peso

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é como se as estrelas
não suportassem o próprio brilho
e cada segundo
fosse um grito de socorro

como se o vácuo
cumprisse seu papel primordial
e cobrisse o Universo
com o manto do vazio

como se a mera existência
estivesse para sempre fadada
ao peso do nada
diante da imensidão do tudo

como se nossa insignificância
refletisse o desejo insaciável
de querer sempre mais
ainda que sejamos simples poeira

mas é na busca pelo inalcançável
que uma breve história
começa a ser contada
do fundo do poço

fora de todas as condições ideais
uma delicada flor aparece
num solo que pouco a apetece
e onde a sua essência escurece

ela cria raízes
e se sente segura na escuridão
teme alcançar a luz
e se permitir viver em meio ao clarão

a flor não fala
a flor não vê
a flor prefere continuar refém
da sombra das paredes do poço

sob a noite constante e implacável
a eterna escuridão se alastra
cria uma rede de complexidade
da qual não se pode fugir

talvez ela não queira fugir
a simplicidade traz beleza
mas a realidade
pressiona como a gravidade

sua fragilidade a queima
e transforma em cinzas
a pequena flor
no vazio da sua existência

na irremediável vontade
de permanecer imutável
a flor não dá um passo sequer
para fora da sua bolha

sob o pavor de emergir
de se mostrar em meio ao caos
e de não aguentar o peso da liberdade
de ser quem é

de ser quem sempre foi

gritos de identidade (poesia)Onde histórias criam vida. Descubra agora