CAPÍTULO 21

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Escuro. É só o que vejo. Mas dentro de mim é um véu infinito. Uma película sombria sem cores vivas. Apenas o escuro e nada além disso. Talvez eu goste. Talvez eu faça parte desse insalubre que se agarra nas minhas costas como um parasita. Ou talvez eu só queira fazer parte dele.

O silêncio é abafado. Não há barulhos de veículos lá faro. Nenhum passo hesitante vindo dos cômodos do apartamento. A ventania quente se fora junto com novembro. Na verdade já havia ido nos últimos dias em que o céu não esteve encoberto. Agora um frio abaixo de zero retorna a Sioux Falls até o próximo verão. Há quanto tempo é inverno? Por quanto tempo eu estou suportando eu mesmo? Estou sozinho. E não é a primeira vez e provavelmente não será a última.

Ficar sozinho é tudo que eu menos quero neste final de ano. Eu não vou ficar. Tenho Kate e Oliver agora. E vamos para Chicago amanhã. Fiz as malas. Me despedi da igreja e de todos os conhecidos. Ethan continuará me substituindo. Espero que até o ano que vem. Ele é bom. Não. Não ele não é bom. Ele é melhor. Ethan é perfeito. Nada insano. Ele segue as regras, as cumpri. É determinado e fiel. Fiel a Deus. Por que não seria?

Foda-se, Ethan!

Foda-se a igreja também!

Ah, e não muito menos importante. Foda-se a indulgência.

Eu vou foder muito. Vou foder Kate e Oliver. Vamos trepar tanto que esqueceremos tudo. Completamente tudo. Ninguém mais vai existir, só a gente. Eu irei me embriagar e usar drogas. Ficar chapado. Esquecer tudo de novo. E está pronto para mais.

Por que não agora? Sim! Seria ótimo para mim. A casa de Kate e Oliver não fica a muitas quadras longe daqui. Três ou quatro. Posso chegar lá andando. Mas está frio. E daí? Nada que um agasalho não resolva.

Será que estão dormindo? Que horas são? Deve passar das onze da noite. Com certeza. Se bem que nenhum dos dois se incomodaria em me receber. Não estou cansado o bastante para fechar os olhos e dormir. E aparentemente não há mais nenhuma qualidade específica sobre o que eu não consigo ver com as luzes do quarto apagada. Aliás eu literalmente não vejo nada.

Tá bem. É isso. Eu irei vê-los. Agora mesmo. Não tem nada de mais nisso.

Está tudo bem.

Acendo a luz do abajur. A claridade não é muito mas é o suficiente. Levanto. Procuro pelo interruptor na parede e quando o encontro o quarto volta a ganhar suas cores de novo. A iluminação me cega. Machucam meus olhos mas me adapto imediatamente. Caminho até o guarda-roupas. Vasculho a gaveta de meias, os cabides e a prateleira embaixo. Visto o casaco escolhido por cima da camisa do pijama. Decido continuar usando a calça moletom. Visto as meias e os sapatos.

Posso chamar isso de “caminhada da madrugada". Parece explicativo e incoerente. Dou risadas. Que babaquice. Respiro fundo. Saio do quarto e vou para  sala. Está escuro. Lembro de onde deixei as chaves da porta e as pego sem esbarrar em nada. Saio do apartamento e desço o meu andar pelo elevador. Quando já estou fora do prédio, contemplo o silêncio, que é ainda maior aqui de fora. É meio ensurdecedor. Perturbador. Solitário. Traiçoeiro. Diferente.

Não lembro quando foi a última vez que precisei sair na madrugada.

Evento da igreja?

Não, não. Talvez em alguma procissão. Creio que também não. Se bem que essa é uma questão nada importante. Cubro a cabeça com o capuz e cruzo a rua. Está frio, muito mais do que imaginei que tivesse. A baixa temperatura parece querer dobrar minhas costas ao meio. E minhas mãos estão petrificadas. Consigo ver a espessura branca da minha respiração. Esfrego os punhos um no outro e sopro, na tentativa de acordado-los. Sem sucesso.

Ando por bastante tempo. Minutos. Por ruas silenciosas...e vazias. Espera...Silenciosas? Escondo-me atrás de uma lixeira. Agachado, eu os observo a uma boa distância. Quem são? O que estão fazendo? Forço a visão para tentar ver um deles. Não os conheço, exceto o cara que usa a meia preta encobrindo a cabeça e todo o rosto. Não da pra ver. O mais baixo desce as escadas da igreja e vai até o carro.

Mas que caralho...

Após largar os sacos no porta mals ele se junta aos outros dois novamente. Estão discutindo. A coisa ficou feia, eu acho. Eu deveria ter ido embora. Deveria chamar a polícia, aliás estão assaltando a igreja. Não posso. Não posso porque deixei o celular no apartamento. Tenho que fazer algo. Eles são três e eu apenas um. Estou em desvantagem. Que merda. O que eu acho que sou, um superherói? Que se dane.

Continuo agachado, rezando para que não olhem para cá e me vejam. Podem estar armados.

Ethan.

Ele não deve ter ouvido os barulhos. Ou não deve estar no quartinho dos fundos. E se o pegaram e o amarraram? Que desumano. Quem faria isso com um padre...

Incomodado por um pensamento invasor eu viro de costas, e me sento no chão úmido.

Agora não. Não aqui. Por favor não. Imploro mentalmente, esfregando a cabeça com as mãos. Quem faria isso com um padre? Ele faria. Ele faria...Por que?

Não!

Um novo barulho me distrai. E mais outro, afastando àquela sensação dolorida do meu peito. Entretanto, o barulho me preocupa. Eles me viram aqui. Sim. O que eu faço? Posso correr mais duas quadras e chegar até a casa de Kate e Oliver. Merda. Estou paralisado. Incapaz de me mover. Com medo. Ouço passos rápidos. Fecho os olhos e escuto. Espero.

— Henry?

O quê? Abro os olhos. Eu conhecia àquela voz. De muito tempo. Sabia quem era o seu dono.

— Levy?

Aterrorizado, eu me levanto. Ele não.

— Por que está aqui? — Ele pergunta. Está com raiva e nervoso.

— O que está acontecendo? — Eu não respondo.

— Peguem ele. Dêem o que merece. Tirem sua roupa e o deixem lá — Ele faz um gesto em direção a igreja. —, amarrado. Vamos queimar ele também.

ψψψψ

Primeiramente meus queridos e queridas. Oi! Tudo bem? Como está indo o final de semana de vocês? O meu está razoável.

Bom. Henry está em perigo. E um personagem que eu alertei para alguns de vocês finalmente apareceu. Levy, o pastor do mal está de volta na história.

Enfim, espero que tenham gostado do capítulo. O que acharam? Votem aí babys.

Ah, tenho algo importante a dizer. Eu tinha combinado de postar dois capítulos essa semana inteira. Mas conversei com uma leitora muito querida e resolvi que irei postar nas Terças e Sábados. Ou seja. O Padre agora tem dias de postagem.

É isso. Até terça meus queridos. Bjs:3

O Padre:(+18) COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora