Na semana seguinte, a chegada em Barcelona havia sido tranquila, porém cansativa. Os editores fizeram check-in no hotel e seguiram para seus quartos em silêncio. Helena estava odiando aquilo. Talvez Kibum tivesse seus motivos, mas o que ela havia feito de errado? Também havia a sensação de que, de fato, ele não estava a tratando mal, apenas com menos intimidade do que antes. Será que ele havia ficado envergonhado? E porque isso a incomodava tanto? Helena sentia estar perdendo algo que, de certa forma, ainda não tinha.
Era perto da meia noite quando Kibum ouviu batidas na porta.
-Sunbae, sou eu. Está acordado?
Kibum, apesar de cansado, também não conseguia dormir, mas esperava que a amiga desistisse. Tanto queria acabar com suas desconfianças, mas desde que chegaram evitava ao máximo a oportunidade. "Mas porque diabos eu estou fugindo?" Helena continuava a dar batidinhas na porta.
-Sunbae! Está acordado?
-Agora estou, pirralha. - O rapaz abriu a porta fingindo coçar os olhos.
-Você dorme com a TV ligada?
-Aish! Durmo sim! O que você quer? - Ele sabia que era um péssimo mentiroso.
-Desculpe mesmo incomodar, mas é que..... Eu não consigo ligar o aquecedor.
A amiga estava parada à sua porta, de moletom e pijamas, com fones de ouvido no pescoço e as mãos enfiadas nos bolsos do roupão de seda, dando pulinhos pra se aquecer. Parecia um filhotinho abandonado. Kibum fazia o máximo para manter a compostura, passou alguns segundos olhando para ela até que pudesse reagir.
-Pode me ajudar, por favor?
-Ah, sim claro. Você parece péssima - Ele apanhou mais um casaco no quarto e pôs sobre a amiga. - Tentou pedir ao serviço de quarto?
-Infelizmente o atendente do turno da noite não fala francês nem inglês, só espanhol - Helena explicou enquanto iam até o outro quarto - e meu espanhol é muito, mas muito ruim mesmo.
Kibum não pode evitar e riu um pouco. Helena destravou a porta e os dois entraram. Pouco depois, sem muita dificuldade, o amigo havia conseguido ligar o aparelho.
-Ah, sunbae, muito obrigada! Dizia Helena esfregando as mãos.
-Já disse que pode me chamar de Kibum quando estiver comigo - Os dois haviam parado frente a frente, sem saber exatamente o que fazer. O único som audível era a respiração deles e o aquecedor.
-Obrigada, Kibum. - Disse Helena num tom tímido, retirando o casaco e estendendo ao amigo. A essa altura Kibum já sentia o rosto enrubrecido. O rapaz apanhou o casaco em silêncio, até conseguir fazer as palavras presas na garganta saírem da boca.
-Você estava vendo algum filme? - Ele apontou para o laptop da editora sobre a cama, com a tela ainda acesa.
-Ah, sim, Os 8 Odiados. Quer assistir?
A conversa puxada pelo rapaz deu a Helena um fio de esperança. Ela queria que ele ficasse mais um pouco, não sabia exatamente porquê, mas não gostava da distância que havia se criado entre eles. Ele não tinha como evitá-la a esse ponto. E parecia não querer evitar.
-É, pode ser - Ele riu um pouco. Ambos se ajeitaram como puderam de costas para a cama, sentados no chão, usando almofadas de apoio e arrastando a mesa de centro que havia na suíte. Kibum saiu por cerca de dez minutos, e voltou com algumas cervejas, mais refrigerantes e doces.
-Foi o melhor que consegui na máquina lá embaixo.
-Então, hoje vamos terminar a conversa que começamos? - Helena perguntou enquanto se sentava em frente à tela do laptop. Queria que as coisas voltassem a ser como antes.
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ONE OF THOSE NIGHTS
Hayran KurguA vida reserva encontros especiais quando menos se espera. Helena, editora de arte da revista de Moda DESIRE, conhece seu novo diretor Kim Kibum, um rapaz nada comum de Seul. Juntos eles constroem um vínculo de amizade, que aproxima os universos sol...