boa noite

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debaixo d'água
eu vejo
o escuro consumir
as minhas dores
e arrastá-las para longe

eu toco o chão
e o frio agarra meus pés
em ritmo silencioso
até as profundezas
da solidão

o ar me deixou
a luz me largou
meu ego se desfez
e se tornou mera poeira
em meio ao caos

e meu sorriso viu
meus sonhos e desejos
escaparem entre meus dedos
sob a força das pequenas ondas
refratadas pela aurora

desorientada
não tenho forças para nadar
talvez não queira sair
é tudo tão fácil
minha alma implora para ir embora

meus olhos se fecham
meus braços não mais se movem
o descanso me convence

debaixo d'água
eu não vejo nada

dói tanto
e não dói nada
nada no mundo me faz
sentir tão serena
tão só

e rumo ao descanso
eu me rendo

me rendo à paz
à estabilidade
e à inexistência

a vida é inconsistência
dilui-se tão facilmente em tudo
cria laços com o mundo
e destrói
toda e qualquer essência

mas é na partida
que a certeza
e solidez se instauram

quebrando
em pedaços
a dor
do existir

sem brecha
sem escape
o frio me abraça
me acolhe
e me faz dormir

boa noite, vida

gritos de identidade (poesia)Onde histórias criam vida. Descubra agora