO 8

13.1K 474 198
                                    

O arcebispo Geoffrey pediu que nos apressassemos com nossas fúnebres despedidas a madre superiora. Não era como se ele estivesse querendo poupar tempo, que afinal no seu lugar eu refletiria bastante sobre o assunto antes que fosse tarde demais. Na verdade ele cuidou de esclarecer que homenagear a defunta de maneira tão rápida e inapropriada é de fato desrespeitoso, segundo o mesmo, ela merecia bem mais que isso.

Embora eu quisesse que tudo àquilo acabasse logo de uma vez por todas, eu entendia que  todos merecemos um último momento só nosso ainda que não seja um dos melhores que já vivemos, ou no caso da madre superiora, estivemos. Creio que não há uma forma correta de descrever o que estou tentando dizer, entretanto acho que sabemos lidar com essas questões genuinamente.

Então o que nos impede de ficar e cumprir com o nosso dever? Bom, para Sevilha e a maior parte do norte da Europa esta época do ano significava apenas duas coisas, chuva ou uma geada incômoda passageira.

O padre de nome difícil de  pronunciar foi o primeiro a alertar sobre os respingos de chuva que começava a cair sobre nossas cabeças, em seguida alguém trouxe dezenas de guarda-chuvas  e entregou um para cada pessoa. E rapidamente freiras, padres e noviças  subiam ao púlpito individualmente, pois estávamos sujeitos a riscos como, gripe,  pneumonia e um forte resfriado de início de inverno. Tudo que eu menos precisava era chegar em casa doente.

Contudo, nem todos tiveram a oportunidade de dizer algo dramático e os que tiveram acabaram tendo que  resumir seu discurso em oitenta e cinco porcento. Parei de prestar atenção quando Hope começou a falar, ou talvez foi quando ela se levantou de sua cadeira e andou até parar frente a nós, diante do púlpito. Mesmo assim eu só conseguia pensar em nosso encontro a uma hora atrás, nas poucas palavras que trocamos e no jeito tenso que nos despedimos, mas mais do que todas esses outros detalhes inoportunos eu não parava de admirá-la. Eu quis que a chuva parasse, por pelo menos um segundo para que sua voz tivesse o espaço só para si, então eu poderia observar seus lábios se moverem e seus olhos abrirem e fecharem em uma fração de segundos escondendo sua bela íris melancólica de tons de azul.

Merda! Eu praguejei no meu interior ao me dar conta de onde meus pensamentos haviam chegado. Que diabos estava acontecendo comigo? Por que raios eu não tirava ela da minha cabeça? Nós nem nos conhecíamos e o pior de tudo era que ela era uma noviça e eu um padre, mesmo que esse título não tenha me impedido de praticar certas atividades ilícitas ultimamente, Hope parecia ser demais. Eu me sentia confuso, como se estivesse ultrapassando os limites.

Porra Henry, que ótimo lugar para pensar insanidades. Não quer ficar de pé e tirar o pau pra fora?

Tudo bem! Tudo que eu tinha que fazer era esvaziar a mente, lembrar que tenho um voo pela manhã e que após este dia Hope seria uma simples lembrança confusa. Geoffrey me perdoaria, mas não me sinto capaz de ficar e dirigir um convento desse porte, jamais.

Quando eu já havia tomado controle de mim mesmo, aguardei atencioso Hope ditar suas últimas palavras e então percebi que só faltava eu entre todos, a última pessoa que diria adeus a Madre Teresa Superiora. No fim, eu só tive que me levantar, arrumar o guarda-chuva para escapar das gotas de água que agora estavam mais insistentes, respirar fundo e fazer o que a maior parte dos que alí presente fizeram, resumir meu adeus, que aliás não foi tão difícil como imaginei.

ψψψψ

Uma hora. Eu suportaria por mais uma hora até poder embarcar no avião e me livrar de toda essa tensão que Sevilha me causou. Minhas malas estavam prontas,  eu só tinha que descê-las e me despedir do arcebispo. Por Deus eu nunca quis tanto que esse velho ficasse vivo por mais dez anos, evitaria qualquer imprevisível volta. Rezarei para que demore a acontecer! 

O Padre:(+18) COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora