cruel.

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pingos de chuva
juraram-me fidelidade
diante da acidez das tuas palavras cruas
e sem cor definida

minha pele agradece
por tudo o que eu não fiz
esperando o arco-íris
suceder a minha dor

gotas, gotas, finas gotas
arranham o céu do meu coração
cortam minhas palavras pela garganta
em profunda sintonia e atenção

a brisa me incentiva a dizer
tudo o que eu não senti
na tentativa de compreender
por que quero tanto a ti

o mar se sente alegre
e pede por mais
enquanto o fogo teme sua presença
diante da ausência de saber amar

as nuvens choram e gritam
mas não sabem onde procurar
a vontade é carregada pela chuva
misturada à frágil fé no inalcançável

os trovões assustam
ensurdecem o espaço ao redor
destroem o menor indício de coragem
restante na festa cósmica do caos

a disputa toma controle
a ilusão se espalha nas trevas noturnas
as sombras me enganam
diante do vai e vem das gotas efêmeras

eu abro os meus olhos
e meus sentidos se esvaem
uma máquina programada
movida por algoritmos do mundo real

desconheço quem sou
perco-me nas ruas do seu coração
pulando de poça em poça
tentando me encontrar

lágrimas rolam e se misturam
ao gosto das gotas vindas do céu
que lavam tudo por onde passam
mas não a minha alma

talvez o arco-íris jamais venha
e a dor nunca vá embora
ela carrega o peso da angústia
é sólida demais para um dia evaporar

talvez nem mesmo o seu amor
seja capaz de restaurar
minha alma está morta
só algum deus para me ajudar

e assim eu espero
espero a realidade florescer
espero a noite enviar estrelas
no cruel universo dos sonhos

a impiedade reina no lindo cantar dos pássaros
nas coisas bonitas que me seguem
no aguardo do instante em que eu
não serei mais eu

não careço de avisos
vejo o medo à solta
a luz não mais se acende
porque a realidade é cruel e
inevitável

talvez o único lugar
de onde não se pode fugir
onde a vividez é jogada fora
e onde nem mesmo o amor é capaz de controlar

gritos de identidade (poesia)Onde histórias criam vida. Descubra agora