Honey

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Eles chegaram em silêncio ao hotel. Kibum parecia inexpressivo. Enquanto isso, Helena sentia um turbilhão de coisas ao mesmo tempo. Como ele parecia estar tão calmo no meio daquela confusão toda? A noite havia sido um caos e terminara de forma ainda mais confusa. Sentia que havia falado demais, não conseguiria agir normalmente depois de tudo que havia ocorrido. O que iam fazer agora? E se o Daiso chamou a polícia? E o Takamura? Agora era certo que a confusão chegaria até Sonam. E se ambos fossem demitidos ou processados? Eram muitas coisas de uma vez para pensar, e por algum motivo o silêncio ainda permeava entre os dois.

-Kibum, precisamos saber como vamos fazer pra resolver tudo isso - Ela disse, já em frente à porta de seu quarto.

-Isso nós resolvemos depois, eu estou cansado agora. E também não tem muito que se possa fazer de imediato, amanhã penso melhor nisso, vamos ficar bem. - O rapaz se afastou e se dispersou, indo até seu quarto no fim do corredor, e fechou a porta atrás de si, dando boa noite.

"O que diabos deu nele?" Ela ficou pensando, enquanto fechava sua porta. Os dois tinham muito o que pensar. Enquanto se recolhia, Helena tentava processar tudo que acontecera naquela noite. Não muito tempo depois Kibum voltaria, batendo à porta.

-Sou eu. Tá acordada?

Helena ouviu a voz dele abafada do outro lado. Destravou a porta e abriu para o rapaz, que já vestia um pijama de seda verde escuro com os botões de cima abertos, deixando parte do peito à mostra. O cabelo ainda molhado do banho, um perfume fresco vinha dele. A garota parecia desconsertada, ele fingiu não perceber.

-Você disse que ia refazer o curativo.

-Ah sim, claro, entra.

O rapaz atravessou o quarto e sentou-se à beira da cama, despreocupado. Helena apanhou os curativos e sentou-se ao seu lado. Kibum estendeu a mão, um pouco menos inchada, mas agora era visível um pequeno corte onde o impacto fora maior. Ele olhava para as paredes, ignorando a amiga. Ela percebeu o comportamento e seguiu fazendo o curativo.

-Não notei que você se cortou.

-Geralmente acontece se você acerta os dentes em cheio - ele disse friamente, até reclamar do remédio.

-Desculpe. Eu preciso colocar ou vai inflamar.

-Tudo bem.

Helena evitava contato visual enquanto colocava o curativo e gel na mão do rapaz, que por sua vez começou a espiar a amiga sem que ela notasse, mas foi em vão. Ela percebeu, e falou de forma indiferente:

-Pronto. É só  aplicar desse jeito. Pode levar o gel com você e usar se doer à noite.

Ele acenou em silêncio, olhando a própria mão. Mas não se levantou.

-Acho melhor você ir dormir agora, Kibum. - Ela se levantou, recolhendo o algodão. Estava fazendo tudo que podia para evitar o amigo, que parecia se esforçar menos do que ela. -Kibum...

-Você vai ficar bem? - Ele se levantou, olhando Helena nos olhos. Sabia que a moça pedia espaço, mas sentia que precisava ficar.

-Eu vou, eu acho. Não foi fácil contar tudo aquilo pra você hoje... E eu sinceramente estou preocupada sobre como vamos sair dessa.

-Helena, - Kibum se aproximou um pouco da amiga, ainda que hesitante - nós vamos resolver isso, não precisa ficar assim. Esse tipo de confusão é mais comum do que você imagina. O que você não pode é ficar se culpando por coisas que não fez, baseada no julgamento das pessoas.

As palavras pareceram afetar a amiga, que respirou fundo, se contendo. Estava uma pilha de nervos, e mesmo que os motivos parecessem pequenos, não conseguia evitar a ansiedade. A presença dele também lhe afetava. Era torturante ele estar tão perto sem se deixar levar como da última vez.

-Eu realmente não queria ter te envolvido nisso. Tudo teria ficado bem se eu tivesse simplesmente ido embora - Helena sentia a voz embargar. -Foi uma merda imensa. Se aquele verme levar isso até a Sonam...

-Ei, ei, calma - Kibum se aproximou mais e segurou a amiga pelos ombros, meio desconcertado, sem saber como ampará-la - Olha, não precisa ficar desse jeito, entendeu? Ele mereceu, e se fizer birra, só vai piorar a situação dele. Eu vou falar com o Takamura e vamos resolver isso, tá bem?

Kibum dava tapinhas nos ombros da amiga, com a expressão assustada, ao perceber os olhos dela marejando. Como era doloroso vê-la naquele estado, e pensar em como ela deve ter se sentido quando começaram os boatos sobre ela no Japão.

- Merda, eu não sei o que fazer quando você fica mal desse jeito. -Kibum reclamou baixinho, ainda hesitante.

-Só me abraça, seu burro. - Ela respondeu, desobedecendo a própria razão.

Ela puxou o amigo para perto e ele a abraçou. Helena respirou fundo e ele a pressionou um pouco mais contra si, Encostando o rosto no pescoço da amiga, descoberto, os cabelos presos pra cima. Era o mesmo cheiro suave que ele havia sentido no moletom do Toy Story que ele vestiu emprestado, e que por sinal nunca devolveu.

-Vai ficar tudo bem, pirralha. - Ele disse sorrindo, junto à orelha da amiga. - Mas até que você muda de ideia bem rápido pra quem queria que eu saísse logo.

-Porque você é um cretino insistente - Helena disse, a voz abafada no ombro do amigo. Que cheiro bom vinha dele, como era difícil tentar manter distância. Os dois se abraçavam mais apertado, gradativamente.

-Agora além de emo eu sou cretino? - ele riu afastando o tronco, ainda segurando a amiga em seus braços.  Ela fez o mesmo, encarando o amigo.

-Nossa, seu currículo só aumenta! - Ela respondeu sorrindo.

-Mas que belo par de putos brigões nós somos - Ele disse, olhando com o queixo erguido, as covinhas aparecendo no rosto. -Ainda vamos rir muito disso, eu prometo.

-Nós somos um par? -Helena queria ouvir as palavras de novo. Soavam melódicas na voz rouca do rapaz. O amigo retrucou, em tom provocativo:

-O que você quer que a gente seja?

Helena sorriu meio sem jeito, o rosto já enrubrecido, os dois estavam febris. Kibum Inclinou a fronte e encostou a testa na da amiga, sorrindo. Os rostos se encostaram e se encaixaram de leve, como se acariciando, até os lábios se tocarem uma vez, e outra, até Kibum trazer a mão quente até o rosto da amiga, e desferir um beijo mais intenso, e ela segurar sua cintura mais forte. Um arrepio percorreu todo o corpo do rapaz, que puxava os lábios dela com mais força, a fazendo suspirar. Os dois podiam ouvir a respiração um do outro acelerando. Kibum olhou Helena nos olhos mais uma vez.

-Se você quiser que eu fique, eu fico.

-Fica. - Ela respondeu sussurrando. -Não consigo ligar o aquecedor.

Kibum soutou uma risada baixinho, e se beijaram novamente.

5:00 a.m.

O dia começava a clarear mais convidativo, apesar do inverno intenso em Barcelona. A luz ainda fraca entrou pela cortina acordando Helena primeiro, que se virou em direção às costas de Kibum, descobertas. Ele ainda dormia, e a luz banhava sua pele. Ela passeou com os dedos pelas vértebras acariciando a pele cálida e quente do rapaz, cujo peito expandia e relaxava visivelmente, em sono profundo. E se ajeitou de novo na cama abraçando Kibum, que, ainda de olhos fechados, se virou e a envolveu em seus braços. Helena adormeceu novamente, sentindo a respiração do amigo sob seu pescoço.

Mais tarde, quando Helena acordou, Kibum já não estava mais ali. Ela se levantou e chamou pelo amigo, ainda sonolenta, mas não teve resposta, sentiu um peso no peito. Ele havia deixado um bilhete na mesa de cabeceira ao seu lado:

-Desculpe sair assim, meu bem. Precisei pegar o vôo para Tóquio, fui me encontrar com a Sonam. Volta pra casa e espera por mim.

ONE OF THOSE NIGHTSOnde histórias criam vida. Descubra agora