CAPÍTULO 6

17K 595 210
                                    

Subi o lance de escadas em passos ligeiros. Mal via a hora de pegar o primeiro avião para os Estados Unidos. Esse pensamento nunca  mudou desde que pus os pés em Sevilha há quase um dia e meio. O clima áspero da Espanha causava-me náuseas, sem falar nessas centenas de construções antigas para todos os lados, daria tudo para ver algo mais moderno e colorido.

Maldita a hora que aquela madre superiora achou de morrer. Não fosse por esse imprevisto, estaria tomando meu tempo com alguma atividade mais interessante do que um funeral. Tenha santa paciência!

Paro na metade do caminho para recuperar o fôlego me perguntado onde é investido o dinheiro dado a este convento. Não se usa  escadas com tanta frequência hoje em dia! Será que alguém esqueceu de avisar a esses exilados sobre isso?  Quantos lances eu ainda teria que subir até chegar na sala do arcebispo Geoffrey? São mesmo um bando de imbecis. O que eu não daria por elevadores agora.

Ficar parado aqui à espera de um milagre não vai resolver meu problema, volto a subir e num minuto depois estou diante de um corredor tão rústico quanto o resto do lugar. Não há tanta luz como presumi que houvesse, na verdade o convento inteiro é iluminada pela luz que escapa das escassas janelas no formato de retângulos. Imagino que o autor destas construções estivesse tentando manter às freiras bem escondidas do mundo real. Só pode ser isso!

Apóio as mãos na mureta e decido olhar lá em baixo. Passo os olhos pelos adornos cruéis de escadas, eu consegui contar pouco mais de seis, mas a essa altura talvez houvesse mais. É bem aqui, neste exato ponto, que o cino da torre fica, preso por correntes lá em cima, de tudo isso  foi a única coisa que me agradou. Eu até que gosto do barulho que eles costumam fazer, é reconfortante.

Após subir tantos degraus bato a porta do arcebispo. Deveríamos ter falado no momento que cheguei na cidade, mas ele pediu que antes eu me acomodasse em um dos quartos, falariamos a sois mais tarde. Eu espero que o que ele tenha para dizer seja de extrema importância, não entendo como alguém da idade dele pode querer ficar em um lugar tão impossível de chegar.

Ouço ele pedir para eu entrar, toco a maçaneta e abro. Entro na sala. Fecho a porta atrás de mim. O encontro  sentado a sua mesa, forçando a visão através de uma lente. Com o esforço que faz, com certeza mal pôde ler uma palavra sequer. Eu no seu lugar estaria bem longe...Porra! Eu não sou a pessoa certeza para contestar essa questão, além do mais eu ainda estou aqui, não estou?

Aproximo-me, tirando sua atenção. Ele sorri amigavelmente para mim como se me ver fosse tudo que estivesse precisando. Inclinando meu corpo, eu seguro gentilmente sua mão esquerda e selo meus lábios nela, então encaro seus olhos castanhos. Seu rosto castigado pela idade, parece uma ameixa seca esquecida na geladeira há décadas.

— Henry! – ele diz e sua voz sai cansada, mas receptiva. — É bom tê-lo conosco novamente.

Eu não teria tanta certeza disso, penso.

— É mesmo um enorme prazer rever este lugar. – minto, limpando a garganta.

Ergo-me. Passeio o olhar pelas estantes de livros,  todos perfeitamente organizados em prateleiras ornamentadas.

Foi para cá que eu vim quando meu pai me entregou ao arcebispo, não exatamente para este convento. Há o seminário dos padres na cidade, fica perto do mar, eu admito que na época eu adorava aquele lugar, eu podia subir na mais alta torre da construção e observar o por do sol como um lobo solitário que eu era. Eu passei o resto da minha juventude inteira trancafiado entre àquelas paredes de pedras e alvenaria. Não vivi os meus melhores dias, contudo posso afirmar que houve parte deles boas.

— Por que aqui? – perguntei, realmente curioso.

Pelo que eu sabia, até então, homens jamais podiam frequentar o convento, amenos é claro que a madre superiora concedesse permissão. Mas somente para vistantes e normalmente tratava-se de padres, freis, bispos e o restante da convenção dos homens santos. A rigidez para com o confinamento das noviças desde sempre havia sido severa, as freiras faziam questão de se assegurar disso.

O Padre:(+18) COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora